Sem Penas - Woody Allen, 1972, Bertrand
SOBRE O AMOR
É melhor ser o amante ou o amado? Nenhuma das coisas, se o colesterol passar dos seicentos. Quando me refiro ao amor, refiro-me evidentemente, ao amor romântico - ao amor entre homem e mulher, e não entre mãe e filho, ou entre um rapazinho e o seu cão, ou entre dois criados de mesa.
O que é maravilhoso é que quando se está apaixonado se sente um impulso para cantar. Deve-se resistir a isso com todas as forças, e deve-se também ter o cuidado de evitar que o macho ardente "recite" as letras das canções. Ser-se amado é, evidentemente, diferente de ser admirado, pois pode ser-se admirado à distancia, mas para amar alguém verdadeiramente é preciso estar no mesmo quarto que a outra pessoa, agachado atrás dos cortinas.
Para se ser um amante verdadeiramente bom tem de se ser simultaneamente terno e forte. Forte até que ponto? Suponho que chega a ser capaz de levantar cerca de vinte quilos. É preciso não esquecer também que para o amante a amada é sempre a coisa mais bela que se pode imaginar, mesmo que um estranho a não possa distinguir de uma qualquer variedade de salmonídeos. A beleza está nos olhos do espectador. Se o espectador tiver falta de vista, pode perguntar à pessoa que estiver mais perto quais as raparigas mais giras. (Na verdade as mais giras são a maior parte das vezes as mais chatas, e é por isso que as pessoas acham que Deus não existe.)
"As alegrias do amor são breves" cantou o trovador, "mas as penas do amor são eternas". Isto quase chegou a ser uma canção de exito popular, mas a melodia era demasiado parecida com I´m a Yankee Doodle Dandy.