Lembro-me bem do cagaço que apanhei quando pela primeira vez um amigo me desafiou para irmos comer uma francesinha. É que eu tinha acabado de viver um período intenso ao longo do qual quase fui devorado por uma belgazinha e não fazia ideia daquilo a que ele se referia.
Claro que a minha expressão deixou bem claro que apesar da surpresa inicial seria homem para partilhar com o rapaz a estrangeira a que ele teria deitado a mão. Mas afinal não. Após um grande baile que fui levando pelo caminho acabei por chegar à mesa de uma cervejaria onde aterrou não uma curvilínea franciú mas um pão mergulhado num molho assim para o alaranjado.
Depois de conceder ao meu amigo o tempo necessário para conter as gargalhadas, duas imperiais, fui tentando cheirar aquilo enquanto desviava com cautela a fatia superior para tentar perceber o que continha no interior. Claro que a minha desconfiança aumentou quando ele me esclareceu que se tratava de uma cena do Porto (naquela altura eu tinha uma noção um nadinha… benfiquista da Imbicta) e ainda emborquei mais uma imperial para ganhar coragem.
Finalmente, e depois de observar com atenção a cara do outro enquanto saboreava a coisa, acabei por levar aquilo à boca na firme convicção de que iria detestar. Não detestei, para meu espanto. Antes percebi como é injusto uma pessoa dizer mal daquilo que nunca provou, ou pior ainda, que nem sabia existir. Enquanto o meu palato degustava aquele sabor novo, diferente, meio doce meio picante, senti-me quase um tripeiro honorário. Nenhuma gente capaz de produzir uma coisa daquelas podia ser gente menos boa. Abençoados, aliás, por me proporcionarem tal privilégio, o de provar algo de tão especial, uma criação de sonho que entrou na minha vida com a força de uma revolução gastronómica no meu paladar.
Foi uma sensação inesquecível que ainda hoje me acompanha, sempre que me regalo com tal acepipe. Um prazer renovado, a que acrescentei agora o das irreverentes tostas mistas que naquela terra surpreendente abordam com uma perspectiva absolutamente inédita: não interessa o que se lá meta, interessa é que tostem!
Claro que isso torna uma tosta mista numa espécie de kinder surpresa, tudo pode acontecer dentro de um pão portista e nem vale a pena espreitar pois a ideia, dentro do espírito da francesinha, é mesmo fechar os olhos e confiar na tolerância do palato para com os sabores intensos e absolutamente originais que podem vir dali.
Ainda assim, não podia deixar de fazer o mea culpa alfacinha por algum dia ter posto em causa a mais valia que o Porto e as suas gentes (excluindo o Pinto da Costa, o Rui Rio, o líder da claque do FCP e mais uns quantos) no que concerne aos prazeres que a boca nos dá.
E confesso aqui esta minha pequena traição ao verdadeiro espírito lampião porque se pela boca morre o peixe, não é menos verdade que é também por aí que ele se alimenta.
E que me desabe a Torre dos Clérigos em cima se algum dia passei fome naquele bastião das iguarias com pronúncia do norte. Eu seja ceguinho!
38 comentários:
pronto, é hoje que a torre tomba!
Não vejo nada...
Vocês tiraram o dia pra me provocar, foi o que foi.
ONDE RAIOS ESTÁ A SOBREMESA?????
Tá no Porto, CJ, para mal dos meus pecados...
ó pá, diz onde que eu já não consigo olhar para estes docinhos!
TOU AQUIIIIII
Em resposta ao título, eu apaguei a luz, tenho dois pequenos muito ecológicos e jantámos sem TV, à luz das velas. Ontem, na tal Hora do Planeta, Era a isto que te referias?
tás no Porto, cj?
E EU TOU AQUI!!!
Bem, Gabs, podemos considerar como uma a(LUZ)ão vaga ao tema...
:)
Mas dou os parabéns a todo o clã por esse gesto louvável a que, para minha vergonha, não aderi...
Eu desta vez não aderi, porque nem sequer soube... :-(((
Gaija, se eu estivesse no Porto ou nas redondezas já te tinha batido à Porta... (topaste o trocadilho??)
oh Shark, vocês por favor dêem-me tempo a ler antes de publicarem mais, caramba não dou vazão a tanta novidade por aqui
Bimbo... és mesmo bimbo... comeste uma belga antes de comeres uma francesinha???
(mas as melhores francesinhas do mundo não estão no Porto, estão (ou estavam...) em Coimbra, no Brasília...
(só me faltava esta!)
Sem dúvida. As do Brasília eram muito melhores que as do Capa Negra!!
Mas muito melhores, Elle.
(acho que está aqui a nascer uma bela amizade....)
E as tostas de frango do Raul, também provaste?
o da leitaria?!!! :D
Esse. Na esquina em frente ao botânico! Eram tão boas.....
Elle,fui ver o teu blog. Gostei muito. Mesmo muito. É inebriante. Já está ali na coluna do lado.
(já acabaram o namoro? só cá vim dizer que o capa negra tem as piores francesinhas da cidade...)
E o Brasília tem as melhores francesinhas do mundo.... (o molho, gaija... aquele molho é orgásmico...)
não sei se ainda existe... isto das circulares externas fazem-nos esquecer este lugares de culto!
(belos tempos!)
(e, by the way, vê lá se fazes refresh)
desculpas, Gaiga, desculpas...
Deixa-a lá que a gaija devia era estar caladita...
Circulares externas? Bem, acho que tenho de ir a Coimbra...
ahahah! isto nesta casa é muito rápido.. e a idade nao perdoa ;)
Gaija (posso tratar-te assim?). Diz-me lá então quais as melhores francesinhas do Porto. Vou lá frequentemente
ahahah! isto nesta casa é muito rápido.. e a idade nao perdoa ;)
Gaija (posso tratar-te assim?). Diz-me lá então quais as melhores francesinhas do Porto. Vou lá frequentemente
ahahah! isto nesta casa é muito rápido.. e a idade nao perdoa ;)
Gaija (posso tratar-te assim?). Diz-me lá então quais as melhores francesinhas do Porto. Vou lá frequentemente
E lá fui eu também... Lindo, mesmo!
Logo 3, Elle! Não fazes a coisa por menos!
tenho de me impor, cj :D
não era preciso pedir tanto...
claro que me podes tratar por gaija. é o meu nome!
no gambamar costumam ser boas, mas há um tasco, mesmo tasco de arrepiar, em cedofeita onde são muito boas (não me lembro do nome... sou demais!!!), ou eram, já não digo nada.
Vocês não percebem nada - a Elle quer 3 nomes para poder ter opções...
e obrigada pelos elogios ao meus tasco. Tá paradito... (fases)
O gambamar é aquele na mesma rua do capa, do lado esquerdo de quem desce?
Gaija, gaija, se o brasilia não tivesse fechado dava-te a conhecer uma verdadeira francesinha...
é esse, sim.é raro comer francesinhas porque já apanhei muitos desgostos. talvez não seja a pessoa indicada para te recomendar um tasco em condições...
O Brasília fechou?!!! E tu dizes isso assim, sem anestesia?
Tenho uma história gira com o Brasília. Quando fui trabalhar para Lisboa ia todos os fins de semana a Coimbra e quando chegava, sexta à noite, ia jantar ao Brasília. Nessa altura comecei a escrever no Público e, sempre que chegava ao Brasília, tinha o jornal à minha espera e o dono (não me lembro do nome...) fazia questão de me dobrar a dose e depois discutir comigo o meu último artigo... Guardo isso na caixa das boas memórias.
Postar um comentário