Há 8 anos atrás, o meu coração estava partido. Estilhaçado em pedacinhos tão pequeninos que pensava serem impossíveis de reunir.
À boa maneira Queirosiana, a menina foi mandada para a quinta no norte para ganhar cores e apetite. Depois de todos os iluminados que fazem parte da minha vida confabularem o plano, o mesmo foi-me transmitido de forma a quase parecer uma ideia minha e eu embarquei na farsa.
A quinta acordou nessa manhã como em todas as outras. Vagarosamente como o ritmo de férias. As gémeas não existiam ainda, o Peixinho era uma impossibilidade cada vez mais impossível, portanto não havia os passinhos e as risadas e os sons de desenhos animados como há agora.
A hora do almoço foi chegando com a azáfama que caracteriza as mesas longas e barulhentas. Não sei se foi a Fi (a única que estava a trabalhar) ou o parvalhão do ex-namorado da irmã dela que entrou sala adentro, já perto das 2, e perguntou se nós não estávamos a ver as notícias, que um avião tinha caído em Manhattan.
Nós, de travessas nas mãos, olhámos incredulamente e alguém ligou o televisor. Ficámos ali, uma dezena de pessoas, a olhar as imagens da Torre Norte em chamas durante cerca de um minuto até ouvirmos o “Oh my God” emitido pelo pivot de um qualquer canal americano quando o segundo avião embate na Torre Sul. Nenhum de nós disse nada durante algum tempo até que me lembro de alguém dizer: “Isto não foi um acidente…”
Almoçámos e depois sentámo-nos a ver televisão a tarde toda sem perder pitada, de coração apertado e com a certeza de que tudo mudaria daí para a frente. Foi-se chegando mais gente e fomos ficando pelo salão. Foi-se buscar mais carne para o churrasco do jantar e éramos muitos.
À medida que fomos tomando consciência do que realmente tinha acontecido, ao longo desse dia e dos seguintes, percebemos realmente o horror e sentimos o medo instalar-se.
5 anos depois, já com um filho lembro-me que pensei que o 11 de Setembro de 2001 será para os nossos filhos como a 2ª Guerra é para nós: impressiona-nos, revolta-nos, mas não assistimos, não vimos com os nossos próprios olhinhos. Não temos a verdadeira dimensão da tragédia. Assim será o 11 de Setembro para eles.
Penso que todos nós, hoje pensaremos no que estávamos a fazer nesse dia. Um dia que nós não esqueceremos, decerto. Um dia de que falaremos aos nossos filhos. Um dia em que morreram milhares de pessoas inocentes só porque sim. Um dia que também originou outros dias em que morreram milhares de pessoas e assim foi criada uma bola de neve. E todos os dias há tantos conflitos em que morrem pessoas e não há transmissões em directo na CNN.
À boa maneira Queirosiana, a menina foi mandada para a quinta no norte para ganhar cores e apetite. Depois de todos os iluminados que fazem parte da minha vida confabularem o plano, o mesmo foi-me transmitido de forma a quase parecer uma ideia minha e eu embarquei na farsa.
A quinta acordou nessa manhã como em todas as outras. Vagarosamente como o ritmo de férias. As gémeas não existiam ainda, o Peixinho era uma impossibilidade cada vez mais impossível, portanto não havia os passinhos e as risadas e os sons de desenhos animados como há agora.
A hora do almoço foi chegando com a azáfama que caracteriza as mesas longas e barulhentas. Não sei se foi a Fi (a única que estava a trabalhar) ou o parvalhão do ex-namorado da irmã dela que entrou sala adentro, já perto das 2, e perguntou se nós não estávamos a ver as notícias, que um avião tinha caído em Manhattan.
Nós, de travessas nas mãos, olhámos incredulamente e alguém ligou o televisor. Ficámos ali, uma dezena de pessoas, a olhar as imagens da Torre Norte em chamas durante cerca de um minuto até ouvirmos o “Oh my God” emitido pelo pivot de um qualquer canal americano quando o segundo avião embate na Torre Sul. Nenhum de nós disse nada durante algum tempo até que me lembro de alguém dizer: “Isto não foi um acidente…”
Almoçámos e depois sentámo-nos a ver televisão a tarde toda sem perder pitada, de coração apertado e com a certeza de que tudo mudaria daí para a frente. Foi-se chegando mais gente e fomos ficando pelo salão. Foi-se buscar mais carne para o churrasco do jantar e éramos muitos.
À medida que fomos tomando consciência do que realmente tinha acontecido, ao longo desse dia e dos seguintes, percebemos realmente o horror e sentimos o medo instalar-se.
5 anos depois, já com um filho lembro-me que pensei que o 11 de Setembro de 2001 será para os nossos filhos como a 2ª Guerra é para nós: impressiona-nos, revolta-nos, mas não assistimos, não vimos com os nossos próprios olhinhos. Não temos a verdadeira dimensão da tragédia. Assim será o 11 de Setembro para eles.
Penso que todos nós, hoje pensaremos no que estávamos a fazer nesse dia. Um dia que nós não esqueceremos, decerto. Um dia de que falaremos aos nossos filhos. Um dia em que morreram milhares de pessoas inocentes só porque sim. Um dia que também originou outros dias em que morreram milhares de pessoas e assim foi criada uma bola de neve. E todos os dias há tantos conflitos em que morrem pessoas e não há transmissões em directo na CNN.
