Acho que sempre tive caixas na minha vida. Caixas que me eram absolutamente essenciais.
Deve ter começado pela caixa dos brinquedos, mas da que primeira que me lembro bem é da caixa dos tesouros. A seguir veio a caixa das tintas que andava junta com a caixa das pedras. Passei para a caixa das missangas, a caixa de costura, a caixa das cartas dele, as caixas da carne assada cheias ao fim de semana e vazias à sexta feira, as caixas dos livros, a caixa dos biberões e depois a vida em caixas durante uns anos.
Sempre gostei das minhas caixas, apesar de ter acreditado que eram só experiências necessárias para um dia, com esta idade, ter as duas caixas que fariam de mim, finalmente, uma senhora. Seriam as rainhas das caixas. Aquelas. As caixas que todas as mulheres de classe têm. As que vêm nos livros e se vêem nos filmes.
A caixa da maquilhagem e a caixa das jóias.
Era um sonho lindo, um sonho de encantar, mas um sonho...
A caixa da minha vida, a caixa sem a qual não consigo viver, a caixa que me é fundamental, não é nenhuma dessas.
Foi-me oferecida há uns anos e assim que tirei o laço e abri o papel colorido saltei de alegria. Passei o resto do jantar a olhar para ela, a abri-la, a olhar deliciada para o interior e a pensar em tudo o que ia poder fazer.
A minha caixa é uma caixa de ferramentas. Mas não é linda de morrer?
Há 3 anos