Um político de carreira é alguém cujas competências são necessariamente focadas em (1) convencer as pessoas de que ele é a pessoa em quem votar, em (2) convencer as pessoas de que ele faz as coisas bem e os outros fazem as coisas mal, e (3) convencer as pessoas de que em seja o que for que acontecer de bom o mérito é dele e em seja o que for que aconteceu de mal a culpa é dos outros.
Outras qualidades necessárias a um político de carreira consistem em (4) criar e manter uma rede de contactos no tecido político e empresarial que lhe permitam ter apoios quando precisa deles, seja para o que fôr, sem prejudicar (1), (2) e (3).
Quase todos os actores da cena política nacional são políticos de carreira, o que, não fazendo deles todos iguais, em termos práticos significa que pouco muda. A política hoje é algo que não se faz por convicções, faz-se segundo o ponto (4), e os actores do ponto (4) não mudam consoante mudem os políticos, são sempre os mesmos.
Isto significa que o que realmente condiciona a decisão política em Portugal não é o voto dos cidadãos, uma vez que o voto apenas permite seleccionar os actores da cena política segundo as listas apresentadas pelos partidos. Uma vez que o poder assenta não nestes actores mas na teia (4) que os suporta e alimenta, a natureza do regime tem de ser caracterizada segundo os vectores que seleccionam essa teia.
Portugal é uma oligarquia de pequenos grupos de famílias e amigos. Nessa oligarquia convivem, por um lado, uma plutocracia, composta pelos indivíduos e famílias que detém os principais interesses económicos no país, e por outro lado uma oligarquia de base partidária, que ao mesmo tempo se justifica e promove a dificuldade de romper o domínio tradicional dos partidos do chamado "arco do poder".
Esta oligarquia é mantida em funções pela Constituição da 3ª República Portuguesa, que permite perpetuar o poder da meia-dúzia ao mesmo tempo que só pode ser alterada - salvo uma revolução - pela própria oligarquia que protege.
Isto, em economia, chama-se um "cartel" e dá cadeia.
Ou devia dar. Mas os oligarcas arranjam sempre maneira de se safar uns aos outros.