O macaco pelado

A notícia entrou-me pelos olhos dentro logo de manhã e dava-me a justificação perfeita para escrever o post que tenho andado a adiar. Os professores, ou melhor, alguns professores, têm-me andado entalados e depois de na última sexta-feira ter oficialmente aberto as hostilidades com um deles o saber que Movimentos independentes e sindicatos de professores defenderam hoje que será cada vez mais difícil manter a ordem nas escolas sem uma alteração urgente ao Estatuto do Aluno em matéria de ação disciplinar, faltas e provas de recuperação, era uma borla de que nem estava à espera. Esfreguei as mãos, afiei as garras e passei a manhã a tentar compôr mentalmente o post que havia de sair. Erro meu, má fortuna e provavelmente falta de amor ardente porque por maior que fosse o esforço para alinhavar duas frases sobre o estado do ensino e os mestres que não temos aparecia-me do nada a palavra gajas iluminada a neon e quilhava-me o brilhante raciocínio.

Não foi um fim de semana especialmente difícil e anunciava-se até como apetecível e cheinho de pequenas alegrias mas hoje, segunda-feira, dou por mim a acreditar firmemente que muitas das minhas convicções mais profundas foram impiedosamente espezinhadas e que a minha vida nunca mais voltará a ser a mesma. Sem ter pedido, sem ter sido avisada e, sobretudo, sem anestesia, vi-me obrigada a reconhecer que as gajas, aquela subespécie feminina que nós gaijas profundamente desprezamos, estão, por direito próprio, no topo da cadeia alimentar e atingiram um estadio em termos de desenvolvimento de espécie que nos transforma em personagens pré-históricas que buscam ainda as primeiras letras. Resisti bastante a esta conclusão, recusei-me a tomá-la como boa, revi todas as premissas, refiz as contas, conferi os resultados. Fui em busca das palavras dos sábios, vasculhei-lhes as obras, relembrei os ensinamentos na vã esperança de estar enganada. Quis ir ao fundo dos fundos, ao básico dos básicos e entrei biologia adentro atirando-me ao Desmond Morris e ao seu "Macaco Nu" que tantas alegrias já me deu. Saí absolutamente derrotada porque até o Morris, o meu velho Morris, me deu uma palmadinha nas costas, sorriu-me com alguma malandrice e aconselhou-me um sumo de laranja para engolir a pastilha.
Nós, gaijas, mulheres emancipadas, cultas, inteligentes, independentes, autónomas, fortes, orgulhosas, com um apurado sentido de humor, senhoras do nosso nariz e conscientes das nossas inúmeras qualidades, incapazes de viciar as regras do jogo, não por questões de princípio, que esses já os questionámos todos, mas para melhor saborearmos a vitória, andamos a enganar-nos desde o tempo em que as nossas avós queimaram os soutiens. Nós, que buscamos o macho alfa porque não nos satisfazemos com menos, esquecemos a regra número um da selva - ou se domina ou se é dominado não havendo qualquer hipótese de meio termo. Os nossos machos alfas, os únicos que achamos que poderão estar à nossa altura, só podem ter duas atitudes quando detectam a nossa presença e isso, minhas amigas, está nos livros que tanto gostamos de ler. Um macho alfa perante uma ameaça séria ao seu território ou foge ou ataca, nunca se senta para conversar. Nós, gaijas, que decidimos há muito que queremos um lugar ao lado dos até aqui vencedores e nunca acima ou abaixo, partimos para a guerra usando as mesmas armas dos adversários e insistindo na utopia, e estupidez, de um jogo limpo.

Tretas. Como eu comecei por dizer, este fim de semana foi fértil em ensinamentos e numa expedição digna da National Geographic tive a oportunidade de observar de uma forma isenta, porque só essa pode ser cientificamente valorizada, como as gajas, as verdadeiras gajas, aquela subespécie que nós menosprezamos, utilizando todas as tácticas que o Desmond Morris descreve, as tais que nós podemos ter lido mas que elas conhecem sem nunca lhes terem passado os olhinhos por cima, dominam os machos alfa e instalam-se no território deles sem lhes darem qualquer hipótese de defesa, porque eles nem percebem que estão a ser atacados, bastando-lhes depois um estalar de dedos para que eles até as pantufas lhes levem. Claro que nós, gaijas, assistimos a isto com um ar de comiseração e pensamos que o nosso macho alfa, aquele que ainda um dia havemos de conseguir sem que ele dê de frosques ou seja por nós dominado, nunca cederia a um ataque deste tipo mas, há sempre um mas, tenho uma má notícia - a tal relação de absoluta paridade não existe, está-nos no código genético dominarmos, sermos dominados ou fugirmos. Nós, gaijas, nunca vamos conseguir um gaijo à nossa altura porque eles até existem mas é impossível dividirem o território connosco - temos ambos um instinto assassino demasiado apurado.

