Naquele tempo (porque ainda não sou tão antiga que já possa dizer “no meu tempo”), íamos para a praia de manhã. Antes de sairmos, a mãe preparava um pequeno cesto para os apetites fora de horas.
Chegávamos e a primeira brincadeira começava. Havia que marcar os nossos (ainda pequenos) pés na areia cuidadosamente limpa e alisada pelo banheiro no interior da barraca. Lembro-me que as minhas preferidas eram as que combinavam as riscas brancas com turquesa e vermelho. Ajudávamos (acho…) a desfazer o saco e começávamos à procura dos grandes amigos que por vezes tínhamos conhecido na véspera. Jogávamos às escondidinhas, às caçadinhas, ao prego. Não tenho memória de simples castelos de areia, mas de grandes fortes com resistentes muralhas. Por vezes, ao fim da tarde, juntávamo-nos em grandes rodas e, sentados na areia, cantávamos. Eram a melhor forma de terminar o dia. De vez em quando íamos à geladaria da praia, à Esquimó. Os gelados grandes custavam cinco escudos e os pequenos vinte e cinco tostões. Nem todos os dias comprávamos os mais caros!
Entretanto, aproximava-se a hora do pai chegar. Ficava um bocadinho na praia connosco onde se apressava a esquecer o dia de trabalho. Depois arrumávamos os brinquedos no enorme saco que o banheiro recolheria no armazém do concessionário. Regressávamos a casa cansados e felizes. Os quatro.
Há 2 anos
25 comentários:
(Tenho saudades do dinheiro português...)
E este post fez-me lembrar uma carrada de cenas porreiras. Nomeadamente as cenas porreiras que passam no horizonte e de que eu já gostava em piqueno.
estou certa, peixão, que ainda hoje não te faltam cenas porreiras no horizonte.... e sim, não dúvido que já as apreciavas em piqueno!
Não sei se é assim para ti mas a mim parece-me que foi há tanto, tanto tempo!..
Nós fazíamos fornos. E recolhíamos os pauzinhos dos Rajá para queimarmos e ver o fumo a sair pela chaminé. E fazíamos corridas com os ciclistas de plástico que comprávamos no bazar Ajuara ou no bazar do Porto. E sim, jogávamos ao prego, às pedrinhas e às escondidas nas barracas.
Caramba, também tenho saudades. Mas o mais engraçado é que basta-me ir à Figueira e encontro todos os meus amigos desse tempo e os nossos filhos brincam juntos quase como nós brincávamos.
E sim, o saco dos brinquedos ficava na praia, ainda hoje fica, num enorme monte coberto de oleado ao lado da barraca do banheiro.
Muito tempo, CJ. Mas lembro todos os pormenores e sou capaz de sentir o sabor da sopa de legumes que ia para a praia no termo ao xadrez vermelho. Sem dúvida as melhores sopas da minha vida, as sopas comidas na praia.
os pauzinhos do rajá eram os mastros das bandeiras do castelo...
muitos dos amigos eram primos e essas amizades sim, ainda conservo.
oh chefa, o termos de xadrez vermelho depois de partido ainda andou anos lá em casa, só pelas recordações!
se as memórias estão tão vivas, gaijas, não foi há muito tempo, foi ontem.
Gaija este de que falo acho que também está partido e também ainda anda lá em casa.
E sim, foi ontem, mas o sabermos que nunca mais pode voltar a ser hoje ou amanhã é lixado.
se fosse hoje ou amanhã, que recordações terias de ontem?
Em Agosto, no Algarve, íamos pelo meio-dia. Ainda não se falava de cancro da pele. Levávamos sandes de atum e de queijo. As primeiras perfumadas com o que tinha sobrado da salada de tomate e pimento da véspera. As segundas com folhas de alface. Também havia fruta da época e biscoitos. Os (as) nossos (as) amigos(as) tinham chegado às 10. Estavam ansiosas pela nossa chegada (e nós também!). Só tínhamos uma hora, máximo hora e meia para brincar. Depois elas iam almoçar. Nós ficávamos. Voltavam pelas 15h30 mas só podiam entrar na água às 17h00. Três horas para fazerem a digestão. Nós podíamos tomar banho sem intervalo porque íamos petiscando ao longo do dia. Nas marés vivas ficámos na (pouca) areia que sobrava e aí sim, descobríamos as brincadeiras de quem não podia estar o dia todo dentro de água: o prego, os saquinhos (de arroz) e todas as variações do burro(em pé, sentado e o outro que não me lembro). Ao fim do dia íamos à gelataria comer gelados de cone. Se saíssemos muito tarde, o gelado ficava para depois do jantar. E o que realmente é estranho é que havia tempo para tudo!
Gosto do teu new look, gaija!
Vocês, por acaso, lembram-se de uns macacões de turco colorido, fecho à frente com uma argola grande para puxar, bolsos de chapa no calção e cinto de fivela? Assim muito anos setenta? Eram a roupa oficial de levar para a praia.
Lembro-me de uma amiga mais velha ter uma cena dessas e eu verde de inveja...
(isto foi antes do 25 de Abril, não foi?)
Tava a brincar... Eu também me lembro dos toldos e dos castelos e dos gelados...
Mas não tem que ser necessariamente passado. Digo eu...
(que tenho 2 cães a tentarem comer-se um ao outro no quintal. Nesta casa é tudo tarado, pá...)
(Dois? Andam a passar-se coisas nas minhas costas, peixa?)
(Sempre, CJ!!!!!!)
:p
(pois... isso sei eu... :-S)
(mania da perseguição, pá!)
(;-p)
Então mas ganhaste mais um cão, foi?
Veio de fim-de-semana.
(isto aqui no Sul, até os cães passam fins-de-semana fora. Chiquérrimo!)
tive um macacão desses, chefa. era de fundo branco às bolas cor de laranja e turquesa com bilinhas brancas dentro dessas!
também jogava ao burro e à bisca...
as horas das digestões eram mais ou menos respeitadas.
e tu, peixa mailinda, fica a saber que se passou também depois do 25 de abril!
Eu foi antes do 25 de Abril, na praia de Mira. E eram barracas grandes, a nossa já era dos avós, acho. A fila era toda de amigos da minha mãe, gente de Cantanhede e da Pocariça, jogávamos ao prego, às cartas e ao hoorível mata com um ringue muito duro. Bons tempos.
Antes de vir para o algarve. Ah pois, e os baldes ficavam na barraca do banheiro.
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