HIDE AND SEEK

Desde o início dos tempos blogosféricos a questão do anonimato tem feito correr muita tinta nos monitores, tanto no plano dos autores como no dos comentadores. Interessa-me hoje a questão destes últimos.

Começo por deixar claro que o exercício do direito ao comentário anónimo implica a aceitação do eventual troco opinativo que deriva da liberdade de expressão que é sempre invocada quando alguém se insurge contra o anonimato sob qualquer das suas formas. E é disso que se trata aqui.

Quando alguém opta por se esconder por detrás do anonimato (e é de esconder que se trata) é porque pretende salvaguardar uma de duas coisas: a sua imagem, por sentir que pode ser afectada pelo que diz, ou a sua pele (por temer a represália inerente a qualquer excesso que cometa, como um insulto ou assim).

Mesmo quando a pessoa anónima pretende apenas dizer uma verdade necessária mas receia as respectivas consequências, e por muito boa que seja a sua intenção, está a fugir à responsabilidade inerente ao seu gesto e nesse caso estamos perante um acto de cobardia, variando apenas no grau e no pretexto relativamente a tudo o que um insulto mascarado engloba de pejorativo. É a diferença entre um medroso e um merdoso, bem vistas as coisas.

Colocadas essas coisas no plano devido, é inevitável concluir que o anónimo capaz de utilizar essa vantagem competitiva para poder denegrir alguém sem ao menos aceitar o preço a pagar, as mazelas na imagem de pessoa de bem, com a formação pessoal elevada que transpira do que diz com a identidade destapada, não pode fugir ao estatuto que assim abraça. E a cobardia custa sempre a engolir diante do espelho, excepto se a pessoa em causa for demasiado estúpida para perceber esta lógica simples: insultar sob a capa do anonimato equivale a apedrejar alguém pelas costas escondido atrás de uma árvore.

Daí me parecer necessário chamar os bois (os anónimos, no caso concreto) pelos nomes para de alguma forma equilibrar a parada.

É que se a pessoa insultada ou denegrida acusa o toque mas tem que disparar às cegas e correr o risco de ficar mal vista se responder à altura do que lhe disseram, a outra pessoa que sentiu o prazer mesquinho, porque impune, de dizer algo que não teria tomates para repetir com a identidade a descoberto, não pode deixar de vestir a pele cobardolas perante os factos que estão à vista no que acabo de afirmar mas também na percepção de quem lhes lê as atoardas.

Menos cobardes só mesmo os que preferem fugir depois de atacarem os outros.

Pelo menos tiveram a coragem necessária para darem a cara pelas suas ousadias fedelhas.

19 comentários:

Olinda disse...

gostei muito e concordo com o que dizes. porém, agora lembrei-me disto: será que eu sou considerada anónima - ou tu - não pelo conteúdo do texto mas pela não utilização do nome que está timbrado no bi? :-)

Teresa disse...

Sinhã, para tu seres anónima por aqui bastava-te assinar com o tal nome que te está timbrado no bi, tal como o Shark.
Parece-me que o post do Shark trata só disso, de haver tomates para dar a cara que se tem e o nome que nos identifica ou preservar a imagem pública que tanto trabalho deu a construir e, refugiados num anonimato qualquer, cuspirem o lixo que são e teimam em esconder. Acredito que estes anónimos não se escondem no anonimato, eles são assim, baixos, vis, execráveis e o anonimato é para eles uma libertação porque eles escondem-se sim mas na personagem que criaram e que vendem aos incautos que a compram.

Teresa disse...

(e o que acabei de escrever vale no virtual e no real, por isso sempre gostei mais de estar atenta aos pequenos pormenores que às grandes obras...)

Olinda disse...

ah, pronto, fico contente de haver quem pense como eu, Teresa. haverá, no entanto, quem me considere anónima. no fundo, e à minha superfície, é a consciência de cada um que dita o anonimato, a consciência e os tomates ou os ovários, não fosse eu tal e qual eu. quer dizer, não fosse a sinhã tal e qual sinhã.:-)

Olinda disse...

essa questão do virtual e do real também é interessante. eu não sou, nem o que escrevo, virtual. eu ando sempre no real.:-)

Teresa disse...

