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OS CAVALEIROS DO ASFALTO

E claro que eu me lembrei disto, ontem, quando vi as noticias…

Quando era criança e depois teenager, sempre houve regras rígidas lá em casa. E as regras eram para se cumprir porque senão a burra ía para as couves, o caldo entornava-se e uma série de outros clichés que se traduziam no facto de eu ou a minha irmã estarmos flixadas (segundo terminologia tubaronistica).

Uma das regras mais inflexíveis era que as meninas não andavam de mota. Não andavam em cima de uma mota nem que ela fosse conduzida por Deus itself.

Agora digam-me lá que teenager ou vintinha nunca teve uma paixão de caixão à cova por um bad boy vestido de cabedal e montado numa mota? Pois… Eu também não conheço nenhuma…

Portanto, também eu fui acometida por tal vírus e está a andar de mota (o que eu me ri agora com este trocadilho. Sou mesmo parva…). O primeiro ano em que o Vírus me desafiou para irmos à Concentração de Faro, eu pensei: “Mente Maria, isto vai dar caca…” Mas lá está, também nenhuma teenager ou vintinha alguma vez primou pelo bom senso e lá inventei eu um fim-de-semana com amigas e desarvorei.

Penso que foram 4. Agora não tenho bem a certeza, mas acho que foram 4, as revistas da especialidade que publicaram fotografias minhas. Na sua grande maioria, ou em cima de uma mota ou ao lado de uma mota, como convém. E eu pensei: “Ufas, Mente, ainda bem que ninguém lá em casa vê revistas de motas, senão estavas lixada!”

E, efectivamente, ainda que com uma ou duas aparições nos telejornais, não fui apanhada.

No 2º ano, a lição estava aprendida. Há que fugir de tudo quanto seja câmara fotográfica e de filmar. E lá fui eu outra vez. A mana incumbida de controlar os telejornais e mal visse qualquer reportagem sobre motas, mudar o canal ainda que isso lhe valesse alguns raspanetes.

Nada houve a assinalar o fim-de-semana todo. Nem filmagens nem aparições nem passagens. Eu estava safa.

Na segunda-feira, quando entrei na faculdade, ao passar pela AE, sou brindada com o epíteto de 'estrela'. Perante, o meu ar de quem não percebia nada, é-me mostrado o Diário de Noticias – quando o DN tinha quase o tamanho de um edredão. E lá, a ocupar 2/3 da capa gigantesca, estava eu, sentada - com uns calções curtos, um top preto e umas botas pelo joelho, ou seja, uma versão ligeiramente S&M de mim – numa Virago 1100, azul turquesa.

O pouco dinheiro que tinha, foi investido a comprar todos os DN’s dos quiosques em volta da casa e se alguém viu, ninguém me disse nada.

Nesse dia, percebi que teria sempre que ser honesta. É que o poema que se segue, deve ter sido escrito a pensar que um dia eu existiria…

Ao desconcerto do Mundo

Os bons vi sempre passar
No Mundo graves tormentos;
E pera mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado.
Assim que, só pera mim,
Anda o Mundo concertado.

(Luís de Camões)