Os Vencidos da Vida

Eram onze e juntavam-se para jantar uma vez por semana. Fialho de Almeida chamou-lhes dúzia e meia de ratões que... quando juntos, o que pretendem é jantar; depois de jantar o que intentam é digerir; e digestão finda, se alguma coisa ao longe miram, tanto pode ser um ideal como um water-closet. Eça de Queiroz, que não era gajo para se ficar, respondia O que é estranho não é o grupo dos Vencidos - o que é estranho é uma sociedade de tal modo constituída que no seu seio assume as proporções de um escândalo histórico o delírio de onze sujeitos que uma vez por semana se alimentam.

Estávamos em Portugal e o século XIX dava os últimos suspiros mas ao lê-los nem se nota que passaram quase 150 anos. Imagino estes Vencidos a escreverem hoje num blog. Dificilmente conseguiriamos perceber que estes senhores usavam cartola e bengala, mas perceberiamos rapidamente que tudo o resto que por aí anda é fancaria ao pé disto.

" ... não há nas democracias homem menos respeitado, nem mais influente, do que o político. Essa influência não é prestígio: é apenas a consequência dos empregos que pode distribuir e dos negócios que pode contratar. Encontra-se como elo de uma cadeia, em que para um lado estão os eleitores, dando-lhe em troca de pequenos serviços o simulacro de popularidade que é uma força; e para o outro lado estão os barões, fornecendos-lhes o dinheiro com que essa força se compra, sonantemente, pela imprensa e pelas eleições.
(...)
Compreende-se pois que a selecção tenha de fazer-se num sentido cada vez mais deprimente; compreende-se a abstenção do grande número; compreendem-se afinal as palavras do príncipe: toujours plus bas!
ou disto
" Aplica-se à sociedade o critério adequado aos homens, e requer-se que ela obedeça aqueles ditames que a consciência nos impõe. É completamente absurdo. Proclama-se que o governo dos Estados deve subordinar-se à justiça, guiar-se pela opinião e ter por norma a publicidade - quando em verdade a opinião pública e a justiça são apenas moderadores dos princípios que foram em absoluto, e serão sempre, de um modo mais ou menos relativo, a essência e alma dos governos - o segredo e a razão de Estado"
Oliveira Martins, um dos onze derrotados, escreveu um dia estas pérolas. Aprendamos com ele, blogueiros de hoje.

11 comentários:

Anônimo disse...

Oh que feliz coincidência!! Tenho um respeito e admiração tremendos por esse grupinho :) Sim, sem dúvida que é muito fácil imaginar estes senhores como autores de um blog.
Será o blog a evolução natural do folhetim???
hahaha!!
Sem contar que estou verdadeiramente apaixonada pelo Eça desde os 17 anos. Não foi amor à primeira vista, é certo, mas deixei-me fascinar pela sua inteligência, ironia, sátira e claro, pelo sentido de humor afiado :)

Rachel disse...

Tereza,
Assino e volto a assinar em baixo.
(as always)

Teresa disse...

Rachel, espera até leres o anterior que retiras o como sempre... :)))

Teresa disse...

Sofia, estou a tentar acabar um post que tb é uma resposta para ti

Anônimo disse...

..........portanto a separação de poderes, é uma treta.

Mas, (e há sempre um mas em tudo)Não podemos perder de vista o que era a povo naquela altura e o que é hoje em dia. Qualquer pessoa que soubesse ler era um Doutor, hoje está tudo muito mais democratizado, e por ese facto, é muito mais dificil alimentar os sangue-sugas que gravitam á volta da malga do poder. Por isso somos mais centrifugados........mas gostamos. Como diz o outro "o povo é sereno"

Fusão

Teresa disse...

Fusão, olha que hj para se ser doutor já nem é preciso saber-se ler. Pelo menos saber-se escrever não é, tenho a certeza...

Anônimo disse...

O que faz falta são as bengalas, usadas na época. Os tacos de basebol são proíbidos...........!

Teresa disse...

anónimo, as bengalas nos senhores eram só para enfeitar porque caceteiros havia e ainda há muitos por aí. com ou sem tacos de baseball.

Rachel disse...

xiii, só agora é q li o post de baixo...
tens razão, retiro o "como sempre".
retiro.

Rachel disse...

xiii, só agora é q li o post de baixo...
tens razão, retiro o "como sempre".
retiro.

Rachel disse...

mas continuo a assinar, grande parte das vezes.
com o senhor inginheiro é que não, canudo.