De acordo com um estudo qualquer daqueles que já raramente nos deixam boquiabertos, são já 40% do total os portugueses apologistas de uma federação ibérica.
Nem me dei ao trabalho de validar o dito estudo, pois prefiro acreditar que não é credível.
Na minha opinião, a hipotética fusão de Portugal e Espanha é um insulto sob diversos prismas, nomeadamente ao passado que nos moldou enquanto Nação. E se o discurso pode soar fundamentalista, acreditem que a posição o é muito mais.
Vamos ignorar a questão de Olivença e a tradicional arrogância castelhana (sublinho o castelhana) para com os portugueses, um facto não dispiciendo que permite antever quem daria cartas nesse modelo ambicionado por quatro em cada dez(!!!) cidadãos questionados. Basta somar o actual desnível no poderio económico e na demografia aos tiques de um passado que todos anseiam esquecido mas está lá e é fácil adivinhar o que esta proliferação de Miguéis de Vasconcelos fará com o nosso país. Sim, há uma fragrância de traição nessa posição leviana de quem olha para a vizinha Espanha como um eldorado económico e concentra nessa perspectiva os interesses imediatos e conjunturais que levam alguns tontos a acreditar na viabilidade e, pior ainda, no sucesso de tal empreitada.
Sou radical nesta matéria, fundamentalista até. É inaceitável que se coloque um país nesse plano como se estivessemos a falar da organização de um Mundial de Futebol. Parcerias pontuais em assuntos do interesse comum serão bem vindas, mas qualquer tipo de fusão não passa de um acto de traição (repito) a tudo quanto uma Pátria (esta Pátria) representa.
E reparem que os espanhóis são o que menos me interessa no assunto. São os portugas que me preocupam, tão gananciosos, tão sedentos de poder económico que se prestam a aceitar uma INTEGRAÇÃO na Espanha sob a capa de um iberismo que só existe nas praças de touros e pouco mais.
Portugal é uma realidade de que me orgulho, em tudo o que o faz. E se existem aspectos que me desgostam cabe-me cumprir a minha parte para os alterar. A isso chama-se lutar por um país, mesmo que quem tenha lutado de facto, antepassados, pareça ter derramado em vão o sangue português para impedir que nuestros hermanos conquistassem pela força o que agora os descendentes dessa gente que não permitiu que tivéssemos destinos idênticos aos dos Maias ou dos Aztecas querem oferecer de mão beijada.
Não me venham com o espantalho da xenofobia que esse papão não me intimida. Nada me move contra os espanhóis (nem sabem no que se metiam) mas sim contra quem seja português e não perceba a dimensão do equívoco em causa.
E sim, a minha lâmpada fica mesmo fundida com estas vergonhas.
7 comentários:
Deixámos de ser espanhóis há 865 anos. Deixámos a monarquia há 99 anos. Não conheço nenhum desses 40%, mas gostaria de conhecer os que saibam do que se fala, mas principalmente algum que compare com conhecimento de causa.
Perdemos a nossa identidade há...
Eu não perdi a minha!
E viva D. Afonso Henriques! E todos quantos defenderam e lutaram para sermos Portugal.
Têm o meu respeito e a minha devoção, Elisabete.
Se não devemos fechar-nos numa concha nacionalista, o oposto também não serve os interesses do país.
Epá, já percebi. Os tais 40% não querem ser espanhóis. Querem aglutinar a Espanha para termos mais espaço.
(Curioso é que só 30% dos espanhóis via com bons olhos essa fusão. Lá fico a pensar que ninguém gosta de nós)
E falamos de Portugal país ou nação?
O que é que une um povo? Uma bandeira? Um passado comum? Uma língua?
Não defendo a união com Espanha, mas acho que os Minhotos têm mais em comum com os Galegos que com os Alentejanos.
Desde muito miúda que acredito que as fronteiras administrativas e políticas irão fazer cada vez menos sentido num futuro que já se percebe global e hoje já sofremos as consequências de bairrismos exacerbados. Claro que todos nós nos identificamos com quem nos está mais próximo - família, rua, bairro, cidade, região, país, continente, mundo, sistema solar..., mas sendo algumas destas divisões puramente políticas não sei se de momento trarão assim tanto bem acrescido à nossa vida.
Sou Portuguesa, tal como sou gandaresa. Orgulho-me das duas coisas mas serei gandaresa mesmo que viva até ao fim no Algarve e Portuguesa mesmo que me mude para Huelva.Os judeus ainda sem terem um país sempre foram uma nação e eu, mesmo sendo portuguesa, sinto que a eleição do Presidente dos EUA afecta mais a minha vida que a eleição do nosso Presidente.
A Península ibérica tem, definitivamente, características próprias, diferentes do resto da Europa (está bem, os Bascos espanhóis não são assim tão diferentes dos franceses) e devíamos esquecer guerras passadas e olhar para o que nos une. Justificar uma total separação entre Portugal e Espanha com o D. Afonso Henriques depois de 800 anos de História não faz muito sentido. Todas as circunstâncias são diferentes e se ele precisou de um arrobo de adolescente para sair de casa e provar a sua maturidade nós já não temos essa necessidade, tanto que, assim como assim, nem somos nós que vamos pagar a renda, ao contrário do que ele fez na altura.
Falamos de Portugal país e Nação, mas falamos sobretudo de Portugal Pátria (que não dispensa ambos).
Eu sou português, ponto. Não sou europeu, não sou lisboeta. Sou português. E sou português em tudo o que nos une para lá do que citaste também e não vale a pena listar aqui.
Sinto orgulho no passado do meu povo, tenho esperança no seu futuro enquanto povo independente e capaz de preservar a alma que nos distingue de todos os povos do mundo.
Os catalães não são castelhanos mas em tudo na sua vida acabam por lidar com a língua espanhola, a lei fundamental espanhola e por aí fora. E a miscigenação favorece sempre a tribo mais numerosa. Com os galegos a coisa ainda é mais óbvia, são tão espanhóis como nós na alma mas lá está...
Ou alguém acredita que do processo de fusão, essa ambição disparatada, resultará uma federação bilingue? Ou particularmente preocupada em preservar a "traça" original do povo menos numeroso e se calhar menos sequioso de acelerar o processo de "absorção" que daí resultaria?
Postar um comentário