Afastou-se daquele corpo indesejado que era o seu, sem olhar ao caminho que percorreu. Com a alma, cada vez mais distante, daquele corpo que rejeitava, cada vez mais indiferente, a ver ao longe o invólucro vazio que abandonava agora ao frio de uma madrugada qualquer.
Tentou nem olhar para trás mas depois percebeu que não era capaz e sentou-se numa nuvem a espreitar aquele corpo que começara a rejeitar muito antes, no tempo em que eram amantes duas pessoas que bem conhecia e uma delas era aquela que despia agora de conteúdo, o interior tão desnudo como o de uma casa devoluta que ninguém quer mas alguém ocupa quando o clima o impõe e a miséria que se tem é igual a nada ou pior.
Ficou ali a observar em silêncio aquele corpo que era o seu, inerte, amaldiçoando a falta de sorte predestinada naquela casca abandonada ao relento, sem carinho nem sustento para o espírito foragido que o espreitava fora de si.
Estendeu por fim o dedo e pousou-o sobre o botão que despoletava a enorme explosão de que precisava para acabar com o pesadelo que não conseguia suportar naquele sonho que não sabia tão real quando decidiu detonar o revólver que não o acordou.
6 comentários:
Andaste a beber absinto?
(e coisinhas mais leves, não? hoje estava mesmo a precisar...)
isto é que é ter um sono pesado!
Não bebo em serviço, Chefa.
(E coisinhas mais leves só em não havendo...)
Toneladas disso, Gaija mailinda. Toneladas!
Ay, que dramático...
Gosto de variar. Em quase tudo.
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