INVEJA
Eu tenho cerca de 12 horas para descobrir o armário dos Ferrero Rocher’s…
Porque é que ninguém me dá chocolates no Natal?
INVEJA
Eu tenho cerca de 12 horas para descobrir o armário dos Ferrero Rocher’s…
Porque é que ninguém me dá chocolates no Natal?
SOBERBA
A arrogância de entrar numa sala e ter lingerie vestida torna-nos seres superiores, não torna?
AVAREZA
As caixas de Ferrero Rocher ficam no armário que uma gaija nunca sabe quando precisa de algo especial.
LUXÚRIA
As cuecas que a Peixa nos vai trazer mas que enquanto não chegam transformam três gaijas num petisco para a Gripe Z.
Último dia, não é?
As rabanadas estão prontas. O bacalhau está gloriosamente à espera de entrar na panela. O bolo de laranja está ensopadinho como se quer.
Lá fora chove torrencialmente mas cá dentro está quentinho. Todos os preparativos estão feitos e o ensaio geral foi glorioso ao som de Frank Sinatra e de vodka a ser despejada nos copos (toda a gente sabe que evento que se preze tem ensaio geral, não sabe???)
Não há rede de telemóvel e, neste momento, nem há mesmo mais ninguém cá em casa.
Antes da chegada iminente dos convivas e da azáfama própria da ocasião, só me falta mesmo desejar-vos a todos, todinhos sem excepção de um, uma excelente noite. Que estejam próximos dos que mais amam e que nos vossos corações ainda se viva a época com o espírito das crianças.
Feliz Natal!
A classe política deixa-me sempre na duvida se é preciso andar a vasculhar o mais ínfimo recanto celeste à procura de seres de outros mundos. Para mim é óbvio - vivemos mesmo noutro planeta. Ou então sou eu que por defeito congénito mantenho uma frequência de vibração semelhante aos senhores, mas permaneço numa completa oposição de fase, ou mais simplesmente estou desfasado de pi.
Oh Chefa, atão e eu??????
Não tenho direito a foto no blog?????
Quando olho para esta fotografia de uma tal Maria do Rosário Pedreira
Anda para aí tudo muito satisfeito porque parece que, finalmente, a Justiça em Portugal começou a funcionar e o Ministério Público conseguiu, em tempo recorde, deduzir (é assim que fala quem fala bem) acusação contra um farmacêutico e uma ajudante de farmácia responsáveis pela troca de medicamentos que provocou cegueira a seis doentes do Santa Maria. Pelo que parece, e digo parece porque cada vez confio menos no que leio nos jornais, estão ambos acusados pela prática, com dolo eventual, de seis crimes de ofensa à integridade física grave.
Eu, que até já nem percebo muito da poda mas ainda tenho umas luzes, acho que os senhores procuradores estão metidos numa carga de trabalhos e ou sabem isso mas quiseram acenar ao povinho com possíveis penas de cadeia - de dois a dez anos - exemplares ou nem sequer perceberam o molhe de bróculos onde estão metidos, o que é ainda pior. O que sei é que são estas e outras que me levam a ficar cada vez mais assustada com quem anda por aí a fazer a justiça.
Acabei de almoçar, tenho mais que fazer - sim, Peixa, tenho o tal post das réplicas... - e não acho que deva mergulhar doutrina adentro mas lá em cima, naquela acusação exemplar, há duas palavrinhas que me estão a fazer cócegas e que são "dolo eventual". Eu não sei onde estudaram os ilustres acusadores deste caso mas os mestres que ensinavam lá na minha escola tiveram o cuidado de nos fazer perceber bem que isso do dolo eventual era um berbicacho do caraças. Segundo o Figueiredo Dias, que é assim a modos que o pai do nosso Código Penal, para haver dolo eventual, e vou simplificar, é preciso que o agente se tenha conformado com o risco de produção do resultado actuando sem confiar que aquele não se produziria. Para quem não percebia muito bem isto ele dava até o exemplo do Guilherme Tell - o tipo pôs a maçã em cima da cabeça do filho e aceitou o desafio de acertar nela. Apesar do nosso Guilherme saber que podia errar, que essa era uma probabilidade, um possível resultado da sua conduta, e de não querer de todo magoar o filho, ele decidiu disparar na mesma o arco porque esse era um mal menor perante a desonra que seria não aceitar o desafio.