Eu sei nunca vou esquecer o 11 de Setembro, sei disso com toda a certeza da minha alma, mas gostava também de não me esquecer de outras chacinas. Aquelas que todos nós esquecemos todos os dias.
18 comentários:
Estava em casa, a acordar c a minha filha. Liguei a TV e vi, com ela, aquilo tudo. Ela tinha 2 anos e meio. Não sei se lembrará mas de ver tantas vezes repetidas na televisão, sabe bem o que é. Nada a ver com a segunda guerra mundial, para eles isto é mais real do que as cassetes que usávamos para gravar música.
Eu estava a trabalhar. Lembro-me que a sala dos motoristas era a única que tinha televisão e estive lá a tentar acompanhar o que se passava (os sites informativos estavam "entupidos"). E lembro-me que não almocei nesse dia. E lembro-me de que nesse dia me senti cidadão do mundo de uma maneira diferente da que me sinto cidadão do mundo.
Eu referia-me ao paralelo da nossa geração em relação à 2ª guerra mundial, Clara. E estava a pensar no meu filho que ainda não era nascido no 11 de Setembro...
:)
Visconde, weren't we all?
"I want all this marked on my body. Where the real countries are. Not boundaries drawn on maps with the names of powerful men."
Foi diferente, Mente. Sinto-me cidadão do mundo porque viajo o suficiente para perceber que não somo tão diferentes como isso no essencial, independentemente do Deus em que cremos, independentemente de vivermos junto ao mar ou na montanha, independentemente do vivermos num país rico ou pobre. Nunca me tinha sentido cidadão do mundo no sofrimento, na partilha da dor.
Eu percebi o que queria dizer, meu caro, daí a escolha daquela frase que é dito precisamente num momento de dor, causado em parte pela guerra (neste caso a 2ª) e pela proximidade da morte.
Fizeste-me pensar no outro 11 de Setembro, aquele de que (quase) ninguém fala - o de 73...
Eu estava também em casa a dar o almoço ao meu filho e a ver os desenhos animados da dois, quando mudaram paraa Euronews e se viu uma torre a arder e logo a seguir uma explosão na outra, que a comentadora não percebeu ser outro avião. Fiquei arrepiada e a pensar que a terceira guerra mundial tinha começado.
reformulo, com a tua licença mas talvez sem a tua concordância:
«Um dia em que morreram milhares de pessoas inocentes só por causa do Bush.»
e tanto que é esta a minha convicção que quando, creio que ja seriam 14h, entro no bar do local onde trabalhava à época, e vejo, e me apercebo, e me contam, foi exactamente essa a minha exclamaçao, mas acompanhada por um impropério dirigido ao presidente do Mal que foi esse idiota, assassino e besta quadrada, cujas consequencias nefastas ainda estamos hoje a sofrer e iremos sofrer sei la quanto tempo mais.
pena nao haver justiça divina, porque pena não existir deus.
(por exemplo, cj)
lembro-me bem do dia. aliás, não sei como esquecer...
Eu soube quando estava a almoçar num restaurante em Moscavide. E lembro-me do silêncio que se instalou quando toda a gente encaixou o facto de não se ter tratado de um acidente.
Ui... Tanta coisinha que tenho para dizer aqui...
Vou só ali jantar e já cá venho...
SSV, de facto não posso concordar. Não porque concorde com a politica desse senhor mas porque não posso concordar que se culpe alguém por barbaridades cometidas por outrem ainda que essas pessoas se justifiquem com isso.
Os homens que entraram naqueles aviões, os desviaram e os lançaram contra os alvos que conhecemos, fizeram-no pela sua mão. Se foram instigados? Sim. Se o fizeram em resposta a algo? Talvez. Mas fizeram-nos. Entraram sozinhos. De sua livre vontade e causaram aquilo.
Eles não atentaram contra a vida do sr. George W. Bush. Se tivesse sido esse o caso, talvez pudesse concordar contigo. Mas não foi isso que aconteceu. O que aconteceu é que eles acabaram com a vida da Mary, do John, da Consuelo... E isso não há politica que desculpe.
CJ, lá está aquilo que eu dizia quando fazia a comparação com a 2ª Guerra Mundial. Embora me choque o 11.9.1973, eu não vi. Não senti da mesma maneira. Mas existiu e não deve ser esquecido. Assim como o Ruanda, o Darfur, etc, etc, etc.
O silêncio foi o que mais me impressionou também, Shark. Nós ouviamos sons de terror e não conseguiamos emitir um som.
Como se fosse possivel, ao ficarmos muito quietos, que o 'monstro' não nos visse...
Eu vi o de 73 em 75 ou 76 e o de 2001 em directo, mas a minha náusea foi muito semelhante.
Apesar de ser uma data complicada, não pude deixar de me rir com a cena do parvalhão!! Foi ele mesmo que deu a notícia! Parece que foi ontem. Passamos a tarde em frente à televisão, incrédulos, e ainda hoje me lembro do arrepio que senti ao ver a primeira torre desmoronar. Mas a imagem que mais me marcou (de entre as muitas que vimos) foi a núvem de fumo...e a ilha sem as torres.
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