Percebeu-se sozinha no meio da pista quando chegou a sua vez de dançar, mas nem por isso se permitiu abandonar a ocasião que lhe havia sido proporcionada.
Fechou os olhos à multidão entretanto afastada e logo se concentrou no ritmo que dela se apoderou e o corpo tomou conta da ocorrência enquanto ela perdia a consciência da presença dos outros em seu redor.
Flutuava pela pista, como uma marioneta, movimentada pelo som da discoteca, cada vez mais alheia aos olhares de reprovação e aos sussurros trocados pelos convivas afastados quando a viram entrar.
Sabia-se capaz de dançar e reclamava o seu lugar sem hesitações, indiferente ao boicote da populaça. Mostrava assim a sua raça e brandia o orgulho que lhe restava, a dança que (a) dominava com mestria e ninguém se atrevia a inferiorizar.
Era seu aquele lugar, porque o merecia. Mesmo sabendo que quanto mais e melhor fazia a situação piorava, por causa das pessoas que incomodava com a sua presença marcante à qual ninguém ficava indiferente, mesmo assim dançava aquela música que abraçava como uma tábua de salvação contra fenómenos de rejeição que talvez ninguém soubesse explicar.
Sabia apenas que queria dançar.
4 comentários:
É engraçado, mas pelo 1º parágrafo descobri logo o autor do texto.
Gostei.
Fico vaidoso por assim ser, isso não posso esconder.
:)
que desperdício! deu pérolas a porcos...
Acontece nas melhores famílias, poizé...
;)
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