E a galinha passa o resto da vida a tentar fazê-lo.
O pior é que, por vezes, as filhinhas não estão para aí viradas, mas mãe que é mãe não desiste nunca.
Nada mais perigoso que dizer a uma mãe, com um tom despreocupado, hoje vem cá um amigo meu. O tom pode ser despreocupado mesmo, mas estranhamente começaremos imediatamente a ouvir sugestões, ligeiras, mas sempre sugestões, para nos pentearmos, trocarmos de saia que essa é uma vergonha (claro que é, mas despreocupado era só o nosso tom, o resto está tudo pensado), apagarmos o cigarro e, nestes casos mais complexos, lavarmos a cara às crianças.
Cá para dentro vamos pensando que o combate vai ser curto, é chegar e ir embora, e não vai haver grandes possibilidades de muitos olhares e muito menos de perguntas.
Assim que ele chega já estamos à porta, prontinhas para zarpar dali para fora devidamente acompanhadas mas, surpresa, o bafo no nosso ombro direito é da nossa mãe, claro. Veio só ver as vistas. Apreciar o material. Apanhar ar fresco da rua.
As contas são feitas de cabeça e rapidamente - fim de semana portanto jeans, t-shirt, polar, barba por fazer, mas o bom ar do costume, de certeza. Não vai acontecer nada.
A porta do carro abre, ele sai, eu confirmo o bom ar e ele estica as pernas, depois de horas ao volante, e dá uns primeiros passos ainda tortos.
E, por trás do meu tal ombro direito, sai o primeiro comentário - ai, o senhor é coxinho....
Take 2.
Sim, já que por aí estás trazes-me o saco que deixei no Natal. Vou telefonar à minha mãe a avisar que vais lá a casa.
Ponderados os riscos nada podia acontecer. Ia ser rápido, muito rápido, era dia de semana, vinha de reuniões, estava com pressa e com roupa de trabalho - fato e gravata, nada a que mãe pudesse pôr defeito. O bom ar mantinha-se e quando tocasse à campainha já não devia coxear de certeza.
Telefonema para a mãe ter o saco a postos.
Quinhentos nervosos telefonemas de volta.
O vestido preto também vai? E aquela mini saia escandalosa que levaste ao casamento? E os sapatos pretos de salto alto?
A pontuar todas estas frases saía o lapidar o teu amigo...
O que se passou por lá não sei, pelo tempo deve ter sido rápido, muito rápido, mas o imediato telefonema da minha mãe foi esclarecedor - o rapazinho já cá veio...
O dele, logo a seguir, deixou-me em estado cataléptico - está convidado para ir lá a casa sempre que quiser...
"a nossa filhinha casada está
e o padrinho, quem será?"
Há 2 anos
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