Chove(m Lágrimas) em Santiago e em Nova Iorque Também

Este é um dia que está marcado de forma indelével com a marca terrível de efemérides que ninguém gostaria de lhe associar. Exceptuando talvez os bandalhos que o mancharam de sangue e de nojo com os seus actos de pura cobardia e os imbecis que possam encontrar alguma espécie de vitória nos acontecimentos que, em anos diferentes mas com consequências directas sobre a vida de milhares de pessoas e indirectas sobre a de todos nós quantos povoamos este desgraçado planeta, associaram a uma folha do calendário memórias das mais tristes que o mundo produziu.

Se juntarmos os milhares de cidadãos chilenos mortos e desaparecidos depois do dia em que as tropas assassinas de Augusto Pinochet chacinaram um Governo democraticamente eleito a todos quantos perderam a vida pela liberdade no La Moneda nesse dia fatídico de 1973, o ataque terrorista às torres gémeas de Nova Iorque bate-se quase de igual para igual no número de vítimas.
E não se mede o horror com critérios estatísticos, tal como não se lhe avaliam dessa forma as consequências, embora a História acabe por definir as prioridades em função das conclusões que só o tempo permite aquilatar com alguma pertinência.
Certo é o bizarro paralelo entre o massacre chileno de pessoas que lutavam, à esquerda como podia ser à direita, basicamente pelos mesmos valores que outros canalhas tentaram destruir em 2001.
Em ambos os casos, com diferentes personagens, estavam em causa valores que são gratos a boa parte da população mundial e que a violência de fanáticos tentou destruir sem sucesso aparente.

Lamento de igual forma o preço pago pelos chilenos como o suportado pelos americanos nos seus 11 de Setembro, embora não possa deixar de lamentar também o custo que os dois acontecimentos podem acarretar na evolução (termo paradoxal neste contexto) da Humanidade de que todos fazemos parte, mesmo para os bandidos que se escondem como vermes para fugirem à punição pelo seu acto hediondo no World Trade Center e os que já não respiram o ar que poluíram com a sua passagem pela existência.
Em nenhum dos casos a História será branda na avaliação da indignidade e os seus nomes serão recordados apenas como maus exemplos, como aberrações que rejeitamos quase em uníssono pelo impacto negativo das suas acções.

Pouco me interessa agora apontar os culpados “por detrás” de tudo quanto aconteceu, os alegados responsáveis (os pretextos) que servem de (fraca) justificação para a barbárie apenas na (in)consciência dos que não sabem (ou fazem de conta) a distinção entre o Bem e o Mal.

Interessa-me, isso sim, amaldiçoar todos quantos nos dois 11 de Setembro atentaram contra os pilares da sociedade de que faço parte e colocaram em causa o futuro da minha filha que eu desejaria fosse vivido num mundo livre de medos, de imagens aterradoras e nunca com esperança cada vez mais reduzida naquilo a que pomposamente gostamos de chamar natureza humana.

20 comentários:

gaija do norte disse...

como é que explico ao meu filho, a quem digo que é errado chapar com uma fatia de bolo na cara do palerma do colega (meu rico menino!), acontecimentos desta ordem? já estará na idade de saber que uma besta não tem limites?

shark disse...

sabes que eu sou apologista de preparar a marafilha para o pior e desde que tive de assumir que o Pai Natal não existe e que não são as cegonhas quem traz os bebés já só me reprimo quando sinto que a posso perturbar.
acho que os nossos filhos precisam mesmo aprender a lidar com estas coisas, pois não me parece que o futuro lhes vá sorrir nesse particular.

sem-se-ver disse...

«Pouco me interessa agora apontar os culpados “por detrás” de tudo quanto aconteceu, os alegados responsáveis (os pretextos) que servem de (fraca) justificação para a barbárie apenas na (in)consciência dos que não sabem (ou fazem de conta) a distinção entre o Bem e o Mal.»

para além dos, mais uma vez, insultos a todos aqueles - dos quais faço parte - que se recusam a ficar pela espuma dos acontecimentos históricos sem se preocuparem em encontrar justificações para eles, o teu poder de análise é sempre tão superficial assim?

