A cena é simples de descrever. Estou deitada na minha cama articulada, a perna ainda não boa languidamente pousada numa almofada e a outra ligeiramente descaída, numa posição que em tudo lembra o lazer. Tenho a cabeceira levantada e o computador na mesinha do lado enquanto assisto a um reportagem no canal 2 e atendo o telemóvel. O Sr. Vítor e a enfermeira Juliana assomam-se à porta do quarto e, tentando não perturbar muito, perguntam-me se quero qualquer coisa para a noite.
E eu quero qualquer coisa? Sim, quero. Sr. Victor, um café. Enfermeira, deixe dois comprimidos de Paracetamol e um relaxante muscular.
Giro, não é? Por breves instantes achei que isto devia ser uma cena de um filme qualquer surrealista.
Eu sei que ninguém gosta de médicos ou de hospitais, mas eu não gosto mesmo. A última vez que tinha feito análises foi quando nasceu a minha filha mais nova, já lá vão 11 anos, e electrocardiograma nem sei se algum dia teria feito. Tenho qualquer coisa que me diz que aquele velho provérbio do comer e do falar também inclui o diagnosticar e se tudo vai no começar eu nem deixo que comecem. É que já se sabe como é, chega-se com uma dor de cabeça e sai-se de lá com mil e uma doenças certas mais as outras de que eles só desconfiam. Assim, não vou ao médico e pronto. Isto implica que também não sou muito dada a medicamentos, excepto a velha Aspirina que faz sempre bem a tudo. Quando, há 15 dias, entrei na Urgência e me começaram a falar de internamentos, bloco operatório, cavilhas no osso e coisas tais estive vai não vai, não fosse o pormenor da desgraçada da perna partida, para me levantar e fugir dali para fora. É que nem queria pensar muito no assunto, que medo por antecipação não vale a pena. E não sou mariquinhas, nada disso, acho que até me aguento bem sem grandes esforços e no meio disto tudo, e até agora, não fiz uma única cena de histerismo (às vezes tenho uma pena de não ser gaja!), não dei um grito, nem uma lagrimazita me escorreu para ficar para a fotografia. Não doeu por aí além, e pronto.
E, como não doeu, passei os primeiros dias de Hospital a guardar na gaveta os analgésicos que me davam. Achei que me devia poupar, que tinha de estar fresca para quando precisasse mesmo, e assim fui-os despachando nas saquetas de papel dos talheres. Comprimidos para dormir e analgésicos já devem estar todos na farmácia lá de casa. Até que chegou Sexta feira, o dia da faca, e tratei de avisar o médico que não estava muito disponível para passar dois dias a torcer-me com dores. Devo ter-lhe feito uma proposta verdadeiramente irrecusável porque apanhei a “moca” da minha vida, lembro-me de muito pouco desse dia, mas dores, isso não tive. Sábado mandaram-me saltar da cama logo de manhãzinha e meter-me no banho, e eu obedeci. Tiraram-me os tubos e tubinhos, instalei-me na minha cadeira e desatei a cirandar por aí. Pacífico, tudo muito pacífico. Acho que ainda me deram um comprimidinho mas a coisa ficou sem mais alaridos. Hoje sacaram-me o resto das ligaduras, puseram-me três pensos impermeáveis e mandaram-me à vida, ou melhor, à fisioterapia. Continuo por cá, pelo Hospital, mas nem um único remédio.
Deixem ver se vos consigo explicar isto bem explicadinho (e agora é melhor as pessoas sensíveis passarem à frente…). Eu tinha uma fractura da tíbia e do perónio. Na sexta feira, anteontem, os senhores espetaram-me uma anestesia geral, enfiaram-me dois ganchos no tornozelo para me esticarem a perna enquanto faziam o servicinho, que eu bem que vi cá os buracos, abriram-me o joelho, enfiaram um espigão de metal pelo meio do osso até lá abaixo, abriram o tornozelo e fixaram o espigão com uns parafusos e abriram mais qualquer coisa que tenho outro corte mas não sei para que serviu. Fecharam tudo com umas dezenas de agrafos e pronto, hoje, Domingo, disseram-me que eu não tinha qualquer medicação para fazer. Hãn?!… Nadinha? Então e os antibióticos, os anti-inflamatórios e mais aquelas coisas todas que as pessoas sérias tomam? Eu fui muito maltratada, tenho para aqui umas peças novas, umas negras antigas e esta gaita ainda me dói. Que não, não precisava. Tinha já feito durante um dia, isto estava a cicatrizar bem, portanto não precisava de nada. Só comprimidos para as dores, paracetamol, o vulgarzeco Ben-u-ron, outros para relaxar os músculos e nada mais. E mesmo esses só se eu quisesse.
