É simplex - Quem decide são eles!

Tinha que ser o House a tirar-me o sono.

Não, não andei a sonhar com a bengala dele, que se o gajo tem uma eu tenho duas, mas ontem, já deitadinha e preparada para lavar o cérebro com uns enlatados decentes, entra-me quarto dentro o Dr. House com um sorriso maquiavélico, um parafuso na mão e a debitar a frase que me fez dar voltas na cama - O iman da ressonância magnética tinha-lhe arrancado isto do corpo através da pele.
Com caraças!, não tinha pensado nisso. Eu, se precisar, não vou poder fazer uma ressonância magnética, a não ser que antes me tirem o ferro da perna e o respectivo conjunto de parafusos. Só por curiosidade, e num just in case informativo, saltei para o site do Hospital da Universidade de Coimbra e fui ver em que casos a Ressonância Magnética é o exame mais indicado. Unhas encravadas. Acho que só mesmo o diagnóstico de unhas encravadas dispensa uma ida ao túnel, mais de resto está em todos. Ou quase todos.
Estranho... Ninguém me avisou!

Pensem comigo e digam-me se estou errada, mas não seria normal o meu médico ter-me informado das limitações que poderão implicar o tratamento escolhido? Não me deveria ter dito que para o meu tipo de fractura poderia ser mais rapido e eficaz a colocação de um implante metálico mas que havia alternativas - o velhinho gesso...- e informar-me das vantagens e desvantagens das duas opções? Este não será mesmo um dever legal do médico? Provavelmente, muito provavelmente, o resultado final seria o mesmo, mas era eu, a dona da perna e do corpo, quem o escolhia.
Não tenho nem nunca tive grandes preocupações com a minha saúde e se nem nunca fiz um exame ao colesterol não me estou a imaginar a fazer ressonâncias magnéticas por dá cá aquela palha, mas estou danada. Acho que me sonegaram informação, acho que não tive possibilidade de escolha, acho que fui tratada como se fosse uma reles mortal nas mãos de um deus superior a quem compete tomar todas as decisões sobre a minha saúde ou, no caso, a falta dela. E acho que vou fazer barulho. Não muito, que o tipo até foi simpático e também não me serve de nada, mas na próxima consulta, e depois de lhe pedir a cartinha em inglês a informar os serviços alfandegários que o detector de metais não vai nunca parar de apitar - ah pois é, a malta já se informou e se não quero correr o risco de ficar em terra preciso mesmo de levar uma declaração clínica por escrito e em inglês - mas, dizia eu, depois da cartita do lado de cá vai ouvir-me um bom bocado. É que se os senhores doutores ainda não perceberam é bom que lhes expliquemos que quem manda somos nós e que a sorte dele, e o meu azar, é não vivermos nos Estados Unidos. Garanto que tinha a vida feita!

21 comentários:

sem-se-ver disse...

estou contigo.

obg pelo aviso.

sem-se-ver disse...

(e tens é que ser tu agora a avisar se te quiserem fazer uma RM)


(mas ha outras tecnicas de diagnostico)


(enfim)

Teresa disse...

Já me estive a informar, SSV. Antes de uma ressonância perguntam sempre, mas eu devia ter sido informada. Até para poder, caso seja necessário, informar um médico atenpadamente que a RM não é opção. Por acaso descobri isto mas se não tivesse acontecido poderia só o saber no dia e hora do exame. E, nessa altura, poderia já ser tarde demais.

shark disse...

E vá lá que eu expliquei-te como evitar a amputação...

shark disse...

(E fico feliz por saber que já só te restam os parafusos na perna para te preocuparem. Os outros já foram todos, né?)
:)

Teresa disse...

Gracinha, Tubarão. Eu aqui cheia de mau feitio e tu a fazeres-me rir...

calamity jane disse...

O House. Pois. Tb já me tirou o meu...

Eh pá, não é que tens TODA A RAZÃO?!!!

Marias disse...

Ortopedistas tssssss. Pergunta ao ZB o que pensa deles... (digo eu, sei lá, é só por serem de especialidades "concorrentes"). Mas olha que eles os Médicos (maiuscula), já se estão a habituar a ir a tribunal.

Mente Quase Perigosa disse...

Dos parafusos já não te safas portanto vou fazer a pergunta que se impõe (até porque sou um misto de auto-estima elevada com uma fulana efectivamente furiosa o que desculpa muito disparate):

O médico é giro ou não?

Teresa disse...

Gabs sempre achei que os ortopedistas eram uma espécie de serralheiros de batas brancas e já perguntei a opinião ao Z.
Sabes o meu pai dizia que antigamente os médicos vinham com uns nomes complicados a malta ficava impressionada e nem se atrevia a discutir. agora já se discute mas mesmo assim ainda há muita coisa a mudar.

Teresa disse...

Peixa, desde quando uma gaija diz que um gajo é simpático se ele for giro? eu só disse que ele era simpático, não foi?

(se fosse giro garanto que à conta disto me convidava para jantar...)