Por outro lado, se o agente actua com a confiança - mesmo que leviana - de que as consequências possíveis não se produzirão - e tenho estado a citar o FG - porque se se produzissem ele alteraria a sua conduta, então não há dolo eventual mas sim negligência consciente o que atenua bastante a culpa e, consequentemente, a pena.
Resumindo, mesmo que não concluindo. Nesta acusação vai ter de ser provado, sem margem para dúvidas, que aquele farmacêutico e aquela técnica por quererem despachar serviço e ir cedo para casa previram que em resultado dessa pressa podiam trocar os medicamentos e que essa troca iria causar cegueira irreversível aos doentes. Para além disso vai ter de ser provado que aqueles dois apesar de terem conscientemente posto essa possibilidade não alteraram a sua conduta por terem considerado que esse resultado hipotético, que eles não queriam que acontecesse mas que era provável, seria um mal menor em relação ao fim que queriam atingir - saírem dali a horas.
Agora digam-me, acreditam que foi isto que aconteceu? Acreditam que o Ministério Público acredita que foi isto que aconteceu? Acreditam que o Ministério Público acredita que vai conseguir provar o tal dolo eventual?
Sabem no que eu acredito mesmo sem conhecer os factos? Acredito que aqueles dois podem, quanto muito, ter actuado com negligência grave e que justo seria virem por ela acusados, mas acredito também que se forem por ela condenados e saírem do Tribunal com penas suspensas, o que faria sentido, lá vai o povinho dizer que os sacanas dos advogados de defesa enganaram, mais uma vez, o Tribunal.
E no meio disto tudo só acho piada as pessoas ainda me continuarem a perguntar porque é que me fartei de Tribunais. É que dez anos disto não chegaram, sobraram!
Acordei no sofá. Senti o barulho, tentei perceber se era o resto de algum sonho estranho. Vento, era vento de certeza. Não era, o vento não me faz ficar gelada. Levantei-me e continuei a sentir aquele som que não entrava pelos ouvidos, que me chegava de dentro e não de fora. Medo, estava com muito medo apesar de não fazer a mínima ideia do porquê. O barulho foi aumentando mas não via de onde pudesse vir. Reconheço finalmente um som familiar, um tilintar que me leva a olhar para o armário dos copos. Nem nessa altura, bêbada de sono, se fez luz, e continuei sem conseguir raciocinar. Lembro-me de olhar à volta, de ver o Sebastião a dormir no tapete em frente à lareira - confirma-se assim que o gajo não é um cão porque os cães, como toda a gente sabe, são os primeiros a perceber estas coisas - lembro-me de tentar pensar, de tentar entender de onde vinha todo aquele medo.
De repente, o silêncio.
Quinze segundos, dizem eles. Mais, muito mais, digo eu que não tenho sismógrafos mas um instinto animal que me acorda quando estou em perigo e me faz correr até às minhas crias só porque uma razão que não é minha mas que me chega lá dos primórdios me obriga a proteger-me e a protegê-las.
Sim, tenho medo, muito medo, de tremores de terra mas agora, de manhã, acordada e a raciocinar, ou a tentar fazê-lo, procuro é uma resposta para a pergunta que me ficou da noite.
O barulho. Sei que o ouvi, sinto que foi ele que me acordou mas não consigo entender se é real. É um som estranho, um som que parece não existir e que só alguns perceberam. Por aqui toda a gente com quem falei sentiu o sismo mas nem todos ouviram barulho e quando ouviram foi o da loiça a cair, de portas a fecharem, de camas a baterem na parede (não foi, Peixa?). Há mesmo casos como o da C e do marido. Ela acordou com a cama a tremer mas o marido, ao lado dela, sentiu o barulho que ela jura que não ouviu. Cá em casa nem o anjo da ponta mais alta da árvore de Natal caiu mas o barulho era assustador. E a pergunta que tenho estado a fazer-me é se há mesmo um som, assim como o da trovoada, ou se é só o som do medo, o som da terra a mexer debaixo dos nossos pés.