E agora, perguntam vocês e com razão, em que é que isto mudou a minha vida?
Mudou, mudou e muito.
Peixa, quantos dias passaram desde que te disse que vivo sozinha porque não preciso de viver com ninguém? Tss, tss...  Eu, e tu Peixinha, vivemos sozinhas porque é impossível, por definição, vivermos acompanhadas. Nós não queremos dominar, porque assim que dominamos deixamos de respeitar, muito menos queremos ser dominadas porque não sabemos receber ordens e o meio termo não existe. Para os gaijos, mesmo os alfa, isso é fácil, porque ou dominam, e isso estás-lhes no sangue, ou são dominados, mas como foram derrotados com armas que lhes são desconhecidas nem chegaram a perceber que perderam há muito o controle e continuam a viver na doce ilusão do mais forte. Nós, que temos um pé nos dois mundos, que somos gajas porque nascemos assim e gaijas porque nos quisemos assim, topamos as manhas das gajas mas recusamos-nos a seguir-lhes os exemplos. Manias. O que conseguimos? Gaijo que é gaijo sente-se ameaçado e defende-se imediatamente assim que nos aproximamos porque sabe que só sobrevive como dominante se mantiver uma distância de segurança ou se, suprema maldade, nos excisar passando a considerar-nos como mais um gaijo. Eles sabem que se formos para a caça com ele não o caçamos a ele. Mas isso nós não queremos. Nós, gaijas, repito-o, temos uma gaja dentro de nós, e o que queriamos mesmo mesmo era ser um dos deles, mas sem pila. Derrubar-lhes todo o nosso charme em cima enquanto discutimos se o bisonte já está morto ou precisa de mais uma lança enfiada, fazê-los rabiar mas sem nunca nos ronronarem no colo ou termos de lhes pedir para nos mudarem a roda do carro. Impossível. Nós, tal como elas, sabemos que um almoço nunca é de graça, mas insistimos em não nos levantar da mesa sem acertar logo as continhas. Ou, erro supremo, pagamos a despesa toda e ainda deixamos uma gorjeta generosa para o gaijo perceber que apesar de termos umas pernas giras podemos dar-nos ao luxo de usar calças porque o nosso super homem tem visão raio x.
Como é que nós, gaijas, sobrevivemos? Nunca acompanhadas. Os nossos gaijos são mantidos, e mantêm-se, a uma distância segura e vamos vivendo como se isso fosse assim porque assim o decidimos. Não, não é. Nós é que nunca conseguiremos ser suficientemente gajas para ter um gaijo por perto e eles, os gaijos, os únicos que queremos, os machos alfa, também não correm o risco de se aproximar demasiado.
Gaja. Afinal eu devia era ser uma gaja, mas acho que já não consigo.
Parceiros para uma canasta, há por aqui?

19 comentários:

Anônimo disse...

UAU!!!!!
Passei 2009 a pensar se devia continuar a ser como sou ou se devia mudar para gostarem de mim...
Quem não gosta não faz falta.
É, não é?

Anônimo disse...

e se fôr para uma sueca?
se jogares tão bem às cartas como percebes de gajos, já levaste um pente...
ass: macho alfa 1

Anônimo disse...

PS: merecias mais conversa, é verdade, mas tenho que trabalhar, que isto de ser macho alfa não é fácil...

Teresa disse...

Sofia, se quiseres ser gaja vais ter de começar a treinar e recomendo que comeces por tentar dizer, sem te rires, kiducho, 'môr, lindo, bebé...

Teresa disse...

começas mal, ó tosco alfa 1... convidas-me para uma sueca???!!....

Teresa disse...

(e o anónimo sai de fininho ...)

Mente Quase Perigosa disse...

(Não podes faze-lo voltar, Tereza??? Eu gostava...)

Mente Quase Perigosa disse...

(Quanto à sueca, Chefa... Não negues à partida uma ciência que desconheces. Foi isso que eu aprendi hoje no Correio da Manhã...)

Anônimo disse...

Teresa, falta o fofinho, tb conheço o género... mas revolta muito ver alguém inteligente ficar fascinado com m**das dessas e achar que não pode haver melhor na vida...

Teresa disse...

(psst, Peixa, tu queres que eu o faça quê???)

Teresa disse...

Peixa, entre uma Sueca e um King eu prefiro o King. São jeitos, que queres?

Teresa disse...

Sofia, o fofinho é um must, nem sei como me esqueci...
Olha, quanto à inteligência eu cada vez mais acredito que, no que a gaijos diz respeito, não é indicativo de nada. Nós não conseguimos suportar um gajo burro mesmo que seja giro, eles não têm qualquer problema que a gaja não consiga soletrar um monossilabo desde que eles, e os amigos, a achem boa.
Infelizmente, e aqui que ninguém nos ouve, acho que eles são mais espertos que nós. Pelo menos já chegaram aos realmente e nós ainda estamos nos entretantos.

Mente Quase Perigosa disse...

(Toma uma atitude!!! Ao fim ao cabo, tu ainda és a Chefa, certo? As Chefas mandam! Manda!!!!)

Mente Quase Perigosa disse...

(Há que luas que não sacava um 13...)

Mente Quase Perigosa disse...

Oh pá, se vamos por aí, também sou mais gaija de King... Se bem que aquela coisa de termos de nos abster de fazer vazas...

Teresa disse...

Peixa, ele há alturas em que tens de abster de fazer vazas ou não conheces as regras?

Teresa disse...

E queres mesmo mesmo que eu o faça voltar?

Anônimo disse...

hum

Mente Quase Perigosa disse...

fraquito