CLARA’S HEART

heart97.jpg image by andreabraga07Há um ano atrás, o Shark fazia sexo interminável. A Gaija fazia o tradicional post de parabéns, secundada pela Gabs que também falava com o Napoleão. O Visconde partia para um daqueles sítios terminados em Onix com a promessa de voltar. O Santo devia andar atrás de algumas gémeas como é seu apanágio. Eu e a CJ iríamos continuar a ser virgens e puras por mais 24 horas.

Entretanto, mais um ano decorreu. Como em qualquer épico que se preze, houve encontros e desencontros, tragédias, funerais, viagens, risos e lágrimas, vitórias e derrotas.

Há um ano atrás, eu nunca tinha visto a Clara. Sabia-a aqui ao pé de mim e hoje pergunto-me quantas vezes não nos teremos cruzado no supermercado como acontece agora. Se a tinha visto antes? Não faço a mais pálida ideia. A culpa disso é mesmo da Carla. A Carla foi minha colega desde o 7º ano até ao 12º. A Carla tinha um irmão com paralisia infantil. Confinado a uma cadeira de rodas e com muitas limitações de movimentos e de fala, o R tinha o sorriso mais lindo do mundo. Um dia, a Carla contou-me que na Associação do irmão, havia muitos meninos que não podiam ir para a piscina porque à hora da piscina, os pais estavam a trabalhar e não tinham com quem entrar na água. Aos 16 anos, nós vamos mudar o mundo, não é? E abominamos injustiças, certo? Então na quarta-feira seguinte, lá me tinham à porta da instituição, de fato-de-banho na mochila, a voluntariar-me para entrar na piscina com um dos meninos. Sem qualquer formação, sem treino, sem preparação, sem nunca ter tido qualquer contacto com meninos ‘diferentes’ além do R. Nas primeiras semanas, saia de lá de coração estraçalhado e tinha que fazer um esforço sobre-humano para disfarçar qualquer olhar que demonstrasse a pena, compaixão, fosse lá o que fosse. Passado umas semanas, eu entrava e eles chamavam-me pelo nome e faziam algazarra para ver quem seria o sortudo que ia comigo para dentro de água (eles eram tantos, nós éramos tão poucos) eu apercebi-me que já não tinha que fazer esforço nenhum para disfarçar fosse o que fosse. Para mim eram meninos. Meninos que como qualquer menino, tudo o que queriam eram ir brincar na água. Já não lhes via a diferença. Eu já sabia ler-lhe o olhar e mesmo que não falassem, conseguia descortinar se estavam bem ou mal. Se o dia ia correr bem ou mal. Eram meninos e tal como qualquer menino queriam brincar e sentir-se seguros e era para isso que eu existia no mundo deles: para brincar e para não deixar que mal nenhum lhes acontecesse enquanto estavam nos meus braços. E no inicio, eles não confiavam. Olhavam-me de lado. Fingiam não me ver. Ficavam tensos quando lhes pegava. E depois deixavam-se ir. E eu sentia-me vitoriosa.

No Verão antes de entrar para a faculdade, os 3 meses de férias na casa da praia reduziram-se a 1. Os outros 2 foram passados a levantar-me às 6 da manhã para levar os meninos à praia. Os dias passados a levar e a trazer meninos da água. A servir lanches e sumos. A rir à sombra e a combater as paixonites dos mais velhos. E a certeza de que nunca mais iria ver meninos diferentes. Apenas meninos. E a cena que mais me marcou passou-se alguns anos depois, num supermercado, na secção da charcutaria, quando vi uma menina linda numa cadeirinha, a cabeça de lado e os olhos brilhantes a olhar para mim. Irresistível. Aproximei-me e fiz-lhe o mesmo que tantos já fizeram ao meu filho: meti-me com ela. Quando me endireitei para ir à minha vidinha, a mãe de pacote de fiambre na mãe olhava para mim e chorava. Agradeceu-me porque, pela primeira vez na vida, alguém se tinha metido com a filha num supermercado. Que, normalmente, as pessoas viravam a cara ou, pior, olhavam com pena. Que aquele tinha sido o primeiro momento de ‘normalidade’ que ela tinha tido desde que a filha nasceu. Conversámos durante um tempo e depois fui à minha vida.

Portanto, se eu encontrei a Clara antes de me ser formalmente apresentada e não dei por ela, a culpa é do R. O R. por causa deu quem eu aprendi o verdadeiro sentido de ‘diferente’. Não são os meninos que são diferentes. O que nós sentimos por eles é diferente. Por exemplo, eu nunca vou exigir da Clara o que exijo da Xica. Eu nunca vou sentir necessidade de proteger a Xica como sinto em relação à Clara. Eu vou olhar sempre para a Clara como um bem a proteger. Inclusive, do meu próprio filho o que eu sei que é ridículo. Ela tem o dobro do tamanho e da força dele, mas que querem? Eu olho para eles e vejo-os iguais. A mesma obrigação de protecção para com os dois. Logo aquele que estiver a arrear o outro leva o raspanete. Com a Xica nunca será assim. Essa vou eu mesmo arreá-la se for preciso!

E quando comecei a escrever, eu sei que isto tinha um sentido supremo e uma moral como ‘punch line’ para além dos inevitáveis “Parabéns, Clara”, mas experimentem lá escrever isto tudo com um mini gaijo pendurado ao vosso pescoço? Pronto, esqueci o final.

12 comentários:

Teresa disse...

eu sempre achei que tu eras uma pessoa muito melhor que eu. obrigada.

(idiota. puseste-me a chorar)

Anônimo disse...

" Parabens Clara", digo Tereza, vcs ambas são mui melhores que eu,
é bom vir aqui, diferente,
temas e modo abordagem puxam nós creio em conjunto..
abraço

Fusão disse...

Parabens CLARINHA

E queria tanto no post da TEREZA dar-lhe um beijo cheio de carinho e aquilo pifou.gggrrr

Mente Quase Perigosa disse...

Só achas isso porque tenho mais mamas, não é???

(é para compensar as vezes que te faço rir! Qualquer dia és só rugas de riso!)

Fusão disse...

Mente

Pelo que leio tens um cuore do tamanho do Mundo. Bem hajas

Fusão disse...

Mente

Pelo que leio tens um cuore do tamanho do Mundo. Bem hajas

escarlate disse...

:) PARABÉNS CLARINHA

parabéns mamã da Clarinha


Mente... não havia um slogan que dizia "todos diferentes todos iguais"? por acaso eu achei sempre que faltava ali qualquer coisa do género "todos diferentes todos iguais só que um são mais diferentes e outros menos iguais" ao contrário também serve :)

Rachel disse...

Mais um ano volvido e mais um "então, parabéns, Clarinha!"

casa de passe disse...

A intenção é que conta...


Aurélia

Anônimo disse...

Bem....

Se eu podia dizer alguma coisa? Podia.. mas há momentos em que diga eu o que dsser, não consigo exprimir em palavras/teclanços aquilo que estou a sentir.

Parabéns Clara, Parabéns Teresa Parabéns Mente.


(não me lembro como vim parar a este blogo.... Mas ainda bem!!!)


Violeta

Marias disse...

Já sabes que eu anos, só sei os teus...Esqueci-me dos da Clara!
Parabéns Clara! Foi a 28? Tenho de decorar, eu tb sou a 28...

Beijoooooossssss

Teresa disse...

É a 27, mas deixa lá que eu não faço ideia de quando é que os teus filhos fazem anos. Fiquei na nossa geração e já é muito.