Porque afinal um tremor de terra, só ele, faz barulho ou não faz?
E se repente, saímos de casa e o termómetro do carro marca 3º e o computador de bordo avisa acerca dos perigos de gelo na estrada, só podemos concluir que fomos teletransportados para a Lapónia para sermos ainda mais imbuídos de espírito natalício. Até aqui tudo bem. Eu goto do Natal. O Natal é fixe. O que talvez seja relevante mencionar é que o meu cérebro só funciona acima dos 14º/15º. Portanto, temos o Tico e o Teco com hipotermia, congeladinhos, enroscadinhos num canto do córtex a beberem ponche e aguardente para ver se aquecem.
Eu não vejo os Ídolos. Vi a semana passada pela primeira vez. Eu sei, eu sei, sou uma info-excluída que nunca vai ser nada na vida nem saber de que é que toda a gente fala, mas que querem que eu faça?
Bem, mas é por isso venho aqui pedir a vossa preciosa ajuda. É que eu já percebi que temos que ligar para um número de telefone específico para o nosso preferido. Certo?
Mas por algum motivo estranho, eu não consegui apanhar o número de telefone para votarmos neste senhor… Se calhar, deram naquele bocadito que me distraí e fui à cozinha.
Em todo o caso, se alguém apanhou o dito número (pode ser o telemóvel dele que eu ligo a perguntar o número para votar) que o deixe na caixinha de comentários, fáxavor, sim?
Caso não estejam bem a ver quem é, é um mocinho que acho que se chama Laurent e está sentado. Ainda não cantou mas também não é preciso que eu voto nele à mesma.
Agora é que eu percebi porque é que o mulherio todo vê o programa… Novos talentos da música… Miúdos que cantam bem… Ando bem enganadinha, é o que é…
Adenda: Vá lá que parece que ele ainda não foi esta semana que foi expulso do programa. Mesmo sem o meu voto, continua lá. Mas podem dar o número à mesma que eu ligo-lhe só para encorajá-lo…
E às 3.24 tínhamos o contador certinho. O facto de eu estar atenta a isto não dá direito a nada, Chefa?
Tipo, sei lá, um pequeno-almoço? Um lanche ajantarado?
Aqui há muitos, muitos anos, numa galáxia distante (as histórias boas começam sempre assim, eu sei, mas não tenham grandes esperanças que esta é fraquita), eu e a minha amiga do creme do cabelo (para referência chamemos-lhe Eugénia) fomos para os copos com um mocinho que ambas conhecíamos. O mocinho por sinal era muito jeitoso (que para referência passaremos a designar como Mister X) e ambas concordávamos com essa premissa. Copos para aqui, copos para ali, brinca daqui, brinca dali, a Eugénia vai ao bar e o moço tasca-me um beijo. Jusqu’ici tout va bien, como diria o outro. Ora, eu estava cansada, peguei no carro e fui para casa (a Gaija deve estar orgulhosa desta minha saída airosa aos pormenores). Passado umas horas (vulgo de manhã) arrastava-me eu alegremente (vá, talvez não tão alegremente quanto isso que há manhãs mais difíceis que outras) pela cozinha, namorando fervorosamente a máquina do café na esperança que o liquido saísse mais depressa, quando se me entra a Eugénia na cozinha. Pão para torradas, blá, blá, blá e ela sai-se com um “tenho que te contar uma coisa”. Pois que venha de lá ela, não é verdade? Embrulhei-me com o Mister X. Eu olhei para a máquina do café, olhei para a torradeira onde ela enfiava as fatias de pão e pensava cá com os meus botões: “a miúda acabou de sair de uma relação de merda, o gaijo é um gaijo porreiro, haverá mesmo necessidade de lhe dizer que ele me beijou quando ela foi ao bar, antes de se embrulhar com ele? Qual é a relevância para o caso, afinal? Será que a sinceridade justifica, em certas circunstâncias? (o que daria um tema para um excelente post, mas não é o tema deste. Eu bem avisei que isto era menos interessante do que poderia parecer à primeira vista)” Porque ao fim ao cabo, o que temia era que ela, eventualmente, pensasse que tinha sido uma segunda escolha. Que se eu lá estivesse, talvez as coisas fossem diferentes. Lá está, se… Se… Se…
