Em Maio, foi o Visconde. Espetou com o Padre Borga na minha cabeça e durante uma semana, o Tico e o Teco andaram a pôr a mão na mão do Senhor e sabe Deus o que mais.
Quando pensei que estava curada, veio o Ensaio Geral e o desgraçado do Padre voltou a instalar-se neste cérebro mínimo pelos dedos hábeis do Santo.
Chegados ao Encontro Geral, a Chefa decide que o que é mesmo bom de viver dentro do meu crânio é o "doidas, doidas, doidas andam as galinhas" (não, não perguntem porquê porque eu estou farta de vos dizer que há perguntas para as quais nós não queremos saber a resposta) e eu começo a pensar que esta gente é perigosa e que, de facto, a net é o ponto de encontro de psicopatas.
É que isto das músicas funciona no meu cérebro de forma muito estranha. Ás vezes, parece que se entranha – muitas vezes, só um verso ou um refrão – e passa em repeat, over and over and over again. Sempre foi assim. Há uns anos, ouvia alguma coisa na rádio e começava a desgraça. É que eu não conheço vozes, nem tenho sorte naquela coisa de esperar para ouvir quem é o artista. E a tal da melodia instalava-se no meu cérebro e lá pegava eu na minha querida Fi e adentrava a Valentim de Carvalho do Oeiras Parque e lá lhe implorava que cantasse a música ao empregado (é que eu sou tímida, embora não pareça…). Ele que já nos reconhecia, suportava o sacrifício e apressava-se a reconhecer a música e a colocar-me o cd nas mãos. A última vez que a ‘obriguei’ a isso foi com o cd da Billie Meyers. E estávamos ambas convencidas que quem cantava a música que me fascinava (Kiss the rain) era um homem. Portanto, eu diria que fechámos com chave de ouro o ciclo de actuações na Valentim…
Portanto, acho que é claro que a música se entranha em mim. Eu não percebo nada de música, entenda-se. Além disso, sou dura de ouvido como um penedo. Mas a música transporta-me. Faz-me reviver fases da minha vida. Faz-me sonhar. Faz-me pensar em pessoas que associo àquele trecho em particular. Fica a fazer parte de mim.
É portanto, altamente destabilizante quando uma música ‘entra’ na minha cabeça. Como daquela vez que andei uma semana a cantar o ‘tenho uma lágrima no canto do olho’ e acreditem que esta é a única parte da música que eu conheço. Eu já não me podia ouvir a mim própria.
Anteontem, no entanto, vejo pegarem numa música. Só que desta vez, em vez de a introduzirem na minha cabeça, sinto-a antes a sair das minhas recordações. Sinto o cheiro de mar e de juventude quando relembro os primeiros acordes. Revejo o meu quarto de adolescente e sorrio à jovem sonhadora que lá habitava. Vejo o tempo avançar e sinto o peso do Complete Works of Shakespeare que me acompanhou na faculdade e que tinha uma declaração de amor logo no inicio feita por uma paixão da altura e fico triste por esse livro ter desaparecido. Releio, mentalmente, Virginia Wolfe, Goethe, Schiller, sento-me novamente na Távola Redonda e sonho com um futuro risonho e brilhante. Sinto a menina que fui caminhar a par com a mulher que sou. Reconciliadas e em paz como que cada uma perdoando à outra os erros que cometeram.
Ao fundo, enquanto elas riem baixinho de amores passados, dos sonhos que acalentam agora e contemplam embevecidas o herdeiro das duas, ouve-se a voz do Rui Veloso a empenhar um anel de rubi para apenas concluir que não se pode amar alguém que não ouve a mesma canção…
Quando pensei que estava curada, veio o Ensaio Geral e o desgraçado do Padre voltou a instalar-se neste cérebro mínimo pelos dedos hábeis do Santo.
Chegados ao Encontro Geral, a Chefa decide que o que é mesmo bom de viver dentro do meu crânio é o "doidas, doidas, doidas andam as galinhas" (não, não perguntem porquê porque eu estou farta de vos dizer que há perguntas para as quais nós não queremos saber a resposta) e eu começo a pensar que esta gente é perigosa e que, de facto, a net é o ponto de encontro de psicopatas.
É que isto das músicas funciona no meu cérebro de forma muito estranha. Ás vezes, parece que se entranha – muitas vezes, só um verso ou um refrão – e passa em repeat, over and over and over again. Sempre foi assim. Há uns anos, ouvia alguma coisa na rádio e começava a desgraça. É que eu não conheço vozes, nem tenho sorte naquela coisa de esperar para ouvir quem é o artista. E a tal da melodia instalava-se no meu cérebro e lá pegava eu na minha querida Fi e adentrava a Valentim de Carvalho do Oeiras Parque e lá lhe implorava que cantasse a música ao empregado (é que eu sou tímida, embora não pareça…). Ele que já nos reconhecia, suportava o sacrifício e apressava-se a reconhecer a música e a colocar-me o cd nas mãos. A última vez que a ‘obriguei’ a isso foi com o cd da Billie Meyers. E estávamos ambas convencidas que quem cantava a música que me fascinava (Kiss the rain) era um homem. Portanto, eu diria que fechámos com chave de ouro o ciclo de actuações na Valentim…
Portanto, acho que é claro que a música se entranha em mim. Eu não percebo nada de música, entenda-se. Além disso, sou dura de ouvido como um penedo. Mas a música transporta-me. Faz-me reviver fases da minha vida. Faz-me sonhar. Faz-me pensar em pessoas que associo àquele trecho em particular. Fica a fazer parte de mim.
