Não me sai da cabeça

É só porque nunca calhou, nunca se tinham cruzado, andavam por sítios diferentes, mas pela primeira vez a Clara tem dois amigos com sindrome down, tal como ela. Sendo amigos dela, e havendo festa de anos, é normal que tenham sido convidados. Até aqui, tudo normal portanto.
"Fica um bocadinho e já venho buscar".
Como?!... Um bocadinho? Mas um bocadinho porquê se até vou fazer lasanha para o jantar?, ficam como os outros, até ao fim, e o fim é quando eles assim o decidem. Eu depois telefono, como é costume.
Ar de espanto e tentativas para me explicarem que isto e aquilo e se se portassem mal....
O Marco e a Marta ficaram. Parece que são namorados, mas isso ainda é assunto a decidir. É que o Marco tem sardas, é giro que se farta, a Clara morre de amores por ele e a Marta só o maltrata portanto, e no que eu puder fazer, a Marta, temos pena, mas já era. Mas pronto, por enquanto a Marta e o Marco ainda são namorados e não sairam um de ao pé do outro o tempo todo. O Marco sempre atento às precisões da Marta (é um cavalheiro, vi logo, que bem que estaria com a minha filha...), a Marta  (gaja, sem "i") a chamar-lhe parvo (raio da miúda, dois lambadões e estava o assunto arrumado). Soube hoje que a única amiga que a Marta fez na festa foi a Francisca e foi porque a Francisca lhe foi à cara. Tudo certo e tudo a continuar dentro da maior normalidade, como nem podia deixar de ser.
Não sei que horas eram quando vieram buscar a Marta. A tia e uma prima. A Marta estava ao lado do Marco, a gajinha não desgruda, a lambuzar-se em lasanha tal como todos os outros. Foi embora antes do gelado, que eu acabei por nem provar (ainda!) porque entretanto fizeram-me gelar sem precisar do carapinhão e da emanha (sim, tenho gelado da Emanha no Algarve porque sim, a Peixa conhece meio mundo e o outro).
Foi pouco tempo depois da Marta ter saído que o telefone tocou. Era a mãe da Marta. Pus-lhe a vista em cima duas vezes e nem me caiu muito no goto mas o estupor do telefonema deu cabo de mim. Queria agradecer-me. Estava comovida. A voz tremia. A filha tinha chegado a casa feliz por ter ido a uma festa de anos.
E é esse telefonema que não me sai da cabeça e que ainda não consegui digerir.
Porra!  E outra vez, Porra!
A Marta tem 16 anos e apesar de eu estar prontinha para ajudar a Clara a sacar-lhe o Marco, por que raio é que a Marta, com 16 anos, nunca tinha ido a uma festa de anos de uma amiga?

Não sei se os vossos filhos, ou sobrinhos, ou enteados, ou o que seja, conhecem alguma Marta mas importam-se de a convidar para as festas de anos? As mães delas vão reclamar um bocadinho, achar estranho, dar muitos conselhos, mas passa-lhes depressa e mesmo que a Marta seja namorada do Marco, seja uma chata, e o Marco tenha sardas e seja a paixão da Clara, a Marta não tem de estar 16 anos à espera para ir a uma festa de anos de uma amiga, pois não?

25 comentários:

Fusão do Atomo disse...

Tens o condão de me fazer chorar e recuar praí uns 50 anitos. Nessa altura eu tinha um amigo, o António,o Tó tinha esse sindrome. A Mãe não o deixava sair á rua e lá permanecia ele sentado á porta, sempre á espera que algum menino fosse ter com ele, para lhe mostrar um guelas ou um boneco qualquer. Que saudades da Rua 3 do Bairro Serzedelo em Campolide.

O simples acto de frequentar este estabelecimento faz de mim uma pessoa melhor. Obrigado

Teresa disse...

Fusão,o primeiro miúdo que conheci foi o Paulo. Eu já era bem crescidinha, tinha acabado a faculdade, e o Paulo era filho de uns amigos do meu namorado. A única casa onde o Paulo ia era a casa dos pais dele, nunca saía à rua, e quando a Clara nasceu a única imagem que tinha na cabeça era a do Paulo, um catraio com 10 ou 11 anos, vestido de fato de treino e a atirar-se para cima da mesa para chegar aos doces.

Muita água já correu debaixo da ponte desde aí mas infelizmente parece que ainda há muitos Paulos e muitos Tó.

Mente Quase Perigosa disse...

Eu não posso comentar que ando com os dedos a comichar e tenho uma opinião muito própria sobre este assunto.

Teresa disse...

e que opinião tens tu que te faz comichar os dedos?

Fusão do Atomo disse...

Comichar estará entre a comichão e o teclar. Mas está á vista que a Mente tem opinião.

Fusão do Atomo disse...

Não dizem que ter comichão nas mãos é sinal de dinheiro. Não tem ela o Euromilhões? Assunto resolvido

Teresa disse...

POis tem, e eu até devia saber qual é, só que a Mente tem tantas opiniões que não consigo acertar com a daqui.