(E agora vou fazer um parágrafo que até eu já estou cansada daquela mancha de texto. Que ao fim ao cabo, é mais ou menos dar tempo para que o café e as torradas acabem de fazer…)
Ora, com o pequeno-almoço posto à frente, quem é que me dizia a mim que a torrada se comia? Isto foi mesmo há muitos anos, que eu hoje sou muito menos escrupulosa (e vai daí talvez não). Mas, naquela altura, ainda acreditava na tal da sinceridade e que as relações, sejam elas de que tipo forem, nunca se podiam basear numa mentira. Eu sei que não era nada do outro mundo, mas já vi incidentes diplomáticos começarem por questiúnculas que não lembram nem ao Menino Jesus. E pensava também que ele lhe podia dizer e quando nós sabemos estas coisas por terceiros nunca acreditamos na boa vontade de quem as omite. Por muito boas que fossem as intenções que essa pessoa tivesse, vão sempre para o lugar que lhes está proverbialmente destinado: para o Inferno!
Pus a torrada no prato e as palavras na boca e contei-lhe. Ela ficou calada. Eu pensei: querem lá ver que temos a burra nas couves? Quando, finalmente, falou foi para me dizer: “Cabrão! Mas beija bem comó caraças, não é?” Desatámos a rir e eu soube que aquilo era para toda a vida. Não o Mister X, mas eu e ela. Se alguma dúvida houvesse, ter-se-ía dissipado ali mesmo. Escusado será dizer que o Mister X não comeu nenhuma das duas, mas conseguiu ficar nosso amigo devido ao bom humor com que encarou o facto de ter o pequeno-almoço [ele afinal dormia no sofá da minha sala e eu nem tinha dado conta (não, não era um palacete. Eu é que não vejo mesmo nada de manhã sem beber, pelo menos, 1/2 litro de café) servido pelas 2 gaijas que havia beijado na noite anterior, em trajes de noite, esclarecendo-o que A já sabia de B e vice-versa.
Porque é que eu estou a falar disso agora? Porque olho à minha volta e as mulheres com quem me relaciono, casadas inclusive, adoram competir. Se um homem interessante aparece (vão-me desculpar a expressão) mas é tratado como um naco de carne, um troféu a adquirir. Isso faz-me espécie. É que os senhores vão-me desculpar a franqueza, mas se eu tiver que escolher entre uma amiga (ou até mesmo conhecida) de longa data ou o gaijo giro que apareceu agora, eu nem sequer penso nisso. Como não pensava há muitos anos atrás. Ok, ele até pode ser giro e saber quem é a Marguerite Yourcenar (isto é uma mera hipótese académica, claro) mas e daí? Eu não vou atropelar tudo e deitar por terra os meus princípios para levar o troféu para casa. Mesmo que seja a favorita no campeonato. Uma vez disseram-me que era porque eu tinha medo de competir e perder. Eu limitei-me a sorrir e a concordar. A verdade? É que há coisas que não sacrifico nem pelo maior troféu do mundo. Uma delas é a minha paz de espírito. Não a sacrifiquei naquela manhã em frente a uma torrada e não a sacrifico hoje. Se essas pessoas merecem essa consideração? Talvez não. Mas eu durmo muito bem. Por outro lado, conheço muita mulher que se queixa de insónias…
E, pronto, é isto. Eu bem disse que era menos interessante do que poderiam pensar.
“The ties that bind us are sometimes impossible to explain. They connect us even after it seems that the ties should be broken. Some bonds defy distance and time and logic… Because some ties are simply… Meant to be.”