E aqui concordo eu contigo - o tal virtual é só mais uma fatia do real

Mente Quase Perigosa disse...

(Grande post, Bruce.)

Olinda disse...

dependerá, obviamente, da virtualidade. e do conceito de real. e do de verdade. concluo: não sei o que me é ser virtual - mas sei o que é ser virtual.:-)

shark disse...

Sinhã: a minha Chefa preferida respondeu-te muito melhor do que eu o faria...
:)

shark disse...

Peixa: há muito não conseguia arrancar-te um elogio assim.
:)

shark disse...

Chefa: gosto muito de ti.

Sinnerman disse...

Anónimos, no fundo, somos quase todos. A menos que te chames mesmo Shark (e não, eu nao me chamo TLD).

Alguém liga, mesmo, ao que dizem os que assinam como "Anónimo"? Já todos perceberam como funciona aqui a coisa e eles próprios. Assim sendo....cagar e andar. Deixá-los a falar sozinhos. A menos que se goste duma bela troca de palavras. Não é grave Shark. Deixai-os andar. ;)

shark disse...

Compreendo onde queres chegar, TLD, mas discordo nessa do "somos todos anónimos".
É que eu chamo-me Jorge, sou de Moscavide, trabalho em seguros e tenho a minha foto espalhada por todos os blogues em que participo.
Anónimo não é propriamente isso, é mesmo aquilo de que eu falo na posta.
A cobardia provoca-me urticária...
;)

Alberto Oliveira disse...

Não professo a teoria de São Tomé (ver para crer) mas ando lá perto. De facto, à excepção de algumas figuras públicas (e mesmo aí existem blogs que não são assinados pelos próprios) o leitor ou comentador do que se publica na blogosfera, ou aceita os nicknames dos editores ou dá cabo da mona a imaginar quem de facto está por detrás da edição. A Sinhã questiona bem no seu primeiro comentário/questão mas a Teresa responde-lhe à letra; qualquer nome (até o do BI) não pressupõe a perda do anonimato. O caso muda de figura se a Sinhã, através dum e-mail, revelar o seu verdadeiro nome e acordar encontrar-se com Teresa e estiver disposta a mostrar-lhe o BI. Apesar disso, ninguém poderá garantir que a pessoa que se vai encontrar com Teresa, seja a Sinhã da Blogosfera... nem Sinhã (açorda ou não) terá a certeza que está a falar com Teresa...
Nos anos que levo desta cena ( e onde tenho conhecido pessoalmente imensa gente) nunca mostrei nem pedi o BI a ninguém. Mas podem crer que algumas vezes (poucas) me arrependi de não o ter feito. Os "exageros" sobre a idade, ocupações, habilitações literárias, etc, são os mais frequentes e desmontam-se passado algum tempo, porque fabricar uma mentira em diversas direcções não é nada fácil.
Sobre os comentários "anónimos" a coisa não é dramática e TLD toma a posição que me parece mais coerente: "quanto mais importância se lhes dá, mais os gajos se esticam". E será bom lembrar que o anonimato como capa de cobardia não começou com a blogsfera; é de todos os tempos. A diferença é que nestes tempos, são muitos, mas muito menos criativos...

Olinda disse...

esses filmes, que muito bem relatas, legível, são filmes a mais para mim. mentiras e enredos e aumentos e ser o que se não é, para mim não dá - os actores não devem dar borlas ou estarão a desvirtualizar a sua profissão.:-)

Alberto Oliveira disse...

Não estou a falar de cinema, Sinhã. Refiro-me à blogosfera e redes sociais com personagens tirados a papel químico da vida real. E acrescento que isso não me incomoda népia; cada um na sua, como diria o outro.

Olinda disse...

eu também não estava. :-)

alfacinha disse...

só são palavras ,ninguem tem de sentir culpado por dizer a verdade ou dizer asneiras .se todos continam ter maneiras
cumprimentos.

C. disse...

Ha pessoal que só ganha "personalidade" quando se mete um pc à frente e o anonimato.