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Sobrevivi! (primeiro round...)
A miudagem está toda a dormir - espero, se forem como nós erámos não tarda está tudo cá em baixo outra vez... - os restos mortais dos presentes foram, como de costume, queimados na lareira por entre os, também de costume, ataques de pânico da avó que jura a pés juntos que o envelope com a notinha foi junto com a papelada, o perú que sobrou, quase todo - e, mais uma vez, também como de costume - já se conformou com a sorte de empadão, empadas e variantes, e tenho finalmente silêncio, computador e cigarros. O ter cigarros a esta hora, e depois de um dia destes, não é, de certeza, o costume.
Agora que o Natal passou, deveria, supostamente, entrar na tal semana de limbo, na semana que não existe, na semana que não começa numa segunda feira e acaba num domingo, como as outras, mas começa no Natal e acaba no Fim d'Ano. Mas não, este ano trocaram as voltas à semana e nela vai ter de se encaixar um casamento de família.
Isto só pode ser um teste de resistência criado por uma empresa de jovens executivos fanáticos d' O Jogo. Eu, pelo menos, sinto-me uma Michael Douglas perdida num mundo surreal onde cada passo que dou me leva a um novo pesadelo. Dias intensos, cheios de emoções em que a capacidade de sobrevivência é testada até aos limites.
Não, não é exagêro. Nadinha. 48 horas de casa de mãe podem ser, e aqui garanto que são, repletas de desafios.
Ter tido de derrubar três seguranças para entrar na Worten já fechada e comprar aqueles presentes de que a minha mãe se tinha esquecido foi só um pequeno aquecimento. E o regresso vitorioso a casa não foi descanso de guerreira que, à minha espera, tinha um novo trabalho. À minha espera, lá fora, encostado à porta, estava O Chato.
O Chato é, como todos Os Chatos, boa pessoa, se nos abstrairmos de que é chato. Este meu Chato faz parte do tipo que manda dezenas de sms com frases do Ghandi e do Saint Exupery e espera resposta, lembra até à exaustão aquela época em que tinhamos dez anos e dançávamos de patins, olha para nós como se estivesse a ter uma miragem e nos toca e abraça e beija para acreditar que somos reais e nós percebermos que tem muitas saudades, insiste que temos de ir beber um copo na noite de Natal e prontifica-se a ficar à espera, caladito, no sofá da sala enquanto despachamos a canja, e o bacalhau com couves, e o perú, e as sobremesas, e o café, e nos obriga a dizer que sim, também gostamos muito dele, MAS NEM PENSES QUE PASSAS ESTA PORTA, que já te disse que não, não vais entrar e muito menos vou onde quer que seja contigo. E O Chato continua com um sorriso deslumbrado, oferece-nos duas fotografias de pose, dá mais um par de beijos e muitos abraços e ao outro dia, às dez da manhã, vai estar colado à campainha para o tal café que está adiado, sim, mas para o dia de S. Nunca.
Difícil? Não, ou pelo menos não tão difícil como horas depois, lá pela meia noite e tal, estar com a roupinha de ir à missa, em pleno altar mor da Igreja Matriz, enfrentando a multidão de fiéis enquanto repetia as doutas palavras da Epístola de Isaías garantindo, com toda a convicção, que todo o calçado ruidoso da guerra e toda a veste manchada de sangue serão lançados ao fogo e tornar-se-ão pasto das chamas. Porque um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado... e por aí fora até à salvação final. E eu, que debitei aquilo tudo de cor porque me apeteceu criar alguma emoção nos ouvintes pouco atentos e porque, nem morta, punha os óculos que são condição absoluta para conseguir ler aquelas letras minúsculas, sentia-me uma Maria Madalena, pecadora não arrependida, a provocar várias indigestões de bacalhau e couves. Eu, a ovelha transviada (pode-se dizer cabra transviada?), com um papel principal na grande récita do ano. E a minha mãe, nos bancos da frente, já recomposta da indisposição que a impossibilitou de cumprir a sua obrigação de leitora de serviço, obrigando à entrada da suplente que nem aos treinos vai, marcava mais um ponto na caderneta onde já há muito entrei nos negativos que ela ganha-me folgadamente no jogo do Já Te Enganei Outra Vez.
E hoje, hoje foi a faca que conseguiu nunca sair da liga e as várias respostas que ficaram presas na garganta e o amai-vos uns aos outros e mantenham-se quietinhos que o primeiro a fazer um gesto brusco é o primeiro a levar e a minha personal trainer a mandar sms com técnicas e táticas absolutamente fundamentais, porque ler pensa naquelas coisas todas que os treinadores de futebol costumam dizer e agora não me lembro dá-nos um novo alento e coragem para derrubar qualquer adversário. Obrigada gaija, estas palavras foram preciosas!
Mas O Jogo continua e amanhã, daqui a um bocadito, começa a histeria das roupas e dos sapatos e dos cabeleireiros que sábado é para fazer boa figura ou então é melhor nem sair de casa. E sim, não sair de casa é daquelas meras hipóteses que nunca nos será permitida concretizar, portanto Here we go again...

13 comentários:

Anônimo disse...

que delícia, andei num rodopio a ler-te; que delícia também eu não ter nada disso, sempre me pôs doente a parte das roupas e das poses, um principe é suposto saber comportar-se, e dá-me logo para ficar entalado entre o príncipe, o tolo, e a puta.

que bom estar na beira do penhasco com Vénus mesmo em frente, abismo imenso, estrada de luz,

e debaixo do edredon com a ponta da cauda de fora para arejar

mas lembrei-me de vocês todas com um sorrisito no canto do lábio

Anônimo disse...

mas portanto: vais ali, fumas um cigarro ao Sol, sentes uma paz a invadir-te, uma alegria triste mas gostosa, esfuma-se o triste e fica uma alegria ténue que invade as tuas células, deixas-te comover, a tua vida afinal não é tua, mas é boa

Marias disse...

Pois, vamos estar no mesmo casamento, vê lá se me cobres as costas, enquanto me defendo pela frente, que eu prometo fazer o mesmo...

Anônimo disse...

então façam daquilo uma risota, sejam marotas, há lá coisa melhor do que alegria

e o primo vai flashar

Teresa disse...

O primo? Não me parece, acho que a Gabs não o deve ver ha muitos anos. Está velho e triste. Sobretudo triste.

Marias disse...

Mas isso são boas notícias, eu alegro-o... (é casado, coitado!).

Anônimo disse...

pois, gato vadio como eu é que é,

estive ali ao solzinho, já nem havia corpo, só um halo

e vou esticar as patas que temos de manter a forma

Marias disse...

Parece-me que a chefa se está a deixar levar para a depré... Isso passa... são só mais dois dias...

Anônimo disse...

descanço?

Anônimo disse...

Pois, também vi. deve estar a afectar-lhe os neurónios.

Teresa disse...

Toda a razão, erro emendado. Foi a falta de descanso que causou o descanço...

Marias disse...

Hi, hi, olha agora lá ficam os comentários pendurados...Eu também não releio nada, podes emendar as minhas fautes...

Anônimo disse...

calma que um cansaço tem aço lá metido e daí o descanço

é um descanso armado