(Meredith Grey in Grey’s Anatomy)
Às vezes, ser mulher é uma seca. Muitas vezes, as mulheres são os piores inimigos de uma mulher. No entanto, eu não trocaria de género por nada do mundo. Porquê? Simples…
Este fim-de-semana, estava eu fechada numa casa de banho minúscula com uma gaija. Eu tinha acabado de sair do banho, ele passava-me um creme revolucionário acabado de sair no mercado no cabelo. O corpo dela colado ao meu enquanto me massajava o couro cabeludo (aposto que a esta altura do campeonato, já conquistei toda a audiência masculina deste blog… Como diriam os Black Eyed Peas: I gotta feeling…). A conversa versava em como deve ser difícil ser gaijo. Porque gaijo que é gaijo não pode fazer estas coisas com seus amigos gaijos que são gaijos. Gaijo que é gaijo, não passa cremes no cabelo de outro gaijo nem faz massagens no couro cabeludo. Gaijo que é gaijo não olha fixamente para o corpo de outro gaijo quando ele está de lingerie (okay, leia-se ‘o belo do boxer’ que gaijo que é gaijo não usa lingerie, obviamente) para opinar se aquele modelito irá surtir o efeito Katrina desejado. Gaijo que é gaijo não diz a outro gaijo: ‘Gaijo, tás bom comó milho. Eu comia-te…’
Às vezes, ser mulher é uma seca. Muitas vezes, as mulheres são os piores inimigos de uma mulher. Por isso, é que as gaijas, contrariamente à convicção geral, só têm meia dúzia de amigas que realmente consideram amigas. Só há meia dúzia delas que sabe tudo sobre elas. Só meia dúzia sabem ler os seus pensamentos sem que palavras sejam necessárias.
Mas essa meia dúzia… Digo-vos essa meia dúzia vale o seu peso em ouro. E toda a gaija sabe que, independentemente da burrada que fizer na sua vida, a sua meia dúzia vai estar lá para apoiar. Pode não concordar. Pode achar que a gaija está a cometer a maior burrada do mundo. Mas ao fim do dia, cada gaija sabe que a sua meia dúzia vai estar no fundo do penhasco, pronta para aparar a sua queda e, caso não haja aparadela possível, de certezinha que, pelo menos, uma delas levou um estojo de primeiros socorros.
Pediu que eu também contribuísse para melhorar o clima.
E quem sou eu para negar seja o que for ao nosso Santo?????
Durante muito tempo fui contra. Não por questões morais, ou religiosas, ou éticas, ou sociais, mas simplesmente por razões lógicas – um direito, para ser justo, terá que poder ser universal e este, teoricamente, nunca o poderia ser. Se, de repente, todas as pessoas do mundo decidissem formar pares homossexuais e quisessem adoptar crianças cedo deixaria de haver crianças para adoptar. Depois percebi a falácia do raciocínio e deixei-me de tentar generalizar o que, felizmente, não é generalizável - é a excepção e não a regra. Não, não estou a falar da homossexualidade, estou a falar da adopção. Derrubada a lógica ilógica fiquei cara a cara com a decisão e, para começo de conversa comigo, aos costumes disse nada porque nada havia para dizer. Não me socorri de estudos, estatísticas, teses de doutoramento, mas da mais elementar razoabilidade. Seria para mim razoável, eu que há 14 anos crio duas crianças sozinha, impedir a adopção a pessoas solteiras? Está vista a resposta, não está? Sendo essa adopção possível, como é, passa pela minha cabeça que se faça depender da orientação sexual do candidato? Estou mesmo a ver a assistente social, senhora composta com twin set e pérola, a perguntar à futura mãe ou pai e olhe lá, aqui entre nós, é homossexual ou hetero? Ai é gay??? Tss tsss, mas é só em pensamentos ou pratica mesmo? Pratica? Lá em casa???? Na cama onde a criança, quando está assustada à noite, lhe vai pedir para dormir? Não! Olhe lá, não acha melhor deixar-se disso e jurar castidade? É que se for assim eu ainda posso fazer qualquer coisa.
