Tenho uma mãe número dois. A mãe pintinha.
Era esta mãe que me atestava o mimo quando, nos tempos da faculdade, precisava de recarregar baterias. Na casa dela, por trás da minha, havia sempre uma cama para mim e o edredon de penas de pato, aquele, o bom, quentinho e fofinho, era meu sempre que lá ia, o que causava umas cenazitas de ciúmes a uma gaija que achava que por ser filha filha tinha direito a mais mimos que eu. E de manhã o pequeno almoço era-me servido na cama, com a tal gaija a bufar mais um bocadinho, e com um jeitinho dos meus até escolhia a ementa do almoço. Aboborava por ali uns dias, ficava satisfeita da vida, e voltava para a minha casa.
A mãe pintinha tem um marido. O pai pintinho. O pai pintinho também não deixava os créditos da casa por mãos alheias e era a ele a quem contávamos todas as parvoices que faziamos, e era a ele a quem recorriamos para dar uma ajudita em mais uma partida ao Pedro S., partidas essas que quase nos levaram a ser corridas daquela veneranda e austera faculdade.
Ainda hoje a mãe e o pai pintinnho são um bocadinho meus. E se agora já sabem que afinal as caixas de bolachas suiças não traziam cada vez menos camadas, mas sofriam sim um tratamento precoce nas nossas mãos, e se já sabem tudo o resto que sempre pensámos que não sabiam mas que estavam fartinhos de ver, e se já ouvimos pouco o famoso "meninas, pelo sim pelo não..." da mãe pintinha, continuam os dois a ter sempre os braços abertos, um sorriso na cara e um "ai minha filha..." na ponta da língua que nos faz sentir em casa e ter vontade de sentar no colo e abrir a alma.
São os dois bonitos, muito bonitos, parecem actores de cinema, como diz o pai pintinho, e continuam iguazinhos ao que eram quando os conheci. Têm vozes meigas, um sentido de humor que nos faz disparar gargalhadas quando queremos é lavar-nos em lágrimas e conseguem sem qualquer esforço fazer-nos sentir amados.
Eles são os outros avós das minhas filhas, eles são as pessoas mais doces que conheci na minha vida e eles são os eternos apaixonados. As marcas que a vida lhes deixou quase não se notam, que mesmo na tristeza não se esquecem nunca que quem por cá está tem o direito e o dever de ser feliz. E eles tudo fazem para distribuir felicidade às mãos cheias.
Fazem hoje 52 anos de casados. Parabéns é muito pouco para eles. Prefiro dizer-lhes Obrigada! Obrigada por tudo pintinhos. Foram, e vão ser sempre, um dos meus portos de abrigo, mesmo quando o meu barco teima em não ir a terra.
(se bem que em relação a vossa filha Tab@sco temos de ter mais uma conversa... ela sai a quem, assim cabra?)
Há 3 anos