Tinha saudades de um dia assim, cinzento, a cheirar a Outono.
Este foi o ano da praia. Há anos que não fazia tanta praia como fiz este ano. E tem graça este "fazer praia". Há pouco saiu-me outra, a "ter escritos". Expressões que já quase não uso e que hoje, talvez pelo cinza nostálgico, me têm saído como se fizessem parte do meu dia a dia palavreiro.
Mas fiz praia este ano. Fiz muita praia. Fiz o que nunca tinha feito desde que aqui cheguei - usei e abusei de mar e areia. Durante quase um mês alterei as minhas rotinas todas e estendi-me ao Sol e mergulhei nas ondas. Primeiro com aquele colete ridículo que me deixava a flutuar como se nunca na vida tivesse dado uma braçada ou furado uma onda, depois com a velha bebedeira da liberdade de nadar no mar. Era ali, é ali, que volto a reconhecer o meu corpo, que me sinto de regresso, que esqueço o balançar que a terra me dá como se velha marinheira fosse. É na água, no mar, que volta a miúda que tem andado fugida de mim, que sinto que reencontro a minha graça perdida, que esqueço, por longos momentos ou curtas horas, a neura que carrego há meses. Quatro, quase.
Fez-me bem fazer praia. Ou espero que tenha feito. Não fechei o negócio fantástico (filho da mãe do estupor do gajo), a fossa continua entupida, a perna coxa, o meu portátil sem funcionar, a conta do banco quase a zeros, mas tenho muita praia feita. E fazer o que quer que seja, mesmo que praia, é sempre acrescentar algo de novo ao antes e este ano acrescentei-me com um imenso castanho bronze, com todo o sal que lambi da pele e que me soube pela vida e com recortes de tempo de Sol para os dias, cinzentos como o de hoje, que não tarda vão chegar.
Este ano, este Agosto, voltei a fazer praia. E soube-me bem. Muito bem.
3 comentários:
e eu tinha saudades de te ver por cá. muitas.
E eu também. algumas (não te quero vaidosa, chefinha).
Sem falar em teres ficado loira com tanto sol, mas isso pode-se pintar... Eu vou pintar de castanho.
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