Atravessada

É tarde.


Para não variar o dia foi pesado e não me parece que as coisas vão mudar nos próximos tempos. Eu gosto, difícil é estar dias seguidos com pouco ou nada que fazer. Mas, porque estou aqui, agora, tão tarde, em vez de buscar o descanso dos meus lençóis?
Culpa de quem andou aqui a blogar hoje, fiquei com ela atravessada. Ainda pensei ir para os comentários e juntar a minha voz a alguns dos protestos esgrimindo argumentos com quem apoia. Mas é demasiado tarde. Quer para comentar, quer em sentido absoluto do meu dia, que já é bem noite. Decidi vir para aqui. Mais visível, mais claro, mais nítido. Sobretudo mais divulgado (espero).

Não é admissível pedir para qualquer ser humano a prisão perpétua, e ainda menos, nem sequer consigo imaginar isso, a pena de morte.

Desculpem estava a ficar mesmo atravessada.

19 comentários:

Teresa disse...

(vim só fumar um cigarro, agora que a Apollo 13 voltou a amarar em paz...)

Já estás desentupido? E a dormir? Tu tem-me cuidado com as atravessadas que não são de fiar...

(admissível eu acho que é, mas concordo contigo, como sabes.)

O Santo disse...

fiquei um nadita melhor. e sim, ja sabia o fim da Apolo, decidi que o dormir era mais vantajoso

shark disse...

Consegues ao menos explicar a tua aversão à prisão perpétua (já que quanto à pena de morte nem precisas de explicar...)?

O Santo disse...

ate consigo mais que isso... mas tem de ser com algum tempo... prometo responder, asap

sem-se-ver disse...

eu consigo



mas depois de almoçar, vale?

O Santo disse...

gada invisivel, mas acho que eu so la pro serao...

sem-se-ver disse...

a gada já almoçou.

ora, shark, porque é muito tempo. a vida toda, já viste? muito tempo.


sabes, shark, eu nao sou crente e nao tive uma educação religiosa, mas ha principios, seja culturais, latu sensu, ou éticos, strictu sensu, pelos quais me sigo - assim fui ensinada - que tocam, ou até incluem, mandamentos como os da misericórdia e piedade. acredito, tenho de acreditar sob pena de me tornar uma cínica - e prefiro ser acusada de ingenuidade que de frieza e maldade -, que há capacidade de regeneração. que não é porque mandas escrever 10.000 xxx com a ortografia correcta uma palavra que a criança errou que ela nao a fixaria com umas meras 20xxx (exemplo, claro). que é inútil prender alguém toda a vida, e desumano até, se a regeneração - que implica o sincero arrependimento e a mudança de formas de pensar e de agir - tiver acontecido enquanto a pena tiver sido cumprida. dir-me-ás que ha psicopatas que, por aquilo que fizeram, pela bestialidade que demonstraram, sao in-regeneráveis. pois talvez. talvez, reparaste? se lhes aplicares a pena de prisao perpétua nao ha 'talvez' que lhes valha, se for o caso de terem mudado.

e as pessoas mudam, shark. para o mal, quantas vezes, mas também para o bem, tantas outras. tu com certeza tiveste defeitos, tal como eu ou qq um, que deixaste de ter. é, pode ser, o caso de um criminoso.

shark, a historia judiciaria esta aí, plena de casos de individuos, as xx os maiores facínoras, que se redimiram. que aprenderam a lição. que repensaram as suas atitudes. que se tornaram, dentro e fora de portas da prisao, em cidadaos exemplares. gente, por exemplo, que se converteu ao catolicismo e foi mundo fora em missão.

shark, temos que ser humanos até para com quem é desumano, sob pena de sermos tão desumanos quanto eles.

nao se trata de desresponsabilizar quem é um ser repelente e merece ser castigado. trata-se de o castigar mas pressupondo que ele, como qualquer ser humano, pode ser bom. pode ser melhor.

sem esse benefício da dúvida, que na minha opinião deve estar realmente institucionalizado no sistema judiciário, como no portugues que nao prevê a pena de morte ou a prisao perpétua, sem ele, não nos distinguiriamos de todas aquelas sociedades e culturas que, ainda hoje, praticam a violência e a crueldade sobre os seus semelhantes á luz das leis que os regem - e cortariamos a mao a um ladrao, e apedrejariamos as mulheres adultas.

nao, nao estou a ser demagogica. estou a colocar, na minha opiniao, as coisas nos seus devidos termos.

para terminar:
nao sendo a pena perpétua, estando o individuo em liberdade no final da que cumpriu, cabe ao Estado velar e zelar pela sua vigilancia apertada, por forma a que, no caso de nao ter havido regeneraçao, se impeça novo crime. e ao bandido ou assassino em questao restara saber que nova pena de prisao o aguardará se algo de mal fizer.

