Às vezes, muito de vez em quando, emociono-me. Bem sei, não precisam de me estar sempre a dizer, bem sei que me devia emocionar mais. Com a chegada da primavera, com o pôr do sol, essas coisas. Houve um tempo em que me emocionava mais, mas agora não. Talvez volte esse tempo de me emocionar, sei lá.
O que eu sei é que, quando me emociono, é porque a coisa é mesmo séria. Ontem emocionei-me, estava eu naquela fase em que a rotação do motor é inversamente proporcional à emoção que a música que estamos a escutar nos transmite, acontece-me sempre isto com Vivaldi, começa a passar Vivaldi e a rotação do motor começa a baixar, tenho que mudar de canal para voltar a ganhar velocidade de ponta, estou sempre atrasado, é outra coisa que nunca me acontecia, nunca percebi se há alguma relação entre estar sempre atrasado e emocionar-me pouco.
No canal das notícias, falava o Mestre João André, o mais velho dos alunos do programa das Novas Oportunidades, disseram-me que também falou à noite na televisão, parece que foi lá o primeiro ministro entregar-lhe o diploma, mas eu isso não vi, quase não vejo televisão. Oitenta e cinco anos, é a idade do Mestre João André. E, aos oitenta e cinco anos, o Mestre João André terminou um ciclo de estudos e a jornalista perguntou-lhe o que sentia nesse dia.
Imagino o Mestre João André, a pensar antes de responder, a ajeitar a boina e a pensar efectivamente no que sentia, para responder sinceramente à pergunta. E disse que tudo quanto se aprende é pouco. E disse que se sentia como se devia sentir o sol quando nascia ou como a lua se devia sentir quando era noite de lua cheia.
E eu, que quase nunca me emociono, parei o carro na berma. Porque, toda a gente sabe isto, é perigoso conduzir depressa quando se tem os olhos marejados.
Há 2 anos
10 comentários:
Conseguiu emocionar-me também.
Eu sei que tenho lágrima fácil mas com letras assim quer o quê?
Tereza, é normal as mulheres bonitas emocionarem-se comigo.
(vê? já voltei ao estado normal, vou já escrever um post anti-abichanamento...)
Pronto, e agora fez-me rir até às lágrimas...
1) Eu estou sempre atrasada mas emocionou-me por tudo e por nada, daí que, das duas uma, ou não há relação ou um de nós é excepção;
2) Vi a notícia e tocou-me, mas não ouvi e tenho pena a parte do sol e da lua, senão quem tinha parado o carro era eu;
3) É lindo ter 85 anos e querer aprender sempre mais. Faz-me ter esperança no Homem. Lembrou-me o Niemeyer que, numa entrevista publicada pelo seu centenário, disse que (ainda) acreditava na revolução.
5) O Mestre João André é um castiço, tem uma pinta do caraças e adorei vê-lo sentado em cima da carteira como se 15 ou 25 tivesse;
4) last e realmente the least no meio disto tudo: mas ter de esperar até aos 85 anos para se receber o diploma da conclusão dos estudos secundários e ainda por cima ter de levar com o cara do pau do Sócrates a entregá-lo, é dose, diga-se o que se disser. O homem merecia melhor.
Calamity, você é a excepção.
(eu sou apenas excepcional)
Ora, meu caro, uma excepção é ainda lhe durar a bateria a uma hora tão tardia :-)
(Viu, versejei sem querer! Confesse lá que se está lindamente, rodeado de poetas por todos os lados...)
Calamity, sou homem de rituais.
(confesse, não esperava que ainda lhe respondesse)
(Claro que esperava! Eu de si espero tudo! e sabia que ia tentar surpreender-me...)
Neste post, excepcionalmente, não o vou comentar. Porque se o fizesse, teria que lhe dizer o que disse ao Bruce lá em cima e não sei se já estamos nesse nível de proximidade.
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