Nem mesmo o canal público de televisão, de alguma forma obrigado a não ceder à tentação do grotesco, conseguiu escapar à exposição das imagens sangrentas de um local do crime, o assassinato de um Presidente, encharcado pela barbárie.
O apelo irresistível das ganâncias que as lutas por audiências despertam nos profissionais da informação transforma aos poucos em autênticos vampiros os jornalistas que, de resto, abdicam sem cautela do bom senso que até a eles interessaria prevalecer.
À noite, mais sangue a correr nas imagens não editadas de um acidente de viação. Espalhado nas carroçarias deformadas e na parede onde um transeunte azarado acabara de morrer.
É isto que nos dão a ver e aos nossos filhos que deitam o olho pela surra às imagens que nos prendem a atenção e nos afastam aos poucos da vontade de saber mais acerca de um mundo tão fértil em factos que nos perturbam, mesmo sem a respectiva visualização.
Um serviço público por nós suportado e que aos poucos se tem transformado em apenas mais um no grupo medonho de irresponsáveis sem tino bastante para que lhes sejam confiadas as responsabilidades inerentes à missão de informar.
Há 2 anos
18 comentários:
Ainda bem que não vejo televisão...
Nunca mais me queixo de me obrigarem a ver desenhos animados!!!!
Tás como eu, venham o Disney, o Panda e o Nickelodeon!
No Disney é só orfãos a chorar, tipo Simba e Bambi...
Bom, temos sempre o Baby Channel...
Ok... Tou a ficar verdadeiramente deprimida...
Tipo... Dêem-me a catana do Nino para eu cortar os pulsos que este mundo não tem salvação????
(E eu tenho o XXL, mas só de quinta a sábado...)
Não fiques, Dóri. Há um lado bom da vida, só que parece não fazer escola na abertura de telejornais.
Ando há tempos para contar esta história. Vai aqui.
Há uns 15 anos andava a fazer uma reportagem para o Canal 1 sobre casos antigos de atentados ao pudor, violações e quejandos. Fui parar a uma aldeia perto de Setúbal onde entrevistei um tipo que tinha estado preso por ter tido relações sexuais com uma menor. Ele, anos depois, ainda jurava que tinha sido ela a seduzi-lo, que a rapariga não tinha juizo nenhum, que ia ter com ele e o provocava e que apesar de ter 15 anos lhe jurou que tinha 19 e parecia que tinha essa idade. A história dele era convincente e a da mãe da rapariga, que apareceu a dizer de sua justiça, também ajudou na festa. A mãe achava piada e dizia que ele não devia ter sido preso porque a filha é que, literalmente, lhe tinha saltado para cima. O enganado tinha sido mesmo ele, que teria 20 ou 21 anos na altura.
Até aqui tudo bem, só quem não lidou com situações destas pode duvidar da veracidade desta versão da história.
A rapariga por essa altura já estava casada e tinha filhos, mas a mãe insistia que eu devia ir a casa dela para aparecer na televisão. Recusei-me a fazê-lo. Não disse o nome dela, não mostrei imagens da mãe. Achei que não valia a pena remexer a lama.
Escusado será dizer que quando cheguei a Lisboa levei uma rabecada da produção - a grande reportagem era mesmo essa que não fiz, mostrar o lixo todo...
É fácil, muito fácil, seguir este caminho. Dá audiências e os próprios interessados em salvaguardar a privacidade se oferecem voluntariamente para servirem de carne para canhão na ânsia de terem cinco minutos de fama.
Bruce??? Como o tubarão??? LOLOLOLOLOLOLOLOOLOL
Obrigada pelo sorriso que me puseste. Até me apetece dizer: Os peixes são amigos. Não são comida!!!!
Pois,Teresinha, mas tu dormiste melhor de noite, não foi?
Ainda bem que há Teresas...
subscrevo a tua indignação, shark (mesmo não vendo tv - por essas e por outras)
Teresa, eu abandonei a carreira por vários motivos e um deles está cada vez mais à vista...
Claro que é o Bruce tubarão, o teu amigo!
É mesmo a questão de princípio que está em causa, sem-se-ver, já abdico do mau gosto e do despropósito como argumento...
Eu também não tinha estômago, Shark e sim, Mente, dormi e durmo bem
E é também por uma questão de princípio que não vejo televisão, ou vejo muito pouca.
Ontem, e exactamente por causa do exagero nas notícias, um amigo voltou a lembrar-me a história do Tsunami. Ele chegou à Tailândia, que já conhecia muito bem, tal como todas as Ilhas em redor, no dia do Tsunami. Voltou a Portugal passado um mês depois de ter calcorreado todos aqueles sítios. Quando chegou cá e viu as notícias que ainda passavam achou que tinha havido outro Tsunami...
É que é mesmo, eu janto a ver o canal Disney e vejo as notícias na TV da cozinha quando vou levar pratos. Ou de manhã ao pequeno almoço. Os meus filhos foram poupados às imagens sangrentas. É cada vez mais dificil explicar o que acontece e porquê.
Teresa, quanto à tua história, não concordo contigo. Devias mostrar os dois lados da história, e se a mulher estava disposta a dar a versão dela, devias ouvi-la. E se realmente a aldeia era pequena e todos se conheciam, ele devia saber que ela tinha 15 anos, e por mais atiradiça que fosse, a responsabilidade era dele, de a repelir.
Gabs ela não queria contar uma história, queria aparecer na televisão.
Já não morava na aldeia e achei perfeitamente escusado escancarar a vida dela à curiosidade dos filhos, vizinhos, colegas de trabalho, que poderiam não saber de nada.
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