(por acaso até me diverti com essa convicção tua de que todos os historiadores, analistas e especialistas - nos quais não me incluo, mas tenho a humildade e a inteligência de ouvir e ler de ouvidos e olhos bem abertos - «não sabem (ou fazem de conta) a distinção entre o Bem e o Mal» - !!!!!! - ao buscarem - alegados ahahhahaha - responsáveis que servirão de - fraca ahahahahah - justificação para acontecimentos históricos que tenham sido hediondos.)

enfim. assim é complicado falar contigo, oh seu proprietário - quiçá único! - da distinção entre o Bem e o Mal e dos sentimentos de horror e indignação perante a barbárie.

gaija do norte disse...

para o gaijito as cegonhas nunca trouxeram os bebés, mas o caso do pai natal nunca ficou bem esclarecido... no entanto, e apesar de não lhe esconder a realidade, preferia que não soubesse já tudo, que tivesse direito durante mais algum tempo à fantasia de um mundo menos mau.

sem-se-ver disse...

(sim, gaija, acho que o teu filho já está na cidade certa; e concordo com a resposta que o shark te deu, também)

sem-se-ver disse...

:) oh gaija, mas o pai natal existe mesmo!!! já o esqueceste??

:))

gaija do norte disse...

(nunca! jamé!!!)

shark disse...

ssv, minha querida amiga, tu esgrimes a palavra "insulto" com a mesma ligeireza com que eu sacudo a pila depois de fazer chichi.
na superficialidade que me caracteriza também cabe a dissecação das culpas a quem sejam devidas e já disso dei conta por aqui e em vários outros cantos virtuais.
contudo, hoje é dia de homenagem, de lembrança das vítimas dos eventos em causa e eu tenho um estranho pudor em misturar julgamentos e sentenças com lágrimas de dor e perdas irreparáveis.
que queres, sou assim...

sem-se-ver disse...

sacodes a pila com ligeireza!

(gaija fecha os olhos que tu nao gostas de pormenores!!)

a palavra insulto é de devida aplicação quando se acusa outros, mesmo que indefinidos, a não saberem fazer a distinçao entre Bem e Mal ao encontrarem razoes para determinados factos historicos. porque maior insulto do que esse, se calhar e pensando bem, nem há.

capisce, rapaz?

que sejam assim mas um cadito mais cuidadoso só te ficaria bem...

shark disse...

eu sou cuidadoso e a prova disso é que a pila transpira saúde após 44 anos de sacudidelas...
:)

sem-se-ver disse...

*sejas

shark disse...

(mas olha que nunca, mas mesmo nunca vou encontrar um motivo válido ou uma causa justa o bastante para entender que mandem tanques e metralhadoras para chacinar meia-dúzia de políticos armados com velhas espingardas e pistolas ou aviões comerciais contra alvos civis...)

sem-se-ver disse...

ya, meu, pois, ok...

sem-se-ver disse...

(este meu ultimo era pras sacudidelas da tua pila)

shark disse...

(eu percebi logo)

Joaninha disse...

Para além de tudo o que representa o 11 de Setembro, para a Joaninha, o 11 de Setembro será sempre o ultimo dia em que falou com o seu grande amor, com a sua paixão ...
Por isso meu querido shark, quando eu entrei no teu blog e dei de caras com a tua fotografia, ia me dando uma coisinha má...
Para mim o dia 11 de Setembro, será sempre o dia ...

Joaninha disse...

... o dia do fim!

shark disse...

Joaninha, não percebi bem duas coisitas:
- perdeste alguém no atentado?
- qual fotografia?

Teresa disse...

(entrei mas já estou de saída...)

(ou não...)

Belo post, Shark.

(SSV, o que pensas sobre a liberdade de autodeterminação individual? O que é, para ti, a culpa?)

shark disse...

Muchas gracias, chefa!
(boa pergunta)