E lá vamos novamente até à enfermeira Juliana que faz a ronda da noite e me pergunta, da porta do quarto, se quero qualquer coisinha. Assim, à vontade do freguês. E a freguesa, estirada na cama, de calças de linho vestidas, camisa branca, colar e brincos, que de pijama e chinelos é que não me apanham por aqui, lá pede qualquer coisita só para não parecer que é mal agradecida.
Não há nada a saber. Vida saudável, claro. Comidinha boa, cigarrinhos, um vinho tinto decente, muito computador e não há mal que nos chegue. Fiem-se em mim que não vos engano.
34 comentários:
mas apesar disso podemos nao ir pra la, certo??
(Aquilo tem bom aspecto, Santo, garanto-te!)
Ah ele é isso?! E a malta aqui toda em cuidados... Só por causa disso vou ali acabar com o bolo de bolacha, prontos.
(ainda bem que estás na boa, Tereza. Vai-se a ver ainda estás com a moca e nem te apercebes ;-))
Chefa, eu diria que vou mesmo no bom caminho para ser como tu quando for grande!!!!
(O chocolate ainda dura? Sai um Cadbury de caramelo para 3ª feira!!!!)
nao perigo iminente, nao comeces aos mergulhos pa borda da piscina... foi um mau exemplo, nao repitas
O Red Alert é para mim?
Tranquilo, chico. Estoy sogadita...
Lakers na final de conferencia.... ate amanha
Quem sou eu para competir com 6 (ou são 5?) gaijos com 2 metros de altura, calções brilhantes e mangas cavas??????
Até amanhã
Pronto, este tb virou abóbora... Ou será courgette?
Ena, de novo o prazer de um belo lençol...
Tás por cá, Tubarão!
Este ao menos troca-nos por não sei quantos gaijos grandões...
O Tubas? Tens a certeza, Peixa?
Referia-me ao Santo, não o Bruce!!!!
(claro que abarbatei o 13...)
Sorry, desta fui eu... Mas vale o simultâneo...
Tu não sejas intrig(uista)ante, Mana!!!!!!!!!
Simultâneo triplo!
Já não se fazem simultâneos assim, é o que é...
Amor, é como as bruxas: a gente nã as vê, mas que as há, há!!!!
Tou cá e não, nunca vos trocaria por gajos grandes. Nem por gajos pequenos. O Santo é que mostrou as pernocas e agora às tantas recebeu alguma offer he cant refuse...
Deus touva, deus touva...
(Por falar em simultâneos como deve ser... Olá, Gaija!)
:)
bálhamedeus!!! claro que passei à frente a parte dos detalhes horríveis que tiveste o prazer ignóbil de me contar à tarde...
estás mesmo de volta, chefa!
(aquele corte valeu por duas fronhas e sempre poupei os olhinhos...)
eu sei que era para mim, peixão lindo, mas pensei que estava a comentar no post errado...
(eu sei, não mudo...)
Dizem, Bruce, dizem (que eu não vi e não sou de intrigas) que são 5 ou 6. Cor de ébano. Calçanitos brilhantes e camisolas de mangas cavas... Dizem...
Pobrezito do Santo, é o que te digo...
(a gaija tá atenta, peixão, sempre atenta...)
Deus há-de-móvir, Mana, há-de, sim. Que Deus não dorme. Às vezes, cochila... Mas dormir, não dorme...
Big Gaija is Watching You!!!!
E agora, if you excuse me, vou ver o House.
Durmam com os anjos ou com os demónios, whichever suits you best!
;o)
Bjs
Olha, é que é mesmo isso: ver o House.
Beijinhos a todos e sonhos de todas as cores
sempre, peixinha linda!
:)
também há gajos grandes no house?
não sei... tenho tanto com que me entreter...
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