Garanto que não me esqueço. Deviam ser umas 4 horas da tarde do dia 19 de Setembro de 1997. Eu estava deitada, e até sossegada, a ler Agatha Christie, quando ele entrou. Continuei a ler, tentando esquecer tudo aquilo, até que o ouvi dizer - são quatro dedos de dilatação.
Nessa altura, talvez por curiosidade, baixei o livro e ele olhou para mim.
Era um enfermeiro mais ou menos da minha idade e, achei eu, devia ser simpático. Pelo menos abriu um sorriso quando me olhou para a cara. Deve estar a tentar animar-me, pensei eu no meio de mais uma contracção. Ingénua... muito ingénua...
Ele continuava a sorrir, ele continuava com todos os exames que o tinham levado ali, mas ele já não continuava calado como eu, mesmo antes de o ouvir falar, desejava que estivesse.
Não, ele decidiu conversar. E foi a conversa que sempre sonhei ter numa altura daquelas.
- Hei!... Tu és a Teresa!... Irmã da G., cunhada do Q.... Fui da turma deles do liceu, lembro-me muito bem de ti apesar de nunca ter tido coragem para falar contigo...
e badádi, bádádá, vamos lá lembrar os bons velhos tempos...
Não, não vamos. Não, não quero saber se me conheces da sala de convívio do liceu, e se sabes o meu nome e se me viste noutros carnavais, porque lembram-se do que disse ali em cima? Quatro dedos de dilatação! E sim, quem por lá passou sabe bem que estas coisas não são medidas com régua e muito menos a olho.
Portanto, recapitulemos, aquele gajo, sim, de repente tinha passado a gajo, escolheu uma das alturas mais constrangedoras da minha vida para dizer que me conhecia! E disse-o a olhar para mim, olhos nos olhos, como se nada estivesse a acontecer, como se não tivesse acabado de me tirar as medidas como poucas, muito poucas pessoas, as tiraram.
Percebo tudo. Percebo o profissionalismo que descaracteriza, percebo a vulgaridade do gesto que lhe retira qualquer emoção, percebo o acto médico, mas caramba, somos nós que estamos ali e, para nós, de vulgar tem muito pouco.
Não sei como foi com vocês, outras gajas, mas para mim o que mais me custou nos partos foi o ter perdido, mesmo que por pouco tempo, a minha carga sexual.
Quase que parece que nos dizem que os filhos nos retiram a sensualidade e que quando somos mães deixamos de ser mulheres.
A polémica está instalada no Facebook. Kelli Roman viu serem-lhe proibidas no perfil fotos onde aparecia a amamentar o filho por terem sido consideradas "obscenas" pelos administradores do site. Vai dai iniciou um grupo, o «Hey, Facebook, breastfeeding is not obscene!», para que seja prmitido partilhar na net imagens de mães a amamentar.
Até aqui tudo bem, tem todo o meu apoio, porque considerar esse tipo de fotos obscenas só pode vir de gente doente e censurar o que queer que seja, mesmo que obsceno, causa-me calafrios. E mostrar um peito está longe de ser obsceno, tenha ou não tenha um bebé na ponta.
Mas é isso que não percebo. Porque é que um peito, que não é obsceno mas é sensual, ou pode ser, passa a ser inócuo sensualmente falando se estiver a ser usado para alimentar um filho.
Nunca amamentei em público e não foi propriamente por vergonha, mas recuso-me a aceitar que se não posso, ou não devo, ou não quero, abrir a camisa no meio do restaurante e mostrar o peito ao comensal da frente, porque razão o hei-de poder fazer se for para dar de mamar?
É bonito de ver? Está bem, até é, mas um peito sem bebé também pode ser bonito e isso não é desculpa para andar sem camisa.
É natural? Sim, claro, mas posso dar mais um ou dois exemplos de coisas naturais que não se costumam fazer na frente de multidões.