(e hoje a mente está de mau humor é melhor ter cuidado. parece que caiu da cama)

Teresa disse...

fusão, podes falar de outra coisa que não seja um bilhete premiado, se fazes favor?

Fusão do Atomo disse...

Posso e vai ser a ultima vez que o vou fazer.

Sabes que ás vezes caímos no conto do vigário e pensamos ter o bilhete premiado e depois é só jogo branco.

Mente Quase Perigosa disse...

Então isto não me deixa comentar???

Teresa disse...

Tu andas com problemas, andas andas...

Mente Quase Perigosa disse...

Ahhhh... Assim está melhor...

1. Os meus bilhetes são sempre premiados mesmo que não tenham qualquer valor. É que aquele pedacinho de tempo que dispendo a sonhar com o que faria caso me saisse o chorudo prémio, é priceless.

2. Não comento precisamente porque tenho a opinião bem formada acerca do assunto. Porque estava lá e vi. Porque as mentalidades ainda estão tão fechadas...

Mente Quase Perigosa disse...

(E se há certeza que tenho é que vai-se a taluda e fica a açorda!)

Teresa disse...

(e a açorda estava absolutamente divinalmas também eu estava de tal forma debilitada que qualquer coisinha me cairia bem)

Teresa disse...

fiquei a pensar na história das mentalidades. não sei se será ó isso, estou a cozinhar as ideias

Mente Quase Perigosa disse...

Pode não ser só isso mas também é muito isso. Ainda se acredita que o mundo não está preparado para aceitar a diferença e acreditando nisso, cultiva-se a diferença em si.

Mente Quase Perigosa disse...

Mas eu não disse que não comentava? Arre. Eu e a minha grande boca!

Rita Camões disse...

Com uma mãe dessas quem precisa de inimigos? Isto porque se a mãe que é mãe não a consegue aceitar como ela é, como poderá ajudá-la a sentir-se igual e com os mesmos direitos que todos os outros meninos?

E isso de ter gelados Emanha no Algarve, tem muitos que se lhe diga. Quem precisa do Euromilhões com uma Peixita catita dessas na sua vida?

Sérgio disse...

Mente, o mundo até está preparado para aceitar a diferença as Pessoas é que não estão, raciocinam demais.
O mundo não só está preparado como aceita.

Rachel disse...

Ó Tereza,

Olha que nem precisas de ir mais longe...
O meu filho mais velho (han, já reparaste na bela expressão, muito recente, "mais velho"), em 4, sim qu-a-tro, anos lectivos, não pôs os pezinhos em festas de aniversário, dos colegas do colégio.
As únicas a que compareceu eram de filhos de amigas e antigos colegas da escola primária.

Eu nem sou destas merdas, bem sabem, sou uma gaja para cima e até me mete um bocado de nojo dizer mal da vida, a não ser que seja por não ter sapatos novos, mas adiante…

Pois que, o motivo até era muito simples, porque o Gonçalo não tem qualquer deficiência física, nem padece de qualquer doença infecciosa, o Gonçalo era só… era só… um aluno mediano, assim a atirar para o mau!

E porquê?
Porque nunca se adaptou.
E porquê?
Porque sempre foi ostracizado
E porquê?
Porque vinha da província e chorava com saudades da mãe, nos intervalos do 5º ano.

Posto isto,
Ao fim de quatro anos, no dia em que ele, depois de um dia inteiro a chorar porque estava farto de engolir a dor e depois dum episódio vergonhoso, em que mais uma vez toda a gente foi convidada menos ele, com a diferença que dessa vez lhe explicaram (infelizmente) porquê, me perguntou,
“Mãe, achas que durante um ano lectivo inteiro, ninguém faz anos?”
Nesse dia acordei para a vida e tirei-o do colégio.

De aluno roscof passou a aluno brilhante em três tempos.

(e eu ralada, porque na verdade aprecio bem mais outras qualidades que tem o meu filho)

Mas tem tanta sorte, que o colégio, há duas semana, sem nada que o fizesse prever, fechou. Faliu.
Mas isto dava pano para muitas mangas e este blog não é meu,
Por isso, botom line:

É por tudo e por nada, é a torto e a direito… excluir é a palavra de ordem dessas pessoas saídas de tocas.

Não tivesse sido o bom senso (incomum) do meu marido e eu tinha esborrachado o focinho a uns quantos desses animais.
Era isso, ou esperar com o carro preparadinho à porta do colégio e acertar-lhes com força, quando fossem a atravessar a rua.


Desculpa o comento longo, entusiasmei-me…

Anônimo disse...

e se convidasses a mãe da Marta para fazer parte do "nosso" grupo do Facebook "das pessoas que fazem dahhhh"...?

Hanónimo

Teresa disse...

Rachel, estás à vontade, espraia-te por onde quiseres, e percebo, bem demais, aquela necessidadezinha de esborrachar alguns focinhos.Tenho duas filhas mas até já senti mais essa necessidade pela Francisca que pela Clara.

Teresa disse...

Hanónimo, não sei se terá chegado ao estadio de conseguir fazer humor...

Teresa disse...

ritmargarida, com a peixa por perto a minha vida é um luxo...

Anônimo disse...

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