Na maioria dos países, há leis bastante restritivas no que dizem
respeito à construção civil. Essas leis são necessárias porque
foi assumido que nenhum cliente final podia avaliar a qualidade dos
alicerces pelo que a informação sobre o produto não podia ser
suficiente para uma decisão de compra.
Assim, a lei obriga os construtores a fazerem casas com alicerces
suficientes para o edifício não cair. Faz sentido e é útil.
À uns tempos falei com um tipo de Marketing (mas bom) que me disse
que as pessoas chamavam “infraestrutura” às coisas que estavam 1
nível abaixo do que elas se preocupavam e, apesar do contexto ser
informática (o modo como os programadores vêm o hardware, os admins
de sistemas vêm os bastidores e os técnicos de hardware vêm a
energia no centro de dados) mas, podemos ver este caso a acontecer em
praticamente todos os sectores da sociedade, desde a política à mãe
que compra a imitação barata do chinês como brinquedo para o
filho.
Se calhar é o matemático em mim que vê um fractal (uma estrutura
que se repete desde a maior à menor escala possível) mas, mais do
que uma forma, isto é mas é estúpido.
Disse o Camilo Lourenço num comentário que fez no facebook:
“não sou eu que apoio o Governo, o Governo é que me apoia a mim.
Pois se eu ando a dizer há mais de 15 anos que o Estado tem de ter
contas públicas equilibradas... Eu fico muito contente por saber que
a Troika finalmente obrigou um governo português a pôr ordem no
peso excessivo que o Estado tem na Economia. Você e muita gente
podem não gostar porque isto dói. Mas também doeu em 78-79 e em
83-85, quando cá veio o FMI. O problema está aí: como a gente não
corrigiu os problemas fundamentais do Estado nessa altura, eles
reapareceram. Portanto desta vez a Troika está a obrigar-nos a fazer
aquilo que devíamos ter feito há muito... mas não fizemos."
Pessoalmente, acho que o Camilo tem razão até chegarmos ao próximo
nível do Fractal. O problema é que o problema fundamental não esta
na economia e, por isso, os economistas (e os jornalistas focados em
economia) desenvolvem uma zona morta no seu campo de visão.
Como pode uma organização ser boa sem controle? A resposta é óbvia
– não pode. E, por maioria de razão nós não vamos nunca ter um
governo decente até o conseguirmos controlar, monitorizar e punir.
O caso Catroga na EDP foi sintomático da promiscuidade que há entre
o governo e as grandes empresas (privadas) no país. Pode o sector
empresarial controlar (ou denunciar) um governo onde os membros têm
tantas relações de confiança? Claro que não.
Quando o Sócrates atacou os vencimentos dos Juízes, pela primeira
vez que me lembro, vi a notícia de que o tribunal de contas tinha
pedido todas as apresentações de despesas do governo para
fiscalizar as contas destes. Ora aí esta outro equilíbrio de forças
perfeitamente destrutivo, ó Governo, não te metas com a gente e nós
não te lixamos a vida. Por outro lado, ó Tribunal de contas, não
me lixas a vida e a reforma da Justiça fica adiada para depois, ok?
A própria oposição, com a disciplina parlamentar, fica sujeita aos
barões dos partidos que partilham a administração de empresas e o
cargo de "consultores independentes" em quanto não estão
eles próprios no governo (acho que é isso a que se referem quando
falam em alternância democrática).
E, termino nos jornalistas em que sempre que muda o governo mudam as
caras nos jornais (porque os outros são requisitados como assessores
de imprensa para o Governo) e onde todos pertencem a grupos
económicos debaixo de grupos empresariais. Será ainda possível
algum jornal Português fazer um artigo a bater forte na PT por
exemplo? Será que tal jornalista e Editor irá manter o seu emprego
durante muito tempo? Pessoalmente, acredito que não.
A Troika esta a obrigar o Estado Português a retirar da Economia.
Pessoalmente acho isso muito bom mas, há países onde o Estado tem
um papel ainda maior que o nosso na Economia e onde as coisas
genericamente funcionam. Pois, este não é o único caminho, há
outros e, apesar de não gostar de nenhum dos outros, o potencial
para estragar tudo neste também é real (eu diria quase certo).
Acho que o melhor mesmo é, quando a troika sair de cá, darmos uma
de TMN e despedimo-nos com o celebre "Até Já" porque, não
vamos estar "Mais perto do que é importante".
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