Sim, já sei, uma mãe a amamentar um filho é quase divino, concordo, mas lá está aquela coisinha que me chateia - as mães, pelos vistos, não têm sexo. Seja estendidas numa marquesa com um gajo a medir-lhe a dilatação seja a amamentarem um bebé as mulheres quando são mães deixam de ser mulheres e ser mãe, por definição, não tem carga erótica.
E isso perturba-me, confesso, porque não me lembro de ter por momento algum deixado de pensar que sou mulher e que, seja o que for que me esteja a acontecer, perdi a carga sexual e sensual capaz de afectar quem por ela se sinta atraído.
E isso perturba-me, confesso, porque não me lembro de ter por momento algum deixado de pensar que sou mulher e que, seja o que for que me esteja a acontecer, perdi a carga sexual e sensual capaz de afectar quem por ela se sinta atraído.
Mas, pelos vistos, as mães, enquanto mães, não têm sexo e é essa dualidade mãe mulher que me recuso a aceitar. A não ser que me garantam, me jurem a pés juntos, que a fotografia que aqui pus não é sensual... E não, não sou eu, saquei-a do Google.
47 comentários:
Hoje esteve um dia bonito na praia.
Por aí não há disso? Ficas aí a filosofar...
não és tu??? poxa tinhas de estragar tudo e logo no final!
lol
Gabs, praia? Sim, talvez, mas se tenho sol, wireless e piscina aqui ao lado posso filosofar quando me apetece...
Escarlate, pus primeiro uma foto minha mas o blogger disse que era obscena...
que estranho, eu acharia que ele estava a ser porreiro para tu descontraíres,
mas ok, cada um com as suas,
É claro que estava a ser porreiro, mas podia ter antes contado uma anedota e dizer-me, mais tarde, que me conhecia do liceu...
O Mundo é pequeno e o acaso é grande, Teresa. E os outros são parvos, para parvalhões nem lhe falta o til...
JCFrancisco
nem a gravidez é um estado de graça, nem amamentar é quase divino. são condições naturais decorrentes da decisão de ser mãe. também me faz confusão essa definição que considera a mãe e a grávida como um ser assexuado. nunca me serviu e desde sempre fiz com que o meu filho interiorizasse que a mãe é, acima de tudo, uma mulher e que se desistisse de o ser não seria a mãe que conhece. nunca pensei nisso, mas às tantas nunca amamentei em público por isso mesmo, porque não queria que a maternidade se sobrepusesse à mulher (isso e aquela enorme dose de pudor que sempre me acompanhou...).
Já agora explico melhor «outros» são os que querem proibir as fotos daquilo que eu e muitos de nós vimos nas casas e à porta das ruas das aldeias onde vivemos... JCF
eu acho bonito, também acho sensual mas fico um pouco envergonhado como se estivesse a aproveitar-me duma situação, enfim cada um tem os macaquinhos que tem e eu terei os meus,
noutro dia derreti-me a ver uma mãe muito jovem de cabelo quase como o meu, de bébé a tiracolo a sair do carro, a olhar para o Sol e a pôr a mão no sítio certo para proteger a cabeça do bébé, tudo muito suave como se fora num tempo fora do tempo,
é sobre isso que ando a estudar a a escrever agora, o tempo sagrado, queira Deus que consiga abrir uma janela para tod@s, estás a ouvir ó Pá? (não resisto a meter-Lhe uma cunha vai que não vai),
ontem estive todo derretido mas foi com uma cadela, a blue, que m deixou as pernas todas lascadas de pedir festas com as unhas,
e hoje estive derretido mas foi com outra coisa, não posso contar que agora sou envergonhado de novo e já não é preciso,
mas não tenho conserto
Eu gosto muito de mães, sempre o afirmei e provo-o.
E a gravidez não tem nada de menos sensual. A sensualidade não tem nada a ver com outra coisa que não a atitude e/ou com algo que algumas pessoas englobam como "equipamento de série".
Já referi que gosto mesmo muito de mães?
não consigo responder um a um...
Claro que as mães têm sexo - são mulheres, não são? E é isso que as faz bonitas, o serem mulheres. Serem mães é só mais um atributo, mas chateia-me que olhem para uma mãe como algo assexuado.
