Quando uma gaija toma a decisão de largar tudo o que não está a fazer, marimbar nos dois anos de agonia em que o foi vendo lentamente, muito lentamente, tomar formas e jeitos até aí desconhecidos só porque talvez fosse boa ideia variar, e decide pegar num telefone, chamar o Francisco e dizer-lhe as palavras que há muito se lhe enrolavam na língua sem conseguirem sair, a última coisa que quer ouvir é que se era para hoje, agora, devia ter telefonado antes.
“Quero cortá-lo curto”. Caramba, eu acho que qualquer pessoa entende que um querer destes não é compatível com agendas, horas marcadas, decisões a longo prazo. Isto é daquelas coisas que ou é para já ou já não é. Para mim um cabeleireiro é uma espécie de urgência hospitalar onde só vou se preciso mesmo e como tal assim devia estar organizado. Ninguém no seu juízo perfeito precisa de fazer uma permanente, muito menos com urgência, portanto pulseira azul ou verde e esperem que não morrem por isso. Um brushing, que penso que é aquela coisa que se faz em casa, com um secador, nos dois minutos a seguir ao duche, é mais ou menos como uma toma de paracetamol mas se querem ir à urgência eu até posso entender que escusam de andar a fazer figuras tristes pelas ruas com a cabeça cheia de rolos, mas então pulseirita amarela e está a andar, ou melhor, está sentada e espera. Cortar as pontas já me parece mais urgente que ponta espigada é pior que sapato cambado e justifica o laranja. Cortar curto é caso mais que emergente, ou é logo ou a vontade morre na praia, código vermelho sem qualquer tipo de dúvidas.
Mas isto era num mundo perfeito, num mundo que, hoje especialmente, acredito não ser possível, e portanto vou ter de me resignar a esquecer o cabelo curto que me iria resolver de imediato o mau humor galopante e tentar descobrir se não andará por aí alguém esquecido com quem possa acertar contas e descarregar este nervoso miudinho que me está a deixar inquieta.
Há 2 anos
4 comentários:
Comecei a ler o post, e está tão bem enfabulado, que, foi preciso chegar ao fim para ter a certeza que era de cabelos que se falava por ali. E era, não era TEREZA?
era fusão, era. mas já não é, que não arranjo quem me tosquie.
Lamento TEREZA. Embora sendo eu neto de um barbeiro e sobrinho de uma cabeleireira, de tesoura na mão sou um desatino. Não te posso ajudar.
Por isso é que eu gosto tanto dos meus ‘Hair Designers’…
Dá-me a vontadinha e eles põem logo a cadeirita de massagem a trabalhar para quando eu chegar.
Ainda há bocadito liguei. Atendeu-me o chefão – a quem eu nunca deixei tocar no meu rico cabelo – e com a minha voz mais que fágil disse-lhe: “Socorro… Ai… Ai… Ai… Na 4ª-feira, houve uma ponta da franja que ficou mais comprida e entra-me no olhinho…” (devidamente acompanhado de beicinho que eu acho sempre que os beicinhos se vêem por telefone) fui lá que eles já tinham a equipa do Serviço de Urgência a postos para quando eu chegasse. Se eu ligasse a dizer que tinha uma crise existêncial, era coisinha para mandarem vir mais cabeleireiros para me satisfazer todos os caprichos e fazerem massagens no couro cabeludo que é coisa que eu não dispenso, nestas alturas! E nas outras também não.
Já tenho a franja arranjadinha e esticada e ainda me puseram um produtozito qualquer...
(Aceitam-se apostas quanto ao número de insultos que ela me vai dirigir...)
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