Já não há cu

Assim mesmo, curto e grosso – não há cu.
Só me consigo lembrar daquele joguinho do passa ao outro e não ao mesmo. Já não há um único pecador que se confesse porque a culpa mora sempre ao lado. Um professor mata-se a culpa é dos alunos, um miúdo atira-se ao rio a culpa é dos colegas, o PS sobe nas sondagens a culpa é da oposição que não existe, os putos baldam-se às aulas a culpa é dos pais, estamos todos tesos a culpa é da crise, levam um pontapé nos fundilhos porque são muito maus a culpa é do Governo, a Madeira passa a ilha rodeada de água por todos os lados incluindo por cima a culpa é do aquecimento global, o Haiti treme que nem gelatina a culpa é dos americanos, anda uma pila sem cabresto a violar miúdas a culpa é da mãe, passo meses sem escrever a culpa é da net.
Na parte que por aqui me toca, aponto já a dedo o único culpado - eu. Não escrevi porque não me apeteceu e pouco mais tenho a justificar. Faltou-me a pachorra, a paciência, a vontade, a necessidade, o querer. A culpa não é da net, das mudanças, do portátil avariado, do cão da vizinha que não me dá sossego, do tempo de chuva, do diabo a quatro. A responsabilidade é minha e só minha porque se há uma coisinha que me irrita é que neste empurra empurra nos tentem transformar num vegetal sem qualquer possibilidade de tomar decisões e fazer escolhas. Eu, Tereza, assumo todas as minhas culpas e não tenciono prescindir nunca da imensa liberdade de poder escolher. Para o bem e para o mal.

8 comentários:

Paulinha disse...

Egoísta pá!!!

Berra que faz bem!

Bom fim de semana!

Mente Quase Perigosa disse...

"Já não há cu
Mesmo assim curto e grosso"

Vi logo que isto devia ser sobre politica...

Eu e a minha enxaqueca conseguimos agora assumir uma posição erecta e vamos começar a viver.

Joao disse...

Lentamente é-nos retirada responsabilidade em tudo e tudo é muita coisa. Há que mudar!

escarlate disse...

como diria o outro: mainada

cá por mim estou com 1 carradão de alergia mas a culpa é minha que me enfrasquei em aftereights e souberam-me muito bem

Anônimo disse...

maravilha...

de facto hoje ninguem assume nada,
e sempre se transfere responsabilidades..,

é uma puta de uma não responsabilidade, por um lado,

e/ou de uma incapacidade de assumpção do que nos apetece ou não fazer ou deixar fazer, por outro,

enfim,

vive-se numa sociedade onde a liberdade do ser ou não ser,

nos condiciona até nisso que falas, da não assupção de nossos actos ou não actos..

obrigado Tereza, por estas reflexões que tb me obrigam a meditar sobre

abraço

Anônimo disse...

A culpa em última instância é sempre nossa, (individual ou colectivamente) mas e há sempre um mas, nós somos um somatório de tudo aquilo que nos rodeia, e as nossas atitudes são consequência de tudo o que vamos acumulando ao longo da vida. Agora nós TEREZA, se não tens nada que te justificar, porque o vieste fazer. Sei que este post quer ir mais longe, mas são as pequenas coisas que nos preparam para as grandes. O caminho faz-se caminhando.

Fusão

Teresa disse...

(continuem que estou a gostar de vos ouvir...)

Violeta Extravagante disse...

Bom dia
Teresa, tás enganada. A culpa é do Cu mesmo. Alás, a culpa é do Olho do Cu e eté sei qual deles.
Senão repara aqui: http://www.sedentario.org/internet/exposicao-de-arte-o-olho-do-cu-4918

A culpa é a do Olho do Cu que está na 5ª fotografia.

Vê lá se não é.