Assexuado o caraças!
Assexuadas, as mães???
Mas que raio de ideia...
(Não sei se já disse, mas gosto imenso de mães. São mulheres mais intensas, na minha perspectiva.)
Eu é mais tias. Ah, o que eu aprecio tias...
Olha, deves ser o único...
(e diz lá, a foto é ou não é sensual?)
Há mulheres grávidas e a amamentar que ficam ainda mais sensuais e bonitas. Outras ficam uns estafermos. Vareia munto... Pessoalmente não tive grandes pruridos a amamentar mas não os tenho no dia-a-dia. Diz q é preferível dar de mamar num ambiente calmo e só por isso me coíbi mais de o fazer onde quer que fosse, mas ao ar livre e sobretudo sol é excepcional. Aliás favorece a subida do leite...
Bem me parecia, Visconde... Depois não se queixe!
(Muito sensual, sem dúvida!!!)
(Jamais me ouvirá queixar do que quer que seja, Tereza...)
Também gosto muito de mães que são tias. Ainda gosto mais.
Calamity, não digo que tenhamos de nos esconder, só não percebo porque um peito sem bebé na ponta não é permitido na maior parte dos sítios, mas se se estiver a amamentar a coisa já é aceite.
Visconde, não sofra sozinho... abra a sua alma e conte-me tudo.
E avós, também gostas de avós?!...
Acho que nunca desbundei, mas em matéria de mulheres nunca fui fundamentalista e avó é mãe, não é?
(Além disso, a partir do momento em que podem tirar a carta...)
É como os soutiens de amamentação e as roupas de grávida. (Quase) tudo muito sem graça e os soutiens brancos. Nada de cores, preto então nem pensar. E as roupas azul escuro, tudo muito discreto, não vá a grávida dar nas vistas...
Tereza, sou pouco de sofrer. É a minha natureza, sofrer pouco...
(na verdade deveria estar amanhã com um par de esquis nos pés e estarei numa refinaria...)
Avó é mãe duas vezes, pelo que dizem... ficas tolinho, pronto..
(lembram-se da Ally McBeal? o maluco do Fish ficava doido com mulheres com "papada" no pescoço...)
Isso queriam eles... eu nunca usei dessas coisas... (mas pior que os soutiens brancos são os "cor de carne"... nheca...)
Visconde, vai finalmente ficar refinado nos gostos?
Tereza, isso foi do mais fino sentido de humor. E o que eu aprecio sentido de humor vagamente parecido com o meu...
Ai Visconde, não me diga que temos sentidos de humor parecidos ou ainda tenho uma solipanpa...
Eu disse "vagamente parecidos", Tereza. Mas você chega lá...
Está enganado. O Visconde, com sorte, é que um dia, talvez, chega cá..
Eu costumo ter sorte, Tereza...
(muita)
Pelo que lhe tem saído em sorte(s) Visconde, eu não diria tanto...
Não entre tão depressa nessa noite escura...
Visconde, isso agora parecia Zeca Afonso... Por onde tem andado?
Era Lobo Antunes, Teresa.
(vê, como você tem imensa margem de progressão?...)
Qual Lobo Antunes, Visconde? Assim é muito vago.
O eterno aspirante a prémio Nobel, Tereza.
(mas marcou pontos com a sua pergunta)
Visconde, atreve-se a pontuar-me?
Ora bem Tereza. De vez em quando há que engrossar a voz...
Tereza, estou muito envergonhado. Naõ voltará a acontecer, tem a minha garantia. Excedi-me. Estou de rastos...
não é sensual.
Eu acho que é. Prontos!
Também não acho sensual, mas incomoda muitos homens, que se sentem até ofendidos. Eu dei em centros comerciais, (nasceram no Inverno) com uma fralda de pano a tapar, antes isso que ir para o wc.
Tem sexo e do bom. Confirmo.
Acho sensual uma mulher amamentar, mas confesso q não me sentia lá mto sensual qd o fazia... vá-se lá compreender :s.
gajas.
Postar um comentário