Teresa disse...

pois tenho, CJ, mas conheço suficientemente bem a nossa lei para saber que me fico com a razão...

gaija do norte disse...

porque vais deixar passar, chefa? ele foi simpático mas não te respeitou (nem a nenhum outro doente, pelos vistos...). tenho reparado que muitos clínicos consideram que todos nascemos licenciados em medicina (embora sejamos uns asnos por não nos ser permitido exercer) e nem lhes passa pela cabeça que não percebamos o que nos dizem ou as consequências das terapêuticas que nos aconselham (é mais uma imposição, pois se te passa pela cabeça contestar ameaçam com a alta e lá se vai qualquer espécie de tratamento...). reclama, chefa, mas reclama a sério. pede o livro amarelo.

Teresa disse...

Gaija reclamar a sério não seria no livro amarelo.
Isso da alta a que te referes é mesmo assim. Aconteceu a um tipo que estava no Hospital comigo - reclamou e foi mandado para casa à espera da cirurgia e o que ganhou foi uma infecção tremenda.

Tenho estado a pensar o que poderei fazer. Não resolvo nada, não altero em nada a minha situação - estou convencida que seria esta a solução escolhida por mim - mas gostava que este médico, e todos os outros colegas, porque ninguém naquele serviço tinha esta informação, tivessem consciência que são os doentes que têm de autorizar os actos médicos e que, para o poderem fazer, têm obrigatoriamente de ser informados de todas as opções.

gaija do norte disse...

ora aí é que está! sei que reclamar a sério não é no livro amarelo, mas seria uma advertência que faria, pelo menos esse médico, pensar que não estava a agir da forma correcta. o doente tem o direito de ser correctamente informado sobre o tratamento e consequências do mesmo. este procedimento salvaguarda o médico também, mas muitos esquecem-se e continuam a tratar quem a eles recorre como seres sem capacidade de opção.

Teresa disse...

Tens razão, gaija, mas acho pouco. Muito pouco. É toda uma atitude que devia ser mudada.
Antes de ser operada o anestesista falou comigo e decidiu, com o meu consentimento, optar por uma epidural. Já no bloco, e meia zonza, percebi que me estavam a preparar para uma anestesia geral. Claro que na altura queria era fechar os olhos, esquecer aquilo tudo e acordar depois, por isso nem reclamei. E gostava de saber quem teria coragem para num bloco operatório, onde nos sentimos completamente vulneráveis, começar a discutir com os médicos que vão ter a nossa vida nas mãos. Eu, por acaso, percebi o que ia acontecer, mas podia não perceber e lá estava outra vez - mais um acto médico sem consentimento meu. E mesmo este consentimento foi debaixo de uma enorme coacção como é lógico.

gaija do norte disse...

eu também acho pouco, muito pouco, mas a mudança de atitude tem que começar por algum lado.

Teresa disse...

Pois tem, mas sabes o que me chateia? esta é a prática corrente mas qualquer queixa minha irá prejudicar um único médico.

Há uns anos pedi informações ao Ministério da Educação sobre a legalidade de as editoras entregarem livros infantis às professoras primárias para por elas serem vendidos nas aulas. Sabia, porque a representante da editora me tinha dito, que era um procedimento normal em todo o país. Ela estava no Algarve mas já vinha desde o Norte.
expus ao ministério as minhas criticas e pedi um esclarecimento. Responderam a perguntar de que escola estava a falar concretamente.
O importante não era aquela escola, eram todas as escolas, mas a senha persecutória satisfaz-se com o sangue de um ou dois desgraçados e o resto fica tudo na mesma.

gaija do norte disse...

gaita, foi o médico que te atendeu! e a mudança de atitude começa aí. dos médicos porque percebem que os doentes não andam a dormir e dos doentes porque se começam a aperceber que, afinal, podem e devem ser tratados com respeito. um doente encontra-se sempre numa posição frágil, de fácil abuso.
claro que não me passaria pela cabeça esperar que (com o doente inconsciente) o comité de ética reunisse para decidir se uma intervenção deveria prosseguir da forma A ou B, mas uma explicação tem que ser dada.

Teresa disse...

Pois tem, gaija, e eu já estou em campo. tenho estado a ligar para os outros que lá estiveram comigo, doentes de outros médicos. Tal como previa também ninguém lhes perguntou nada.

Teresa disse...

Mas sabes, há tanta coisa para mudar. Desde que vim para casa, e entrei num semi desespero quando percebi as minhas limitações, tenho-me lembrado do Tiago. É que se as minhas limitações são temporárias as dele são definitivas. O Tiago tem 28 anos, teve um acidente de moto e 15 dias depois de estar internado decidiram amputar-lhe a perna. Parecia que estava a levar as coisas muito bem mas nem quero pensar como estará agora, quando chega a parte difícil. O estranho nisto tudo é que não houve o cuidado de lhe proporcionaram acompanhamento psicológico. Posso ser uma idiota mas acho que devia fazer parte, tal qual como a morfina para as dores e os antibióticos para as infecções.