Toda a gente sabe que nunca é uma boa ideia deixarem-me a almoçar sozinha, principalmente, num sitio com um ecrã gigante sintonizado no telejornal. Toda a gente sabe que me dou mal com as notícias do mundo, portanto, não sei porque insistem em respeitar quando digo que não vou sair com eles para almoçar e vou mesmo ficar por aqui.
Hoje repetiram a gracinha.
Hoje repetiram a gracinha.
Entre as milhentas desgraças que me apresentaram, fiquei a conhecer a polémica que rodeia a figura de John Demjanjuk. Um ucraniano acusado de participação no massacre de pelo menos 29 mil judeus, quando trabalhava como guarda no campo de concentração de Treblinka, durante a Segunda Guerra Mundial.
Ora, Demjanjuk, que mora nos Estados Unidos desde 1952, nega as acusações e alega ter sido capturado pelos alemães na Ucrânia, tendo sido mantido como prisioneiro de guerra pelos nazistas.
O ucraniano foi agora extraditado para a Alemanha onde vai aguardar julgamento. E agora vamos lá esmiuçar um bocadito mais a questão. Este mesmo homem, já em 1988 tinha sido extraditado para Israel onde foi julgado e condenado à morte, após ter sido identificado por um grupo de sobreviventes do Holocausto como "Ivan, o Terrível", um guarda do campo de concentração de Treblinka conhecido por seu sadismo.
No entanto, o Supremo Tribunal de Israel concluiu que Demjanjuk não era o guarda de Treblinka. O acusado foi solto e voltou aos EUA.
Em 2002, um juiz americano de imigração decidiu que existiam evidências suficientes de que Demjanjuk fosse o tal guarda e retirou-lhe a cidadania. Em 2005, outro juiz determinou que ele poderia ser deportado para a Alemanha, Polónia ou Ucrânia.
Postos os factos, pergunto-me eu: que evidências? Existem mesmo provas ou será isto uma reedição dos acontecimentos de 1988? É que este senhor foi absolvido pelo Supremo de ISRAEL. Estão ver qual é o país? Aquele da estrela de David na bandeira… Estão a ver?
Não me interpretem mal, achando que eu sou benevolente com Nazis ou coisa que o valha. O que eu me interrogo é se isto não será uma das habituais caças às bruxas com que somos brindados de vez em quando para mostrar serviço.
É que custa-me a crer que, se este homem é efectivamente o tal “Ivan, o Terrível”, possa ter sido absolvido há 20 anos. Onde estavam as provas, que agora supostamente aparecem, aquando do julgamento de 1988?
Estamos a falar de um homem de 89 anos, (embora o director da prisão alemã garanta que ele está em excelente forma física). Estamos a falar de um homem que com cancro, problemas renais, que se desloca com máscaras de oxigénio e cujas sessões de tribunal não se podem prolongar por mais de 90 minutos diários por ordens médicas. Estamos a falar de dignidade humana... Portanto, espero que estejamos também a falar de provas concretas e reais.
6 comentários:
independentemente dos cancros rins ou máscaras porque, em minha opinião, isso nem é relevante já que as supostas vitimas também poderiam ter cancros, rins e máscaras e nem por isso deixavam de ser vitimas, em todo e qualquer julgamento espero sempre, reforço o sempre, a existência de provas concretas e reais, porque só assim é possivel acreditarmos em justiça.
(estrela de David)
Exactamente onde quero chegar, Escarlate. Tem que haver provas concretas acerca das suspeitas sob pena de estarmos a cometer torturas iguais aquelas contra as quais nos insurgimos.
(Corrigido, Visconde. Obrigada.)
Sim, sim, tens toda a razão.
Mas venha de lá o post dos trajes reduzidos.
Com foto, please...
Mente, aqui não posso concordar contigo.
Lembras-te do filme "Mississipi em Chamas"? Era um dos filmes que mais voltas me dava ao estômago, sobretudo pelo sentimento de impunidade daquela gente. Nunca, pelas cabeças idiotas daqueles gajos, passou sequer a hipótese de virem a ser responsabilizados, e punidos, pelos seus actos.
Em 2005 a notícia que a seguir transcrevo sossegou a minha ira.
"Edgar Ray Killen, membro do Ku Klux Klan, foi ontem considerado culpado pela morte de três activistas dos direitos civis assassinados em 1964 perto da cidade de Philadelphia, no Mississípi. Contudo, o júri esteve dividido ao meio (6-6) quanto a condená-lo por assassínio, tendo pedido ao juiz para que a acusação fosse mudada para homicídio não premeditado.
Os três activistas dos direitos humanos, James Chaney, de 21 anos, Andrew Goodman, de 20, e Michael Schwerner, de 24, tinham-se deslocado ao Mississípi, há 41 anos, para ajudarem no registo de eleitores negros. Depois de terem estado a trabalhar à noite numa igreja que tinha antes sido incendiada, o carro em que seguiam foi mandado parar pela polícia. Elementos do Ku Klux Klan que esperavam em várias carrinhas levaram-nos do local e só 44 dias mais tarde os corpos seriam descobertos, enterrados junto a uma pequena barragem. Chaney, o único negro do grupo, tinha sido espancado até à morte, os seus dois colegas brancos foram mortos a tiro. Edgar Ray Killen, conhecido na região por "pregador Killen", era na época o chefe do Ku Klux Klan na pequena cidade vizinha de Meridian, e desde logo se suspeitou que seria ele o responsável pela organização da morte dos activistas. Fora ele que reunira os seus correligionários racistas que dias antes das mortes tinham incendiado a igreja onde os três se reuniram na noite da embuscada. O caso inspirou inclusivamente, em 1988, o filme de Alan Parker Mississípi em Chamas."
Não sei se este tipo é o Ivan o Terrível ou não mas se os Tribunais alemães consideram ter indícios suficientes para o acusarem e julgarem eu só posso aplaudir. Foi absolvido em Israel? Como sabes basta um vício processual para se ter de absolver e com gente desta (já referi que de todos os crimes os que mais me enojam são os raciais?) uma absolvição reforça-lhes a tal impunidade de que se julgam detentores e aumenta-lhes o sentimento de que o que fizeram foi justo e certo.
Mesmo que ele tivesse 100 anos e estivesse entubado acho que podia e devia ser julgado. A humanidade tem de poder apontar os dedos a estas bestas, olhá-las nos olhos e culpá-las pelo que fizeram.
Falas em provas? Se já tanta gente foi ilibada anos depois de ter sido condenada devido ao aparecimento de novas provas porque razão isso não pode funcionar em sentido contrário?
É um Tribunal que o vai julgar e um Tribunal alemão, onde ele terá as possibilidades todas de defesa que as suas vítimas não tiveram. Até pode ser um homem inocente e injustamente perseguido mas prefiro que seja julgado e absolvido que pensar que é culpado e que irá morrer com a arrogância dos intocáveis.
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