Claro que esta conversa poderia descambar para onde quiséssemos. Abertas as portas, e as janelas, sabe-se lá se a senhora, tal como eu, não acharia que iscas é algo absolutamente intragável e não faria jurar, a pés juntos, que aquele miúdo nunca teria de se defrontar com um prato delas. Ou que não teria Saramago nas estantes. Ou um computador Magalhães para ver gajas nuas. Ou que iria ser ensinado a votar no Sr. Marques lá da Junta que pagou, do seu bolso, a festa de Natal da instituição. Ou... Ou... Ou...
E é aqui que a porca, a minha, torce o rabo. Então se não consigo conceber que no meu mundo se faça depender um direito da orientação sexual, das quecas que damos e com quem as damos, então porque raio isso se aplica a um e não a dois? Há aqui qualquer coisa que não bate certo, não há? O senhor Silva Marques, se enfiar o namorado no roupeiro lá do quarto e mentir com quantos dentes tem na boca quando lhe perguntarem se vive sozinho, pode adoptar uma criança e toda a gente fica satisfeita, então porque não o poderá fazer se se tiver casado com o tipo, seja isso do casamento o que for? Porque temos medo de ver o que nasce para estar escondido? Porque nos seguramos numa lógica de bons costumes e tememos dar os outros passinhos que o raciocínio nos diz que devíamos dar mas que deitariam por terra um mundo perfeito onde o Sol, o nosso Sol, se põe e se deita e nós permanecemos quietinhos nesta Terra estática? Porque invocamos o "interesse" das crianças com a mesma desfaçatez com que defendíamos a tal vida a que a Clara, a minha Clara, não tinha assim tanto direito?
É que esta discussão lembra-me o referendo do aborto e a posição pró-vida. Que defendiam? Defendiam que, em nome do direito à vida, a lei que já existia não fosse alterada. Em nome de quê? Da vida????? Ora porra, para não dizer pior. Sabem o que isto implicava? Implicava que a Clara, a minha Clara, era menos vida que a vida que estes senhores diziam defender. Criancinhas deficientes? Coitadinhas, temos pena, muita pena, é pecado na mesma, mas percebemos que a lei permita que as mães as matem. Agora as outras, as normais, é crime e assim deverá continuar a ser. Vidas de primeira e vidas de segunda. Valores elásticos que cobrem o que nos dá jeito estribados na arrogância da certeza absoluta.
Já me ouviram dizer Foda-se por aqui? Ouvem agora. É que gosto, gosto muito, quando em nome dos mais altos valores se patina em gelo fino querendo fazer crer que aquele gracioso deslizar em linha recta não é mais que a única forma de não se mergulhar em águas mortíferas. Porque se se pára, ou se trava, ou se dá uma curva mais apertada, acaba-se o espectáculo e o artista desaparece como por magia na fenda que se abriu, o engoliu, e se fechou a seguir.
Resumindo, que isto vai longo - os maricas e as fufas, legalmente casados, não podem adoptar porque a criança bádádi-bádádá? Muito bem, mas então tenham a coragem de dizer, alto e bom som, que se estiverem sozinhos e sozinhas também não o podem fazer porque toda a gente sabe que a paneleirice é devassa por natureza e nunca gente dessa conseguirá ser casta e a criancinha, mais tarde ou mais cedo, vai perceber que algo de estranho, muito estranho, se passa naquela casa para onde o infortúnio do destino a mandou. Solução? Só vejo mesmo uma – acabe-se com essa pouca vergonha das adopções, contra natura claro que quem quiser filhos que os faça, porque nada garante que os hoje casados não sejam amanhã divorciados e as crianças conheçam a nova namorada da mãe, ou que aquele senhor tão devoto a quem o Estado entregou o Zézinho não conheça um padre rui qualquer acabado de descobrir o amor. Seja esse amor da cor que for.
Já agora, e seguindo a tal lógica que é sempre bonita de seguir, acabe-se com os filhos e pronto. Sabe-se lá, nos dias que correm, como é que não irão acabar as inocentes criancinhas.