é a questao, a tal questao, de ele nao se sentir impune se praticar o Mal...


(como dará para perceber, estou de férias, daí estes lençois...)

sem-se-ver disse...

*mulheres adúlteras... que as há nao sao adultas, mas também jovens e até velhinhas!! :D

O Santo disse...

e esta quase tudo dito... tirando o facto de eu nao conhecer local nenhum onde sejam apedrejadas as mulheres adultas (como esta escrito)

gaija do norte disse...

e que estado tem capacidade para zelar de forma apertada pelos não regenerados? e o facto de saberem que voltam para a prisão impede-os de reincidir? entretanto destruiram de quem? concordo em muito do que dizes, ssv, mas tenho tantas dúvidas...

gaija do norte disse...

"entretanto destuiram a vida de quem?"

assim é que é...

Teresa disse...

Sem Se Ver, assino por baixo as tuas conclusões

sem-se-ver disse...

oh santo, eu dei pela gralha e corrigi :(( e cheia de chalaça :(((

sem-se-ver disse...

oh querida gaija, mas nao é preferivel ter duvidas do que condenar alguem para toda a vida mesmo que ele se tenha redimido?

nao sei, nao sei... claro que tudo isto é complex, e difícil, mas, gaija, estamos, devemos estar sempre, ao nivel dos princípios. que regem práticas. sao os princípios fundantes da lei e do direito que se devem ter em mente, acho eu...

CybeRider disse...

SSV, que bonito ver-te com tempo para nos deliciares com estas conclusões (aqui como ali abaixo).

De facto parece-me que ao Estado cabe o ditame de decidir sobre o que o indivíduo não consegue. Ao Estado, como entidade suprema da sociedade, cabe decidir sobre a misericórdia, a compaixão, a clausura e o sofrimento de quem infringe. A vítima e seus sequazes (eu, quantas vezes) perde essas noções com facilidade.

Para os descrentes numa fé é ainda mais fácil aceitar essa supremacia. Nada nos nega as opções de acatar a lei ou infringi-la executando o que condenamos nos outros, porém ao Estado não caberá decerto esse papel. Eu não gostaria de viver numa sociedade que o fizesse, porque não acredito na misericórdia de deus, menos no esclarecimento de quem rouba ou mata com um sentido de justiça ou malcadez que me transcendem. O Estado deve ser mais sábio, só assim merecerá o nosso respeito.

Um Estado justo inspira-nos a existência de deus. O que para muitos será a fé de que precisam.

CybeRider disse...

Acrescento no entanto, objectivamente, que me repugna a ideia de libertar alguém ao fim de 25 anos (que nunca o são) sabendo que a regeneração não aconteceu. E aqui concordo que a prisão prepétua seria uma boa alternativa, sempre reconsiderável (porque sempre o é), caso algumas garantias básicas se viessem a verificar.

(É que por vezes o que é "para sempre" deve de facto sê-lo).

Teresa disse...

Cyber isso leva a que a pena, em abstracto, passe a ser pensada em função da pessoa e não do crime. Avalia-se a bondade ou a maldade do indivíduo independentemente do acto que praticou e se representar uma ameaça séria deverá ser encarcerado mesmo até que nunca tenha concretizado qualquer ofensa. Por outro lado o arrependimento profundo e a vontade objectiva de se conformar com as regras poderá até dispensar a pena.

Considerando que esta é uma posição levada, por mim, ao extremo do disparate, por onde passa a linha da sensatez?

CybeRider disse...

E os extremos são uma óptima maneira de nos fazer ver as situações. Tenho por isso que concordar com o que dizes, e aceitar que, ainda que ao fim de 25 anos o criminoso ainda diga que quando dali sair vai dar uma carga de pancada no juíz que o condenou e que não se arrepende mínimamente do que fez, tenha que se lhe abrir as portas e acatar a justiça como ela é, as reclamações virão depois, tudo em bom nome da imparcialidade que será o valor maior. Se isto faz todo o sentido, é a causa que nos leva muitas vezes a reclamar dela.

Teresa disse...

Cyber dificilmente um homem, ao fim de vinte cinco anos na prisão, estará tão fresco, mas tu apontas dois exemplos diferentes - se ameaçar quem quer que seja comete um crime e pode nem chegar a sair, se disser que não se arrependeu esse julgamento terá de ser feito noutras instâncias para o caso de acreditarmos que existem...