É portanto, altamente destabilizante quando uma música ‘entra’ na minha cabeça. Como daquela vez que andei uma semana a cantar o ‘tenho uma lágrima no canto do olho’ e acreditem que esta é a única parte da música que eu conheço. Eu já não me podia ouvir a mim própria.
Anteontem, no entanto, vejo pegarem numa música. Só que desta vez, em vez de a introduzirem na minha cabeça, sinto-a antes a sair das minhas recordações. Sinto o cheiro de mar e de juventude quando relembro os primeiros acordes. Revejo o meu quarto de adolescente e sorrio à jovem sonhadora que lá habitava. Vejo o tempo avançar e sinto o peso do Complete Works of Shakespeare que me acompanhou na faculdade e que tinha uma declaração de amor logo no inicio feita por uma paixão da altura e fico triste por esse livro ter desaparecido. Releio, mentalmente, Virginia Wolfe, Goethe, Schiller, sento-me novamente na Távola Redonda e sonho com um futuro risonho e brilhante. Sinto a menina que fui caminhar a par com a mulher que sou. Reconciliadas e em paz como que cada uma perdoando à outra os erros que cometeram.
Ao fundo, enquanto elas riem baixinho de amores passados, dos sonhos que acalentam agora e contemplam embevecidas o herdeiro das duas, ouve-se a voz do Rui Veloso a empenhar um anel de rubi para apenas concluir que não se pode amar alguém que não ouve a mesma canção…
21 comentários:
É curioso você escrever este post hoje, Mente, logo hoje, precisamente hoje, em que eu próprio estava a pensar que em cada dia tenho uma música na cabeça, quase sempre relacionada com alguma vivência do dia anterior.
(ontem foi o "Pride" dos U2, hoje é "Só eu Sei porque não fico em casa", tudo indica que amanhã será o "Hallelujah")
Que delícia, Peixa...
Fico muito satisfeito quando leio coisas assim.
(Ah, e com o meu gosto musical tão reduzido tava feito se não se pudesse amar alguém que não gosta da mesma canção...)
(Visconde, não seja mau para mim. Que eu se soubesse há uma semana que esta noite ía estar em Lisboa, também amanhã estaria a cantar o Hallelujah...)
Bom dia, Bruce Lindo...
:)
Peixa, tu nem me fales nestas coisas que eu tenho músicas que devem ter um time sharing nas minhas memórias e volta não volta lá aparecem outra vez com a tralha toda atrás.
Uma das clientes mais antigas, que veio sem eu ainda perceber o que dizia, morava num LP de 78rpm do meu pai. Faz parte do musical South Pacific, que eu não oiço há mais de trinta anos, mas volta não volta dou por mim a cantar o
I'm gonna wash that man right outa my hair,
I'm gonna wash that man right outa my hair,
I'm gonna wash that man right outa my hair,
And send him on his way.
Não tentes nunca ouvir isto, que garanto que a maldição escondida no pó das notas é pior que a do túmulo do Tuntankamon.
Magnifico, Peixa.
Em Lisboa? Andam outra vez a passar-se coisas nas minhas costas?
Tubarão, nesse aspecto estou nas tuas antípodas. O meu é extremamente abrangente, daí que... nada mais fácil!
Visconde deixe o Hallelujah sossegado que eu acho que a si lhe fica melhor o I'm your man.
(Eu aqui de manitas debaixo do tutu para não contrariar o coleguinha e vem a Chefa e trunchas. Chefa, de facto, é Chefa)
CJ, a menina tem andado por donde?
Sabes que as senhoras de uma certa idade, e ainda por cima doentes, podem dar-se a luxos que as miúdas não podem...
Eu sei... Eu sei... E é pena... Eu, pelo menos, lamento profundamente...
Não lamentes. É melhor assim que tu és perigosa...
Quase, Tereza, Quase Perigosa. Pelo menos é o que ela diz.
Eu por aqui, Peixa. Mas a arrumar a casa. Proibi-me de estar na net mais de 10 minutos por dia, se não já sei que não faço o que devo... E então? Queres falar?
(Ouve lá, CJ, tu queres que eu seja despedida? Então não viste a Chefa a dizer que é melhor eu ficar caladinha? E vens a seguir perguntar se eu quero falar? Aiiii...)
CJ tu desculpa, mas a Peixa está proibida de te dizer que hoje eu e ela vamos com o Senhor Visconde ver o Cohen, mas não te preocupes que amanhã ele estará lá à tua espera tal como combinaste.
Cidjay, eu falo com o Senhor Cohen (eu trato-o por Leo) e peço-lhe para ele fazer um concerto amanhã para nós dois. Que me diz?
(Umas com tanto e as outras? Nem falar podem! Tudo o que fazem é mandá-las calar. Igualdade no curral... Pffft...)
Tereza, julgava que eras minha amiga...
peixa, nunca gostei do anel do veloso (talvez pelo rubi), mas gosto muito de ti!
(então a chefa perdeu-te depois do concerto? onde te meteste???)
Também gosto muito, muito, muito de ti, Gaija!
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