A 11 de Setembro de 2001, deviam ser umas 13h20 quando recebi um telefonema do meu pai: "Tens a TV ligada? Não? Então põe as notícias, é inacreditável, parece um filme". Enquanto escrevo estas palavras estou a arrepiar-me. Nunca antes daquele dia havia sentido que estava a testemunhar em directo imagens que iriam mudar para sempre os destinos da História da Humanidade tal como a concebera até à véspera. Desde então nunca mais nada foi como antes.
A 11 de Setembro de 2006, sob o efeito de um documentário que vi na RTP2, escrevi este texto que ainda hoje faz sentido para mim. Não sei o que a TVs preparam hoje para nós mas lembrei-me disto que quero partilhar convosco.
Há cinco anos todos nós vimos na televisão. Não conseguíamos despregar os olhos daquelas imagens. Vimo-las dez, vinte, cem, mil vezes. Como se estivéssemos viciados nelas. De vista esbugalhada. De coração esbugalhado. No dia seguinte acordámos e ligámos a televisão de novo. Para ver se era mesmo verdade. Se não teríamos sonhado.
Ontem à noite (e antes disso, na 2) passaram vários documentários, entre outros aquele sobre o Homem em Plena Queda (The Falling Man). A famosa foto de Richard Drew que chocou tanta gente, que originou uma pesquisa, a qual deu resultados espantosos. Não interessa concluir sobre a identidade deste homem, cuja posição extraordinária ainda hoje me deixa perplexa: além de levar a cabeça para baixo, tem a perna direita flectida, como quem estivesse encostado a uma parede, a ver o tempo passar. Quando na verdade, é ele que passa pelo tempo à velocidade estonteante de uma morte, a morte mais mediática do onze de setembro. A morte que todos viram mas que ninguém viu, pois acredito que ele ainda estava vivo neste momento da queda.
Não interessa se era o tal do Jonathan Briley, cuja irmã deu um depoimento que deveria ser ouvido por todos, uma lição de vida e de serenidade. Ou se era o outro "suspeito", cuja família, de tão crente, se teria desmoronado se viesse a confirmar-se ser de facto ele o "suicida". Porque para eles (para elas) era a heresia suprema. Que o pai e marido pudesse ter decidido acabar depressa com tudo aquilo. Que tivesse dado aquele vôo. Estaria para elas condenado para sempre às chamas do inferno (e o que seria aquilo lá em cima? Uma sauna? Um solário?) se acaso tivesse cometido aquele crime aos olhos de deus.
Pois se houver deus, se houver Deus que mereça maiúscula, este e os outros "jumpers" do onze de setembro foram direitinhos para o paraíso. Straight to heaven. Pois aquilo, sim, foi um acto de suprema coragem. Tanta quanta a dos bombeiros que subiram quando todos os outros desciam.
E também um acto de suprema fé. Pois algures dentro do desespero inimaginável existiu um lampejo de esperança num milagre que os salvasse. "Talvez, talvez eu possa voar. Talvez, talvez haja um deus que me salve, que me ampare nesta queda, que a transforme em vôo".
E se Deus houve, Deus o(s) salvou. E ele voou para a eternidade.
(texto publicado aqui em 11/09/06)
Ontem à noite (e antes disso, na 2) passaram vários documentários, entre outros aquele sobre o Homem em Plena Queda (The Falling Man). A famosa foto de Richard Drew que chocou tanta gente, que originou uma pesquisa, a qual deu resultados espantosos. Não interessa concluir sobre a identidade deste homem, cuja posição extraordinária ainda hoje me deixa perplexa: além de levar a cabeça para baixo, tem a perna direita flectida, como quem estivesse encostado a uma parede, a ver o tempo passar. Quando na verdade, é ele que passa pelo tempo à velocidade estonteante de uma morte, a morte mais mediática do onze de setembro. A morte que todos viram mas que ninguém viu, pois acredito que ele ainda estava vivo neste momento da queda.
Não interessa se era o tal do Jonathan Briley, cuja irmã deu um depoimento que deveria ser ouvido por todos, uma lição de vida e de serenidade. Ou se era o outro "suspeito", cuja família, de tão crente, se teria desmoronado se viesse a confirmar-se ser de facto ele o "suicida". Porque para eles (para elas) era a heresia suprema. Que o pai e marido pudesse ter decidido acabar depressa com tudo aquilo. Que tivesse dado aquele vôo. Estaria para elas condenado para sempre às chamas do inferno (e o que seria aquilo lá em cima? Uma sauna? Um solário?) se acaso tivesse cometido aquele crime aos olhos de deus.
Pois se houver deus, se houver Deus que mereça maiúscula, este e os outros "jumpers" do onze de setembro foram direitinhos para o paraíso. Straight to heaven. Pois aquilo, sim, foi um acto de suprema coragem. Tanta quanta a dos bombeiros que subiram quando todos os outros desciam.
E também um acto de suprema fé. Pois algures dentro do desespero inimaginável existiu um lampejo de esperança num milagre que os salvasse. "Talvez, talvez eu possa voar. Talvez, talvez haja um deus que me salve, que me ampare nesta queda, que a transforme em vôo".
E se Deus houve, Deus o(s) salvou. E ele voou para a eternidade.
(texto publicado aqui em 11/09/06)
8 comentários:
Grande, grande, granda post.
(Bolas, que até ficou a cheirar a borracha queimada no meu pc da travagem que fiz quando ía publicar um post!!!! Fica para mais tarde.)
Gracias, Peixa :-)
beijo, cj
obrigada, cj, por tirares este post do arquivo.
Gostei desta tua visão dos factos, CJ.
E faço minhas as palavras da Gaija.
Um beijo pra ti tb, SSV
Ora essa, meninos, sempre às ordens :-D (não sei como se faz o bonequinho a babar)
Arrepiante.
Gostei da imagem de Fé do último parágrafo apesar de ter ficado agora aqui a pensar que não é diferente da que promete as setenta virgens.
Que orgulho, arrepiar a chefa...
Talvez não seja diferente, mas será, digo eu, uma espécie de fé inata, daquela que na hora de verdade imagino que 'assalte' todo e qualquer ser humano. Porque não acredito que ninguém, por mais 'crente' que fosse, se achasse naquelas circunstâncias e pensasse realmente que houvesse deus que quisesse que lá ficasse a arder nas chamas do - verdadeiro - inferno....
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