Da Gestão do Assédio (andante cantabile)

A melhor maneira de evitar o assédio é marcar um jantar. Como somos cavalheiros, oferecemos boleia à donzela. A melhor opção é tentar arranjar um Seat, de preferência o modelo Ibiza (aquele vosso vizinho que conduz com um boné de basebol com pála virada para trás tem um Ibiza, de certeza, é pedir-lhe o carro emprestado e dizer que é por causa de um caso de assédio, o miúdo empresta, de certeza). Se, de todo, não se conseguir um Seat, preferencialmente um Ibiza, é tentar um Nissan Qashqai, mas tem que se prateado. Os Qashqai de outras cores também seriam eficientes, mas eu nunca vi Qashqai de outras cores.

Chegados a casa dela, no Ibiza (arranjem uns protectores dos encostos de cabeça com o símbolo do glorioso, dá sempre mais impacto), é travar de repente à porta dela, buzinar e dar umas aceleradelas em ponto morto, enquanto se espera. Impressiona, a sério.

A escolha do restaurante tem que ser meticulosa. Vale a pena perder algum tempo com este pormenor, porque na maioria das vezes elas nem chegam a entrar no restaurante e a missão fica logo resolvida. Os restaurantes de rodízio são aposta certa, aquele cheirinho a gordura e o empregado a interromper constantemente a conversa para oferecer salsichas e pernas de frango costuma ser fatal. Se não houver espaço no Chimarrão (às vezes não há, o mercado de tipos que não querem ser assediados está em alta...), podem sempre escolher o restaurante da Passerelle, aquele cá em cima, no primeiro andar, à esquerda de quem entra (cumprimentem com um abraço o Joaquim, o porteiro, o efeito é impressionante).

O tema da conversa? Simples, falem de como o vosso casamento é infeliz e como seria fantástico ter alguém de vez em quando, mas muito de vez em quando, para desabafar e contar os pormenores do casamento infeliz, mas extremamente infeliz mesmo. Se ela sobreviver à conversa (não sobrevive), reservem-lhe um final feliz. Chemem o empregado, enquanto palitam os dentes, cotovelos em cima da mesa e cara quase encostada à dela (continuem a palitar os dentes) e digam ao Rui, o chefe de mesa "Ela paga o jantar, a seguir pago eu o Ibis da A5".

Não me agradeçam. Faço isto com gosto. Chama-se cidadania.

11 comentários:

sagher disse...

mas isso muita gente costuma fazer

CybeRider disse...

Após a "cidadania" fico a aguardar com curiosidade o episódio "recrutamento" caro Visconde. Hoje não vou por aqui, que ontem já me atasquei até ao pescoço. Mas curvo-me perante a forma escorreita como manobra a pena. Grande mestria.

Teresa disse...

Donzela??
A do assédio, com esforço, ainda compro, agora que é assediado por "donzelas" já me é difícil, muito difícil, de acreditar...

Marias disse...

A Portugália também resulta. Mas a deixa do Ibiz é boa. Carros separados, no entanto. Nunca se sabe se são colas.

Visconde de Vila do Conde disse...

Sagher, meu caro, a minha missão é apenas a de sistematizar alguns ensinamentos.

Visconde de Vila do Conde disse...

Cyber, o meu caro não se atasca. Descodifique essa coisa do "recrutamento" e terei todo o gosto em aflorar a temática.

E agradeço-lhe a gentileza. Nós aqui divertimo-nos a escrever e é sempre um gosto quando intuímos que quem nos lê também se diverte.

Visconde de Vila do Conde disse...

Tereza, na verdade não me assediam. Isto é a minha imaginação, bem vê...

Visconde de Vila do Conde disse...

Gabs, a Portugália não é absolutamente eficiente, vá por mim...

CybeRider disse...

Caro Visconde, lamento ter cá voltado tão tarde, porém devo confessar que nunca me tinha passado pela cabeça a forma singular como o vi abordar esta temática complexa. Bem vê, sempre tive a árdua tarefa do predador que tem que ser hábil se quiser comer. No meu campo de caça nunca me vi como presa. A situação que relatei no meu outro comentário ao seu outro artigo, aplica-se a uma savana que desconheço. Estava com esperança que me mostrasse as vantagens de fazer parte de tão magnânime exército, partindo do princípio que falamos da minha pradaria. Porém, como referiu à Tereza que tudo é uma ficção. Gorou-me a esperança.

Teresa disse...

Cybe, nosso Visconde é assim, hábil com a pena e com uma imaginação muito fértil...

Visconde, ficou cansado de tanto escrever e foi passar o fim de semana fora ou ainda anda a tentar que lhe emprestem um Ibiza?

Mente Quase Perigosa disse...

Bolas, que uma gaija até fica com medo de assediar um gaijo (with all due respect)...

A próxima vez que me aparecer um Ibiza à porta (dificil que eu estou com a Gabs: carros separados) trato o condutor por Visconde para ver o que acontece!