Caramba, esta lógica está muito complicada, não está? E que tal se aprendêssemos com os putos de quem se fala e seguíssemos o coração? Não sei porquê, cheira-me só, mas eles são muito mais práticos que nós e estão-se nas tintas para pronomes e quejandos porque o que lhes interessa mesmo, neste momento, é saber onde passam o Natal.
Que os nossos estudantes mais jovens, alguns dos que tiveram o privilégio de receber como ferramenta de trabalho escolar o indispensável "Magalhães", ao invés de uma BIC ponta grossa e dois cadernos pautados, utilizaram indevidamente a ligação às autoestradas da informação. Não é que os marotos dos fedelhos se meteram em plena aula a visualizar uns sites de "su menos" respeito? Ah pois foi. Ultrapassaram as seguranças que estavam embebidas no próprio sistema. Fuga de informação? Face oculta? Não, simples pesquisa internética e lá estavam as chaves de acesso a tudo e mais alguma coisa.
Hoje é dia de São Nicolau. Ou Santa Claus. Ou Pai Natal. Ou, simplesmente, Santa.
Santa? Não quererão dizer "Santo"? É que se nos esquecermos das barbas, do casaco vermelho e das renas e se pensarmos só na bonacheirice e na imensa capacidade para deixar os outros felizes está-se mesmo a ver que este Santa é o Santo. O nosso. O da casa.
Provas? Elementar, caros Holmes, ou não soubesse toda a gente que o Santa, ou o Santo, nasceu a 6 de Dezembro.
Parabéns Santo. E não, não é por ser o teu aniversário que te digo que gosto muito de ti.
(a listinha da praxe, que eu portei-me bem o ano inteiro, já seguiu)
O Juiz. Achei que era uma boa ideia usar o livro do Lucky Luke para este post. Podia até descrever a sequência final quando o Lucky Luke exige que o Juiz Roy Bean seja julgado mas como não há outro Juiz tem de se julgar a si próprio e temos então o Roy num quadradinho a dizer que se recusa a ser julgado por aquele pulha, no outro a presidir ao Tribunal e nos seguintes numa dança surrealista entre o banco dos réus e a cadeira de juiz. Mas isto era no Far West.
Também podia ter começado com a pergunta "Quem matou o juiz?" e acrescentar o lendário "Foi Mortágua" com um JeéFeKeiano "Hoje somos todos mortaguenses" mas achei que este mortaguenses é tão estranho que me estragava a gracinha.
Depois lembrei-me daquela sátira dos Gato Fedorento e pensei que bem que podia armar-me em Marcelo e rabular um A magistratura é independente? É. Os jornalistas são livres? São. Mas a magistratura e os jornalistas fazem fretes? Fazem. Então não são independentes nem livres? São. Mas fazem fretes? Fazem. Mas são independentes? São. E são livres? São. Mas fazem fretes? Fazem, só que nunca mais saía disto e lá se ia a possibilidade de dizer as asneiras que me têm andado entaladas. É que já não há pachorra. A minha, pelo menos, chegou ao fim há muito.
Sempre tive para mim que as opiniões se discutiam e os factos é que não mas, pelo que parece, devo ter andado errada estes anos todos. É que o que tenho visto por aí são factos a serem servidos como se de meras opiniões se tratasse e opiniões a serem promovidas ao eu vi com estes olhinhos que a terra há-de comer e nós, doidinhos por mais um petisco, enfardamos tudo o que nos trazem à mesa com a imbecilidade gulosa de quem correu com uma ASAE qualquer porque é certo e sabido que o mal que nos faz se perdoa sempre com o bem que nos sabe. E já nem nos interessa se a lebre afinal é gato, se a fossa vaza no chão da cozinha ou se as mãos do empregado de mesa nunca viram água na vida. Comida. Queremos comida que o circo, depois, armamos nós, mas esquecemos que a tenda dos palhaços e dos malabaristas depressa ficará nauseabunda porque se há facto que não é discutível é que comida estragada mais cedo ou mais tarde vira merda da grande.
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