Socorro!, querem-me comer.

E eu estou a rir-me.
Por vezes, mas mesmo muito de vez em quando, tenho de dar a mão à palmatória e reconhecer que os homens são bichos estranhos, soltam-se-lhes assim uns apetites repentinos que nos deixam quando meninas a tremer que nem varas verdes e quando mais burras velhas a soltar gargalhadas que nem eu.

Não o vejo vão bem mais de vinte anos se bem que o vi tanto nessa altura que se passassem outros tantos não me iria esquecer dele. Era eu e ele e mais o outro e mais a outra e aquela e os outros dois e éramos alguns e durante cinco anos vivemos agarrados uns aos outros. A minha casa e a casa dele, uma de cada lado da rua como nos namoros sérios, eram as casas de todos e devo-o ter visto mais vezes nu do que vi o meu irmão, que ele também não era rapaz de muitos resguardos e o que tinha mostrava, fosse onde fosse e a quem fosse, parecendo-me até, assim quase que a modos de certezinha, que o chaveiro dele era mais conhecido que o guarda da porta férrea. Não havia queca que desse que não nos viesse contar, com todos os pormenores e os requintes da malvadez que nos fazia a nós, as da malta, rir a bom rir, salvaguardadas que estávamos de ser  vítimas daquele predador a quem a proximidade das vidas impedia os apetites das carnes. Nunca nenhum de nós cruzou o risco que nenhum de nós desenhara mas que lá estava, marcado a tinta que se julgava indelével e que era se não isso fluorescente de certeza já que nem as bebedeiras mais devastadoras que acabavam na manhã de um dia qualquer, com tudo ao molhe, num quarto desconhecido, nos fizeram quebrar a regra que era sagrada e nunca, nem nos mais longos Invernos, nos comemos uns aos outros.

Mas isto era dantes, quando as pradarias estavam cheias de gazelas e as feras ainda tinham pernas para correr que agora as barrigas já pesam e a fruta só mesmo a do sítio do costume. Então não é que o cabrãozinho, e cabrão é nome terno, me reencontrou hoje nestas coisas dos faicibuques e vai daí somos amigos, e isso não é de estranhar que amigos nunca deixáramos de ser, e logo de seguida, seguidinha, sem tempo para respirar nem para um olá por aqui e que fazes?, vem com ai continuas tão boa e se a malta coiso e tal e ninguém sabia e bebíamos até cair e acordávamos num sítio qualquer?
E agora, se fosse fim de semana, eu desceria à estrebaria, que estrebaria só abre aos fins de semana, feriados e sérias precisões dos caralhinhos todos do menino jesus, e soltava duas ou três do vernáculo mais profundo enquanto continuava a rir desbragadamente a lembrar-me do gajo no dia em que lhe desliguei o esquentador e lhe atirei com um litro do azeite lá da quinta por cima da cortina do duche porque olha lá, tu põe-me juízo nesses cornos, tu não achas que nem todo o álcool do mundo me impediria de desatar à gargalhada assim que tu pusesses a mão na braguilha para qualquer outra coisa que não fosse para um xixi em arco em cima de uma ponte qualquer?

E é por estas e outras que às vezes, muito às vezes, penso que os gajos são mesmo diferentes de nós, aliás, são mesmo diferentes de tudo o que é conhecido, é que não há força da gravidade que lhes valha e a pila, bem bastas vezes, sobe-lhes até à cabeça.

4 comentários:

Fusão do Atomo disse...

Tereza, não generalizes. ;-)

Joaninha disse...

Bem, esta história está fantástica :)

Teresa disse...

Fusão, estás a ser injusto. eu até comecei por dizer que nem costumo achar os homens bichos estranhos... :))

Teresa disse...

joaninha, obrigada, mas esta até é só um nadica fantástica. As fantásticas a sério estão guardadas a sete chaves...